Doença da Categoria A dos Bovinos
Neste artigo abordamos uma outra doença que afeta os bovinos a dermatose nodular contagiosa. Tal como a febre aftosa esta doença está categorizada pela Lei da Saúde Animal (LSA) como “A”, ou seja, normalmente são doenças que não estão presentes na União Europeia (EU) mas quando ocorrem os Serviços Veterinários do estados-membros devem adotar de imediato medidas de erradicação contidas nos seus planos de contingência.
Seguindo a mesma metodologia utilizado no nosso primeiro artigo (edição de abril da Voz do Campo) sobre a febre aftosa iremos abordar aspetos sobre o vírus, característica e vias de transmissão, a situação mundial, a prevenção e as medidas de controlo e erradicação da dermatose nodular contagiosa (DNC).
Introdução
A DNC é uma doença viral que afeta os bovinos e algumas espécies de ruminantes selvagens caracterizada por febre, nódulos dolorosos que afetam toda a pele, o tecido subcutâneo e por vezes a musculatura, por inchaços, inflamação dos gânglios linfáticos superficiais e por claudicação. Esta doença tem grande impacto económica, pois pode causar redução temporária na produção de leite, esterilidade temporária ou permanente em touros, danos nas peles e, ocasionalmente, a morte dos animais. Esta doença pode ser transmitida por insectos hematófagos e consequentemente a sua disseminação pode ser muito rápida e atingir grandes áreas.
Também é uma doença de notificação obrigatória para a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), para a União Europeia e a nível nacional.
1. Agente causal
A Dermatose Nodular Contagiosa é causada por um vírus DNA de cadeia dupla. É também um vírus pox da família Poxviridae e do género Capripoxvirus, similar aos vírus da varíola ovina e caprina.
O vírus da dermatose nodular contagiosa (VDNC) sobrevive à congelação e descongelação e quando está protegido de material orgânico (ver tabela n.º 1). No entanto é suscetível à luz solar á temperatura de 55.ºC durante 2 horas e a 65.ºC durante 30 minutos.
O VDNC é sensível a vários desinfetantes como o éter (20 %), clorofórmio, formalina (1 %) sulfato dodecil de sódio, fenol enol (2 % – 15 minutos), hipoclorito de sódio (2-3 %) Compostos iodados e Virkon® (2 %) e amónio quaternário (0,5 %).
2. Características da doença e vias de transmissão
Os hospedeiros da DNC são todos os bovinos e o Búfalo-asiático. No entanto as raças leiteiras de bovinos são mais suscetíveis que as outras raças de bovinos. Outras espécies de animais selvagens também são afetadas, como a girafa (Giraffa), impala (Aepyceros melampus) e órix árabe (Oryx leucoryx).
A DNC pode ser transmitida através da picada de insetos hematófagos que são considerados os vetores desta doença. Esta transmissão é mecânica e não existem evidências que o vírus sofra replicação ou seja transmitido entre vetores.
A DNC pode ser transmitida por vias diretas ou indiretas como assinalado na figura abaixo:
O período de incubação desta doença é longo, cerca de 2 a 5 semanas e apenas 45% dos animais afetados apresentam sinais clínicos. A DNC apresenta uma mortalidade de 10%. Não existe estado de portador para a DNC, mas podem ocorrer infeções assintomáticas (silenciosas).
Os sinais da DNC nos animais afetados são os seguintes:
– Inicialmente ocorre hipertrofia (inchaço) dos linfonodos superficiais que são facilmente detetados à palpação;
– Febre alta (>41. OC) ocorre 4 a 7 dias pós infeção e consequentemente uma descida abrupta da produção leiteira;
– Depressão, anorexia e relutância em mover;
– Lacrimejamento e secreção nasal são usuais antes do aparecimento de outros sinais. À medida que a doença progride as descargas nasais tornam-se purulentas;
– Aparecimento de nódulos cutâneos 48 horas após o aparecimento da febre. Os locais mais comuns são a cabeça, pescoço, úbere, períneo e genitália. Nos casos severos o corpo inteiro dos animais pode apresentar nódulos e mesmos nos órgãos internos do trato digestivo e respiratório;
– Podem ocorrer lesões nas membranas mucosas do olho, acompanhadas de secreção mucopurulenta, que podem levar à cegueira.
3. Situação mundial da Doença Nodular Contagiosa
Esta doença foi relatada pela primeira vez na Zâmbia em 1929. Gradualmente disseminou-se pelos países africanos e nos anos 80 o vírus da DNC era considerado endêmico na África ao sul do deserto do Saara. Em 1988 a DNC propagou-se até ao Médio Oriente e nos anos seguintes verificaram-se ocorrências periódicas desta doença em países da Ásia e da Europa de Leste (2014 – 2018). Recentemente, tem-se disseminado pela maioria dos países asiáticos, incluindo o extremo oriente asiático e em 2013 pela primeira vez foram notificados focos na Líbia (…).
→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de junho 2024
Autoria: Patrícia Clemente – Direção Geral de Alimentação e Veterinária, Direção de Serviços de Proteção Animal, Divisão de Epidemiologia e Saúde Animal