De uma forma genérica, pode dizer-se que as variedades tradicionais resultam de um processo de seleção dirigido pelas populações utilizadoras dos recursos vegetais, tendo como base a variabilidade genética das espécies oferecida pela natureza.
Estes processos repetem-se ao longo de gerações no sentido de uma adaptação cada vez mais apurada dos genótipos às condições naturais do local em que são cultivados, quer a nível de solo quer a nível de clima, de forma a maximizar a capacidade produtiva ou a tirar partido de caraterísticas de interesse, como por exemplo o sabor, a resistência à seca ou a determinada praga ou doença. Assim, associado a este processo há uma ancestralidade e um saber acumulado pelas comunidades rurais, transmitido de geração em geração, muitas vezes pouco documentado, mas assente naquilo a que podemos chamar “experimentação empírica” que produz resultados muito eficazes, originando material vegetal que responde em termos produtivos, quer quantitativa como qualitativamente, aos sistemas de agricultura tradicional, nos quais se encontra integrado.
Estes recursos genéticos estão na base da obtenção dos chamados produtos endógenos, que se caraterizam pela origem ligada a um território específico, processo de produção com características peculiares, como sazonalidade, formas de produção ou transformação particulares, entre outros, que lhes conferem atributos especiais que os tornam únicos.
As alterações dos sistemas agrícolas com aumento da intensificação, a necessidade de incremento das produções e o desenvolvimento de programas de melhoramento levaram a uma maior massificação na utilização do material vegetal, aumentando o risco de erosão dos recursos genéticos tradicionais e diminuindo da biodiversidade agrícola. Por outro lado, a mudança no modo de vida das populações, cada vez mais concentradas em zonas urbanas, tornaram inviáveis muitas das formas tradicionais de exploração da terra, baseadas em sistemas de proximidade, exigentes em mão de obra, nos quais as variedades tradicionais se inserem.
Desta forma, este material vegetal encontra-se cada vez mais ameaçado e vulnerável, tornando premente a sua conservação. Neste sentido, algumas entidades nacionais têm contribuído para preservar e conservar este património genético vegetal, em particular de variedades de hortícolas, gramíneas, leguminosas e fruteiras. Segundo os dados do Plano Nacional para os Recursos Genéticos Vegetais, de 2015, entre estas instituições destaca-se o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), do qual faz parte o Banco Português de Germoplasma Vegetal (BPGV), sediado em Braga, com um acervo de mais de 44 000 acessos, pertencentes a mais de 100 espécies vegetais, conservados sob a forma de sementes, cultura de tecidos e material de propagação vegetativa. As ex-Direções Regionais de Agricultura e Pescas (DRAPs), atualmente integradas nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDRs), particularmente as do Norte, Centro e Algarve detêm também várias coleções, na sua maioria de fruteiras. Assim, na CCDR Centro, Pólo de Viseu, está localizada a principal coleção de macieira. Vidago, CCDR Norte, alberga a coleção mais importante de pereira.
A CCDR Algarve mantém coleções únicas de citrinos e alfarrobeira, além de outras espécies como amendoeira, figueira, nespereira, romãzeira, macieira e vinha, que totalizam cerca de 900 acessos (…).
→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo – edição de outubro 2024, disponível no formato digital e impresso.
Autoria: Luís Filipe Cabrita e António Marreiros
Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, Agricultura e Pescas, Patacão, Faro