Nos últimos anos tem se verificado uma preocupação crescente com o meio ambiente, e em particular com o impacto que a agricultura tem nos ecossistemas, e mais concretamente na Biodiversidade das explorações.

Hoje mais do que nunca, as pressões que existem para a adoção de práticas mais sustentáveis conduzem à necessidade de alterações em algumas técnicas agrícolas, principalmente nos tratamentos químicos. E o facto é, que nos últimos anos, verificou-se uma saída acentuada de substâncias ativas das listas de homologação, e o aparecimento de novas substâncias ativas é muito mais reduzido. Como consequência, o controlo químico das pragas das culturas como o conhecemos, aos poucos, vai se alterando.

Assim, é importante pensar em alternativas que possam ajudar no controlo das pragas, e é neste contexto que o conceito de Biodiversidade Funcional pode tornar-se parte da solução, por ser a componente da Biodiversidade que pode ser usada em benefício da cultura, através da Limitação Natural, onde a fauna auxiliar desempenha um papel fundamental.

Para que a fauna auxiliar se estabeleça nas explorações agrícolas é fundamental proporcionar-lhe as condições básicas para o seu desenvolvimento e proliferação, e isto pode ser feito através da seleção das Infra-Estruturas Ecológicas (IEEs). Obviamente que esta seleção terá de ser efetuada com base, por exemplo, nas características morfológicas da fauna auxiliar, nomeadamente verificar a compatibilidade entre o tipo de flor disponível e as armaduras bucais dos auxiliares.

Uma das IEEs importantes é o coberto vegetal nas entrelinhas das culturas, que da forma como estão dispostos no terreno, podem ser considerados como Corredores Ecológicos, e por norma, chegam a representar cerca de 80% da Biodiversidade de uma exploração.

Perante isto, a pergunta que se pode colocar é:

“Se na maioria das explorações agrícolas existe a cultura com coberto vegetal na entrelinha, porque não existe um controlo eficaz na população da praga?”

A verdade é que os cobertos vegetais existentes nas nossas vinhas, muitas vezes têm baixa riqueza específica, ou seja, apresentam poucas espécies de plantas, e como tal pouco interesse para a fauna auxiliar. É muito importante conhecer as espécies de flora que mais utilidade têm para o auxiliar completar todo o seu ciclo de vida e tornar mais eficiente a sua função.

Fundamental é também, criar nas explorações agrícolas Áreas de Compensação Ecológica, áreas estas escolhidas criteriosamente, de forma a não serem afetadas por eventuais tratamentos químicos, e que no fundo servem de reservatórios à biodiversidade funcional. Na nossa opinião, todo o tema vai culminar num novo conceito, o conceito da Proteção Biológica da Conservação, que não é mais do que a manipulação das IEEs de acordo com as características da fauna auxiliar, conferindo-lhes um valor ecológico muito importante para o controlo de pragas das culturas, atribuindo à exploração agrícola, um alto valor de Biodiversidade.

→ Leia este e outros artigos na Revista Voz do Campo: edição de agosto/setembro 2024


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