Entrevista a José Gomes Laranjo, Secretário-Geral da Associação Portuguesa da Castanha – REFCAST

A Associação Portuguesa da Castanha – RefCast – visa especialmente a defesa dos interesses socioprofissionais e económicos dos diferentes agentes intervenientes na fileira da castanha e a sua representação a nível nacional e internacional.

Às portas de mais uma campanha, José Gomes Laranjo, secretário-geral da Associação, realça em entrevista as expetativas para ver o resultado dos tratamentos aos soutos promovidos pela RefCast, e que atingiram alguns milhares de hectares. Os resultados atuais deixam muito boas indicações quanto à redução da podridão castanha da castanha, um fungo que tem causado o seu impacto, ao ponto de na colheita de 2023 ter provocado uma quebra de cerca de 40%.

Quais são os principais objetivos da RefCast?

Criar ligação entre os agentes da fileira, desde a produção até à indústria, ajudando a delinear estratégias de crescimento e desenvolvimento e simultaneamente constituindo-se como uma janela da fileira para o exterior facilitando a comunicação com os media e servindo de interlocutor da fileira junto das entidades de governo a nível nacional e internacional. É nessa ótica que nomeadamente representamos a fileira portuguesa na EuroCastanea, que é a Rede Europeia da Castanha. É igualmente enquanto organização representativa do setor a nível nacional, que lideramos alguns processos importantes para a fileira como o Biovespa, a implementação de medidas para o controlo da podridão castanha da castanha, dois grupos operacionais (o ClimCast e o ValorCast). Salientar ainda a colaboração ativa na resolução do problema que surgiu há alguns anos relativo à exportação de castanha para o Brasil. Por fim, referir que anualmente mostramos a castanha portuguesa nas duas mais importantes feiras internacionais realizadas na Europa (Fruit Logística e Fruit Attraction). Organizamos de 3 em 3 anos o Simpósio Nacional da Castanha em parceria com a SCAP.

Quem são os seus associados e de que forma têm evoluído?

A ligação entre os agentes da fileira só é possível graças ao facto da RefCast funcionar como um cluster alojando na sua massa de associados associações de produtores e produtores individuais, cooperativas, empresas ligadas à indústria, empresas de consultadoria agronómica, instituições de Ensino Superior com relevância na área de investigação ligada ao setor, os Municípios e Comunidades Intermunicipais. Começámos como um consórcio em 2008 para promovermos um projeto de reforço da fileira do castanheiro, continuamos em 2011 como rede de cooperação e convertemo-nos em associação em 2014. Depois de uma fase inicial de adesão mais intensiva, continuamos a ter adesões anuais correspondendo entre 5 e 10% da massa associativa.

As variedades regionais continuam a predominar?

As variedades regionais continuam a ser e serão predominantes na produção portuguesa. A qualidade alcançada por elas, graças a um aturado trabalho de seleção efetuada pelos agricultores ao longo de séculos. É também esta qualidade que faz com que a castanha portuguesa tenha imensa procura nos mercados internacionais, quer para o consumo em fresco quer para indústria. No entanto, convém referir que desde há cerca de 10 anos o setor está a fazer uma transição gradual nas novas plantações e replantações com a introdução de porta-enxertos híbridos compatíveis com as nossas variedades. A utilização destes porta-enxertos híbridos permite assim que as nossas variedades continuem a ser usadas, em lugar de outras variedades híbridas criadas para dar resposta a problemas como a doença da tinta.

Quais são as principais regiões de Portugal responsáveis pela produção de castanha? Falamos de que produções?

A produção está organizada em 4 DOP’s. A maior é a DOP da Terra Fria com cerca de 25 000 hectares estando localizada sobretudo em Bragança, Vinhais, Macedo de Cavaleiros e Vimioso. Aqui produz-se principalmente Longal, em cerca de 40-50%, seguindo a Boaventura com importante expressão. Segue a DOP da Padrela, com cerca de 7000 hectares principalmente concentrados em Valpaços, 80% da qual dedicada à produção da Judia. Na zona das Beiras temos a DOP Castanha dos Soutos da Lapa, ocupando uma área de 6000 hectares, ocupados em mais de 95% com Martaínha. A quarta DOP é a da Castanha de Portalegre e Marvão com cerca de 500 hectares, dedicados à produção de Bária e Colarinha.

Que desafios os produtores de castanha têm enfrentado nos últimos anos, especialmente em relação às condições climáticas e pragas?

Há um desafio recorrente desde o século passado que é a doença da tinta, que continua a provocar a seca de milhares de árvores anualmente, pois as variedades estão enxertadas em porta-enxertos de Castanea sativa (conhecido como castanheiro europeu, ou pelos agricultores como castanheiros nacionais) que não são resistentes a esta doença.

O setor enfrentou em 2014 à entrada da praga da vespa das galhas do castanheiro. Graças a uma excelente coordenação entre entidades oficiais e o setor, foi possível controlar esta praga sem que tivesse havido uma quebra acentuada na produção nacional. Em 2019, foram registados os primeiros indícios da presença de uma nova podridão castanha na castanha, a Gnomoniopsis castaneae, tendo vindo a crescer o seu impacto, ao ponto de na colheita de 2023 ter provocado uma quebra de cerca de 40%.

Temos depois as consequências das alterações climáticas, tal como nas outras produções agrícolas. Estas estão a criar um ambiente cada vez mais quente e seco para a produção de castanha, sendo responsável por decréscimos acentuados de produção em alguns anos como em 2021 e 2022.

Nesse sentido, qual tem sido o papel da RefCast?

Que medidas estão a ser tomadas para mitigar esses efeitos? A RefCast tem assumido um papel como veículo de informação técnica para os seus associados, recordando-lhes todos os anos o que podem fazer nos seus soutos. Para além disso, está disponível para assumir a liderança de processos sempre que assim seja entendido como positivo. Foi o caso do Biovespa, protocolo realizado com os Municípios portugueses, visando a luta biológica contra a vespa das galhas do castanheiro. É o caso atualmente em curso do controlo do fungo da podridão castanha da castanha em que contribuiu ativamente para a implementação de medidas de controlo decorrente de um protocolo europeu produzido no seio da Eurocastanea.

Como a REFCAST tem abordado as questões de sustentabilidade e a preservação dos soutos em Portugal?

Contribuindo com a difusão de conhecimento visando uma modernização do modelo de produção de castanha. Para isso a proximidade entre produção e investigação tem sido absolutamente decisiva. Acresce ainda a coordenação de dois Grupos Operacionais que permitiram trabalhar com mais aprofundamento as questões do clima e do pós-colheita. A promoção da produtividade é um fator decisivo num quadro de globalização dos mercados. A interação com as entidades oficiais alertando-as para as fragilidades do setor tem ajudado a que apareçam novas respostas (…).

→ Leia a entrevista completa na Revista Voz do Campo edição de outubro 2024, disponível no formato digital e impresso.

 

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