A História
A videira é cultivada em quase todo o mundo, ocupando uma superfície de 7,3 milhões de ha (OIV, 2022). Na América do Norte e na Ásia encontram-se espécies silvestres com menos aptidão qualitativa para o fabrico de vinho, mas teve, no passado, interesse como uva de mesa.Com a importação de material vitícola dos Estados Unidos da América para Europa, no decorrer do século XIX, com ele vieram também, de forma despercebida, agentes nocivos para a videira europeia. Em 1851, foi detetado o oídio em Portugal (Uncinula necator) e, na década de 1880, esse inseto prejudicial chamado filoxera (Dactylosphaira vitifolii), seguido do míldio (Plasmopara viticola) (Böhm et al., 2011). Enquanto o inseto foi combatido, com a utilização de material vitícola de espécies americanas resistentes à filoxera como porta-enxerto, os fungos continuam, até hoje, a ser controlados através de excessiva luta química, com mais de 10 tratamentos anuais, em algumas regiões (Butiuc-Keul et al., 2023).
A população humana quadruplicou em menos de um século (Ritchie et al., 2023), com efeitos climáticos nefastos. Reconheceu-se que as técnicas agrícolas profissionais eram extremamente prejudiciais para os ecossistemas naturais e para a biodiversidade da fauna e da flora. A expansão das monoculturas, as emissões de CO2, com o aproveitar das energias fósseis pela mecanização, e a poluição causada pelos pesticidas, de repente assumem uma nova perspetiva ecológica, dando origem a um novo paradigma ambiental. Ao constatar a ausência de medidas concisas em defesa do ambiente natural, a juventude está a revoltar-se por temer pelo seu próprio futuro saudável, reagindo, assim, de forma emocional. Politicamente, apareceu um conflito entre a lógica profissional e a ideologia doutrinária ambientalista (Böhm et al., 2019).
Com a alteração climática em algumas zonas vitícolas, Portugal já se encontra hoje numa condição limiar para a produção sustentável de vinho de qualidade, sem ter possibilidade de recorrer a material vitícola de zona mais quente. No caso da viticultura, o conhecimento das fontes de resistência dos principais agentes nocivos, é tido, cada vez mais, como fundamental para a manutenção de uma vitivinicultura sustentável. (Toepfer, 2011). Contudo, no final do século XIX, a utilização de materiais vitícolas das cultivares americanas e asiáticas, seja como produtor direto, seja por hibridação com castas Europeias, deixou degradar a qualidade do vinho na Europa. Na década de 50, foi proibida a utilização de híbridos, com a opção por fitofármacos cada vez mais eficazes e pela superioridade qualitativa das castas tradicionais Vitis vinifera. (Balay, 2019).
Mas hoje, em Portugal, coligações profissionais com uma influência predominante na formação da opinião pública, agarradas ao preconceito do passado com os híbridos de 1ª e 2ª geração, conseguem defender de forma dogmática as castas tradicionais (…).
→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo, edição de outubro 2023.
Autoria: Jorge Böhm, David Tavares: Viveiros PLANSEL/ JBP