Em entrevista à Voz do Campo, Gonçalo Morais Tristão, Presidente do COTR – Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio, falou-nos sobre o X Congresso Nacional de Rega e Drenagem — um evento essencial para o setor agrícola, com debates sobre gestão da água, inovação, alterações climáticas e comunicação. Destacou também a nova Agenda de Investigação e Inovação para o Regadio, crucial para o desenvolvimento sustentável do setor.
O X Congresso Nacional de Rega e Drenagem – o grande fórum nacional sobre inovação e tecnologia do setor irá decorrer já nos próximos dias 13, 14 e 15 de novembro, em Alcobaça. Organizado pelo COTR – Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio, com o apoio da Câmara Municipal de Alcobaça, da Associação de Beneficiários de Cela, da Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça, da APDEA, da APRH, do COTHN, da DGADR, da FENAREG, do INIAV, do Politécnico de Coimbra, da SCAP e da Universidade de Coimbra, o Congresso acontece num momento particularmente relevante para a fileira do regadio e da rega, dada a necessidade cada vez mais premente de acelerar a modernização do uso inteligente e sustentável da água no setor agrícola.
Quais são os objetivos do X Congresso Nacional de Rega e Drenagem?
O COTR organiza periodicamente este tipo de Congressos para proporcionar o debate sobre as matérias que, em cada momento, nos parecem mais importantes discutir para o regadio em geral. Julgamos que é muito útil esse debate, sobretudo ao congregarmos à nossa volta pessoas que habitualmente refletem sobre os temas e que têm perspetivas diferentes entre si. Por outro lado, nestes congressos, o COTR proporciona a apresentação e divulgação de diversos projetos elaborados pela comunidade científica sobre os mais variados assuntos relacionados com o regadio e a rega das culturas.
Que temas vão estar em debate? E porquê?
Na edição deste ano, por nos parecerem atuais, vamos levar a debate a gestão da água, a inovação e a tecnologia no regadio, a adaptação às alterações climáticas e, finalmente, um tema transversal a todo o sector agrícola, que é a comunicação para o exterior. É por demais evidente a atualidade do tema gestão da água, tendo em conta a intenção deste Governo de implementar uma nova estratégia para a água através da iniciativa “Água que Une”. A importância do debate dos temas da inovação e da tecnologia prende-se com a necessidade do setor do regadio e da rega continuar no caminho da eficiência e da sustentabilidade.
Sobre a adaptação às alterações climáticas, há sempre mais a dizer e consideramos fundamental ouvir as experiências das culturas da região Oeste. Finalmente, o tema da comunicação do setor agrícola. Precisamos de perceber como comunicar, de modo a passarmos uma imagem correta para a opinião pública.
Quais são as novidades e destaques que os participantes podem esperar do Congresso?
Estamos certos de que, no decurso dos debates, ouviremos sempre novidades e, sobretudo, muito interessantes perspetivas, atendendo à qualidade dos oradores e outros intervenientes. Como entidade organizadora do Congresso, destacamos a apresentação da Agenda de Investigação e Inovação para o Regadio, que será uma novidade.
Do programa faz também parte a apresentação da Agenda de Investigação e Inovação para o Regadio. Qual a necessidade da criação desta Agenda?
A criação deste tipo de Agenda é uma das missões dos centros de competências. O COTR, como Centro de Competências para o Regadio Nacional, tem a obrigação de elaborar esta Agenda que identifica as prioridades e necessidades de investigação e inovação no sector, e que se constitua como uma referência para a orientação de políticas públicas, nomeadamente no domínio da construção das medidas destinadas a promover o uso eficiente da água na rega das culturas e, em geral, a competitividade da agricultura. Considerou-se que somente a partir do conhecimento, da investigação e inovação, da tecnologia e da formação entre todos os agentes envolvidos será possível alcançar um modelo de crescimento mais equilibrado e sustentável do regadio. Neste sentido, a Agenda pretende delinear também um conjunto de estratégias no setor do regadio que configurem mudanças estratégicas que permitam, por um lado, a resolução de problemas e de conflitos e, por outro, identificar e divulgar boas práticas a implementar e outras já implementadas. É importante salientar que a elaboração desta Agenda não foi um trabalho exclusivo do corpo técnico do COTR. Achou-se fundamental envolver diversos parceiros e stakeholders, com competências na área da água e do regadio, de modo a enriquecer o documento. Além disso, não se pretende que esta Agenda seja um documento estanque, queremos com este lançamento criar uma dinâmica de modo que, regularmente, possamos receber novos contributos e ir sempre atualizando a Agenda. Por outro lado, queremos evitar não só a produção de um documento que esteja parado no tempo, com uma visão datada, como também de um documento que não seja verificado no que respeita ao cumprimento das suas metas e objetivos. Achamos fundamental que a Agenda seja revisitada com regularidade, para que possamos perceber o que está a ser cumprido e o que necessita de algum impulso.
Quais são as grandes linhas de ação da Agenda?
Fundamentalmente, a Agenda será estruturada em cinco Eixos principais ou Áreas Temáticas: Disponibilidade e Qualidade dos Recursos Hídricos; Inovação das Infraestruturas de Rega; Sustentabilidade e Rentabilidade do Regadio; Tecnologias e Sistemas de Informação de Suporte ao Regadio; e Formação, Comunicação e Divulgação, esta última transversal a todas as outras. E em cada área temática definem-se algumas ações a desenvolver. Para dar exemplos do tipo de ações que são preconizadas, podemos referir, na área temática da Disponibilidade e Qualidade dos Recursos Hídricos, a promoção de projetos que estudem e viabilizem opções culturais de acordo com as disponibilidades hídricas (variedades adaptadas ao défice hídrico; estratégias de rega deficitária, necessidades diferenciadas de rega durante o ciclo produtivo, …); na área temática da Inovação das Infraestruturas de Rega, promoção da aplicação de novos materiais, soluções técnicas ao nível do perímetro de rega que permitirão melhorias nas condições de armazenamento e no transporte de água; no caso do tema da Sustentabilidade e Rentabilidade do Regadio, testar e definir estratégias de Rega Deficitária Controlada (RDC) por cultura e a determinar as produtividades médias da água, tendo em conta também outros fatores (poda), numa lógica de gestão de risco; em relação à área temática das Tecnologias e Sistemas de Informação de Suporte ao Regadio, estudar e definir os limiares das necessidades hídricas das culturas por região e promover o estudo da adaptação de novas culturas/variedades com aptidão ao regadio; finalmente, no que diz respeito ao tema da Formação, Comunicação e Divulgação, a Agenda sugere desenvolver uma estratégia de comunicação para transmitir uma nova imagem e valor do regadio assente nas externalidades positivas, como a paisagem, a produção de alimentos, a biodiversidade, a proteção do meio rural, o turismo, a gastronomia e os costumes.
Este ano o COTR assinala 25 anos. O que significa este marco?
Para nós, COTR, comemorar 25 anos é assinalar o que consideramos ter sido um projeto de sucesso. Nestes 25 anos, houve fases em que se tornou mais complexo conseguir cumprir a missão para o qual o centro foi constituído, mas julgamos que esses momentos estão ultrapassados e que o COTR vive momentos de consolidação operacional e financeira. Com esta estabilidade, resolvemos mesmo iniciar um processo de reflexão para encararmos o futuro, pelo menos, nos próximos 25 anos. Queremos estar ao serviço e à disposição do setor agrícola, queremos mais proximidade e consideramos que o COTR, atendendo à sua vasta experiência e conhecimento adquiridos, pode continuar a ter um papel fundamental no setor do regadio em Portugal.
Quais são as grandes prioridades do COTR?
Neste momento, a prioridade é o desenho da Agenda de Investigação e Inovação para o Regadio e a sua implementação, e o desempenho da missão do COTR como centro de competências para o regadio, mais próximo dos agricultores e regantes.
Que mensagem gostaria de deixar ao setor?
O setor deve continuar o caminho que tem desenvolvido ao longo dos anos no sentido da modernização dos sistemas e dos equipamentos e da eficiência do uso da água, sem esquecer que a eficiência tem de estar intimamente ligada à produtividade das culturas. Não podemos tratar de eficiência apenas no sentido de poupança de água. Pelo contrário, temos de conseguir ganhos de produtividade, eventualmente, sem reduzir o consumo de água. Este posicionamento é crucial, tendo em conta a necessidade de uma cada vez maior produção de alimentos e o objetivo de assegurarmos a segurança alimentar do País.
X Congresso Nacional de Rega e Drenagem
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