Introdução:
Durante os últimos anos temos vindo a observar com alguma frequência nos nossos pomares de limoeiros, carências nutricionais ligadas ao zinco e ao manganês, às quais vamos fazer algumas considerações.
Este tipo de carências podem estar relacionadas com a sensibilidade de alguns porta-enxertos e variedades, com as características físico-químicas do solo, com problemas de drenagem, utilização de águas de fraca qualidade e adubações excessivas.
A carência de zinco pode estar ligada com as aplicações excessivas com fósforo e cálcio no solo, que podem precipitar os sais de zinco presentes no mesmo.
A carência de manganês resulta da imobilização pelos sais de cálcio e cobre, e pelo contrário a sua absorção é estimulada pela presença do potássio.
Geralmente estas duas carências andam associadas nos pomares de limoeiros e nos citrinos em geral.
O zinco é um elemento essencial no desenvolvimento e crescimento vegetativo normais das plantas e tem uma influência enorme a nível da floração e do vingamento dos frutos.
Estimula o crescimento precoce e o engrossamento dos jovens frutos.
Aumenta a produção das fitohormonas (auxinas), que estimulam a multiplicação e a divisão celular.
Dinâmica do Zinco no solo:
O zinco encontra-se como ião Zn++ na solução do solo em pequeníssimas quantidades.
É absorvido pelas plantas, predominantemente, como catião bivalente Zn++, a níveis de pH baixos e como monovalente, ZnOH+, a pH mais elevados (Manuel Augusti, 2000).
A absorção de zinco diminui à medida que aumenta o pH do solo.
O transporte na planta decorre essencialmente via xilema, sendo a mobilidade via floema bastante reduzida (Smith e tal, 1987).
O Zinco é essencial:
- Na síntese das hormonas de crescimento
- No processo fotossintético
- Na indução floral
- Na melhoria do engrossamento, da quantidade de sumo e maior concentração de sólidos solúveis.
Sintomatologia de carência
O zinco sendo um elemento pouco móvel na planta, aparece de preferência nas partes terminais e por isso nas folhas mais jovens.
- As folhas ficam pequenas, mais estreitas e pontiagudas (figura 1).
- Desfoliações precoces.
- Paragem parcial do crescimento da planta, com ramos pequenos, curtos e fracos.
- Frutos pequenos, mais pálidos e de inferior qualidade.
Condições de aparecimento da carência em zinco:
- Em solos ácidos, arenosos e pobres em zinco.
- Em solos em que o zinco se mantém inassimilável.
- Em solos de pH elevado.
- Em solos ricos em Fósforo e Potássio.
- Em Primaveras frias e húmidas.
Nota: Nos pomares de citrinos da região do Norte, deve-se dar atenção a possíveis situações de carência, porque existem nesta região condições propícias ao aparecimento de teores baixos de zinco a nível do solo, como sejam os solos de origem granítica, de reacção ácida, de textura ligeira e de intensa lixiviação.
Como corrigir a carência de zinco
- Realizar pulverizações com sulfato de zinco, na rebentação da Primavera, quando as folhas novas alcancem 2/3 do crescimento normal, à dose de 200 g / 100 litros.
- Em casos mais graves pode haver necessidade de repetir o tratamento no Verão, de modo a garantir as necessidades das novas rebentações neste período do ano.
Nota: Actualmente existem no mercado um grande número de fitonutrientes, que contêm zinco, associadas a outras moléculas, que o tornam mais assimilável e com maior mobilidade na planta.
MANGANÊS
O manganês intervém na formação da clorofila, no processo fotossintético e na redução dos nitratos.
O manganês pode aparecer em carência nas seguintes situações:
- Solos muito ácidos com lixiviação.
- Solos de pH elevado e sujeitos a calagens muito elevadas.
- Solos pobres em matéria orgânica.
- Falta de fósforo em solos alcalinos (pH elevado).
Sintomas da carência de manganês:
A sintomatologia desta carência é muito semelhante à do zinco, distinguindo-se desta última pelas cloroses internervuras não atingirem as margens das folhas. Com a seguinte sintomatologia:
- Cloroses entre as nervuras das folhas mais novas, embora possam surgir também nas folhas mais velhas (figura 2).
- Desfoliações e queda de frutos em situações graves de carência.
Há diferenças entre estas duas carências, que é importante assinalar, para que não surjam confusões entre elas, embora tenham um sintoma em comum, que é a falta de clorofila e a fraca mobilidade na planta.
Como e quando aplicar o Manganês?
A aplicação ao solo revela-se pouco eficaz, considerando-se as pulverizações foliares na Primavera, como o melhor meio de tratamento:
- Na dose de 200 gramas de sulfato de manganês por 100 litros de água.
- Nota I: em casos em que esta carência persistir no pomar é importante repetir o tratamento no Verão.
- Nota II: como é frequente encontrar as carências de Zinco e Manganês associadas na Primavera, pode ser interessante o tratamento foliar com a mistura destes dois nutrientes.
- Nota III: Actualmente existem no mercado um grande número de fitonutrientes, que contêm manganês + zinco, associadas a outras moléculas, que os tornam mais assimiláveis e com maior mobilidade na planta.
A análise foliar é uma ferramenta muito segura, para diagnosticar e medir os níveis de carência de Zn e de Mn.
Os níveis foliares de Zn e Mn são um indicador muito utilizado para avaliar o estado nutritivo dos pomares e para confirmar a sintomatologia destas carências.
Na avaliação destas carências é importante ter em conta as diferentes relações entre o zinco e outros nutrientes (em especial o fósforo e o cálcio) e o manganês com outros ( cálcio e cobre).
Valores de referência para interpretação da análise foliar, segundo Laboratório Químico Agrícola Rebelo da Silva:
Limoeiro
- Folhas do ano de raminhos terminais não frutíferos inseridos à mesma altura da copa, com 4 a 7 meses de idade.
Micronutrientes (mg/kg)
Autoria: António Pedro Tavares Guerra
- Engenheiro Técnico Agrário
- Licenciado em Engenharia Agro-Pecuária
- Formador e Consultor Técnico em Nutrição Vegetal
- *Escrito ao abrigo do anterior Acordo Ortográfico
Artigo completa publicado na edição impressa de agosto/setembro 2020.