A escassez de uma coisa geralmente não indica que ela não seja necessária ou que esteja desatualizada. Geralmente até se aplica quando essa coisa é altamente valiosa e, por isso, procurada precisamente por ser necessária e inovadora. A mão de obra na agricultura será sempre importante, apesar da tendência crescente da automatização, do emprego de sistemas de irrigação inteligentes, das técnicas de agricultura de precisão, enfim, de muitas outras inovações que vamos conhecendo. Mas sim, o termo “mão de obra” pode ficar desatualizado caso falte a especialização adaptada à realidade.

PAULO GOMES – DIRETOR DA REVISTA VOZ DO CAMPO

Felizmente, os trabalhos agrícolas são hoje cada vez mais suportados por máquinas e tecnologia de precisão, o que nos leva a pensar e acreditar numa maior predisposição dos jovens qualificados que, como se compreende, procuram desde o aumento da eficiência e produtividade até à capacitação, passando “obrigatoriamente” pela sustentabilidade. Mas, enquanto a introdução de mais tecnologia na agricultura não resolve o problema da falta de mão de obra, sobretudo especializada, vai-se recorrendo à importação para alívio imediato, uma vez que os trabalhadores estrangeiros podem oferecer uma solução rápida no preenchimento de lacunas e garantir a execução das atividades agrícolas sem interrupções significativas.

Sabemos que a agricultura é frequentemente caracterizada por picos sazonais de procura por mão de obra. Os programas de trabalhadores temporários podem fornecer a flexibilidade necessária para lidar com essas flutuações sazonais, permitindo que as explorações agrícolas programem as suas operações conforme necessário. É, no entanto, importante referir que a importação de mão de obra envolve complexas questões legais, pois é necessário desde logo garantir que os trabalhadores estrangeiros tenham vistos apropriados e que as suas condições de trabalho sejam regulamentadas para evitar abusos e até mesmo exploração dos mesmos. Uma consequência direta da disponibilidade de mão de obra é já hoje a determinação do tipo de culturas a considerar numa exploração agrícola, condicionando a decisão inicial sobre quais as culturas a plantar face à gestão contínua das operações agrícolas inerentes.

Portanto, vamos continuar a apostar na inovação tecnológica para que o seu potencial possa atrair mais jovens para a agricultura, transformando a imagem tradicional do setor e tornando-o mais atraente, dinâmico e lucrativo. A tecnologia pode, de fato, desempenhar esse papel e pode realmente influenciar a decisão dos jovens de se envolverem neste setor pela modernização da imagem da agricultura, pelo fascínio da inovação, pelas oportunidades da engenharia e agora com a mais-valia da inteligência artificial, mas, claro, sem esquecer a base que passa pelas infraestruturas e conectividade. Assim, caminharemos, sem dúvida, para uma melhoria na qualidade de vida no campo, para bem de um setor que, recorde-se, constitui a principal fonte de alimentos para a crescente população mundial.

REVISTA VOZ DO CAMPO EDITORIAL DA EDIÇÃO DE AGOSTO/SETEMBRO 2024

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Edição de Agosto/Setembro 2024