As algas têm vasta aplicação na sociedade, influenciando o modo de vida das comunidades desde tempos pré-históricos.
No Império Romano, eram usadas para estrumar as terras sendo levadas a grandes distâncias da costa para fertilizar os campos (1). Em Portugal, em várias regiões da costa, existia a prática da apanha do moliço e de outras biomassas como o sargaço, que consistia num conjunto de algas de vários géneros que, após a apanha, eram secas na praia e posteriormente espalhadas nos campos agrícolas. Esta prática, baseada em conhecimento empírico, tinha como objetivo fertilizar os campos, permitindo aos agricultores melhorar o rendimento das culturas (2).
Contudo, a partir dos anos 40 do século XX, os compostos químicos que justificavam as propriedades fertilizantes das algas na agricultura começaram a ser identificados. Esta evolução do conhecimento, alinhada com os vários fatores socioeconómicos que marcaram a época do pós-guerra, levaram a que estas práticas caíssem em desuso, em função de uma necessidade de aumentar a produção, que consequentemente levou à intensificação da agricultura, à introdução da mecanização, bem como ao advento da produção em massa de fertilizantes de síntese química (1). Desde então, e particularmente face aos desafios mais recentes, a conjugação do desenvolvimento do conhecimento científico sobre o valor das algas como fonte de nutrientes e compostos bioativos e a enorme pressão no setor da produção agrícola para substituir estes mesmos fertilizantes, bioestimulantes e pesticidas de síntese química por alternativas mais sustentáveis e amigas do ambiente, tem ao levado à expansão do setor das algas na agricultura.
Enquanto no passado o uso das algas se restringia sobretudo às macroalgas, existe um universo por explorar no campo dos organismos fotossintéticos unicelulares, ou associações complexas em colónias com estruturas maiores, que constituem as microalgas (Figura 1). Neste momento existem 175 280 espécies de algas identificadas, mas estima-se que existam ainda, pelo menos 1 milhão de espécies por identificar. Em Portugal estão identificadas 3 645 espécies de micro e macroalgas (3). Tendo em conta a nossa localização geográfica e território marítimo que é considerado o 3º maior da Europa com 1 727 408 km2 (4), Portugal apresenta um enorme potencial para a prospeção de novas espécies que podem ter aplicações tanto na agricultura como em outros setores.
Na última década houve um aumento exponencial do estudo das propriedades bioestimulantes e biopesticidas das algas, algumas das quais já com sucesso e em comercialização, como as espécies Chlorella vulgaris e Arthrospira platensis (syn. Spirulina platensis) que são as microalgas com maior produção nos mercados globais (5). No campo dos bioestimulantes, uma macroalga utilizada em várias culturas é o Ascophyllum nodosum, com efeitos demonstrados em melhorar o rendimento bem como a performance fisiológica em condições de stress (6). No que toca às microalgas, há várias espécies com efeitos bioestimulantes documentados e que estão a ser produzidas em grandes quantidades em fotobiorreatores por serem facilmente obtidas com recurso às atuais técnicas de produção e comercializadas por empresas especializadas (7). Em diversas culturas, particularmente em hortícolas, como a alface (Figura 2), tomate e pimentos, a aplicação de microalgas leva a uma melhor germinação, um aumento de peso fresco e da produtividade destas culturas (8).
Comparativamente com os bioestimulantes, a utilização de algas como biopesticidas na agricultura está pouco estudada, existindo no mercado um número muito reduzido de produtos à base de algas, para esse efeito. Contudo, com a identificação de novas estirpes/espécies e com o desenvolvimento contínuo de novas técnicas de cultura, a descoberta de uma extensa diversidade de compostos com potencial aplicação em biocontrolo é cada vez maior (9-12) (…).
→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de junho 2024
Autoria: Miguel Claro¹,², Rui Figueiras¹,², Sandra Correia¹, João Navalho³ e Cristina Azevedo¹
¹ InnovPlantProtect, Estrada de Gil Vaz, 7350-478 Elvas
² Estes autores contribuíram igualmente
³ Necton, S.A., Belamandil, 8700-152 Olhão