Batata-doce cultivar Lira
O consumo de batata-doce está a aumentar em todo o mundo e também em Portugal, devido às suas características organoléticas e nutricionais.
Autoria: José Grego1 e Maria Elvira Ferreira2
- 1Instituto Politécnico de Santarém/Escola Superior Agrária (IPS/ESA)
- 2Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P. (INIAV)
O aumento da procura e as excelentes condições edafoclimáticas que o país possui para a cultura, têm induzido o alargamento das áreas de produção, no continente, por toda a faixa litoral e também no Ribatejo, e ainda nos arquipélagos dos Açores e Madeira, estimando-se que já atinjam cerca de 1500 ha.
A cultivar regional Lira, desde 2009 reconhecida com a Indicação Geográfica Protegida (IGP) ‘Batata-doce de Aljezur’, com área de produção nos concelhos de Odemira e Aljezur, tem tido quebras de produtividade nos últimos anos, devido, principalmente a elevados índices de contaminação viral e mesmo a doenças do foro sistémico e vascular, que ao longo do tempo não têm sido debeladas nos processos de multiplicação utilizados pelos produtores e viveiristas.
Multiplicação in vitro e in vivo
Uma das soluções para este problema e para a sustentabilidade da cultura é o desenvolvimento de tecnologias de multiplicação de plantas que permitam ultrapassar os atuais constrangimentos, nomeadamente a obtenção de plantas isentas de vírus e outras doenças por cultura in vitro e in vivo.
Efetuada em laboratório, esta técnica de produção de plantas, consiste em retirar uma porção de ápice caulinar (tecido jovem meristemático) de uma planta aparentemente sã, e colocá-la num meio nutritivo, em condições de temperatura, luz e humidade controladas, até que se desenvolva uma plântula. As condições de cultura meristemática ajudam a produzir plantas isentas de vírus.
As plântulas regeneradas e enraizadas, são colocadas em vasos com substrato de lã de rocha, numa estufa de aclimatação, com condições de controlo de entrada de insetos vetores de vírus, como por exemplo as moscas-brancas e os afídeos. A avaliação do estado sanitário das plantas deve ser feita periodicamente e eliminadas todas as plantas suspeitas de estarem doentes. O sucesso destas etapas depende dos cuidados de manipulação do material, do controlo ambiental e do controlo fitossanitário.
As plantas regeneradas in vitro são denominadas como “Plantas F0”, mas ainda não estão aptas para serem multiplicadas em viveiros, pois o seu potencial produtivo é muito baixo, tendo de ser aclimatadas. Para tal, passam por um processo de multiplicação vegetativa em condições controladas de temperatura, luz e humidade, dando origem a “Plantas F1”. Nesta fase de multiplicação as plantas são já conduzidas em condições in vivo, usando vasos com substratos adequados.
As plantas F1 são material vegetal vigoroso e limpo de doenças e pragas, capazes de constituir viveiros de ar livre (no solo) ou em estufas abertas (no solo ou em vaso), onde o material vegetal produzido se designa “Plantas F2”, e se destina aos agricultores para produção final.
Plantas F2, obtidas na Escola Superior Agrária de Santarém, foram distribuídas pelos produtores parceiros do projeto, que as multiplicaram nos seus viveiros e plantaram lado a lado com as plantas obtidas de forma tradicional, ou seja, com estacas caulinares de raízes obtidas no ano anterior e conservadas em boas condições de temperatura e humidade.
Boas práticas agrícolas
No viveiro e em todo o ciclo cultural, devem ser seguidas as boas práticas agrícolas, para a sustentabilidade da cultura do ponto de vista económico e ambiental, tendo o consumidor a garantia de um produto de qualidade.
A divulgação de Boas Práticas Agrícolas para a cultura da batata-doce tem sido uma das tarefas do projeto +BDMIRA ‘Produção Competitiva e Sustentável no Perímetro de Rega do Mira: técnicas culturais inovadoras e dinâmica organizacional’ que já publicou 26 Boletins Técnicos que podem ser consultados e descarregados em: https://projects.iniav.pt/BDMIRA index.php/divulgacao/desdobraveis. Mais informação sobre as atividades do projeto e os resultados até agora alcançados, podem ser obtidas no sítio do projeto em https://projects.iniav.pt/BDMIRA.
Artigo publicado em completo na edição de novembro 2020.