A agricultura é uma atividade económica imprescindível no arquipélago dos Açores, desempenhando um papel crucial na sustentação das ilhas e na fixação das suas populações.

Em entrevista à nossa reportagem, Jorge Rita, presidente da Associação Agrícola de São Miguel, sublinha que, embora a agricultura açoriana seja um setor dinâmico, muitos dos desafios antigos permanecem, como por exemplo a desburocratização. “A desburocratização, é uma promessa constante que ainda não se concretizou plenamente”, comenta o presidente. A par disso, estão também os quadros comunitários de apoio e o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “Em 2025 o PRR chega ao fim, e a sua execução é muito baixa (…). Precisamos de uma maior agilidade na operacionalização dos novos quadros comunitários de apoio para que os projetos de investimento possam avançar”, explica Jorge Rita. A modernização das explorações agrícolas é vista como fundamental para a competitividade do setor.

Um dos maiores desafios enfrentados pelos agricultores açorianos são os altos custos de transporte.

Nos Açores, a agricultura tem um peso inigualável quando comparada ao continente, desempenhando um papel vital na coesão económica e territorial. “A fixação das pessoas nas ilhas e a salvaguarda das questões ambientais são extremamente importantes. A imagem ambiental dos Açores é extraordinária, e precisamos de garantir que a nossa produção agrícola esteja alinhada com essa reputação”, destaca o presidente. Um dos maiores desafios enfrentados pelos agricultores açorianos são os altos custos de transporte. “Os nossos transportes são os mais caros da Europa, o que estrangula a competitividade das empresas e dos empresários agrícolas”, aponta Jorge Rita. Esta realidade dificulta a exportação e a competitividade dos produtos açorianos no mercado.

A marca Açores é sinónimo de produtos de excelência, desde os reconhecidos lacticínios, ao ananás, à carne ou ao chá. “Os nossos queijos são conhecidos e apreciados em Portugal e no estrangeiro. Além disso, temos uma carne de qualidade excecional. No entanto, falta-nos uma estratégia comercial eficaz para valorizar esses produtos no mercado”, afirma Jorge Rita.

Para Jorge Rita, a valorização dos produtos açorianos depende de uma estratégia de marketing robusta e consistente. “Os produtos dos Açores não podem ser vendidos a preços baixos, pois isso desvaloriza a qualidade que possuem. Precisamos de um trabalho de marketing persistente para garantir que os consumidores reconheçam e paguem um preço justo por essa qualidade”, explica. A promoção dos produtos açorianos também exige um apoio mais efetivo do governo regional. “O governo regional dos Açores deve estar mais envolvido na promoção dos nossos produtos, especialmente em eventos de grande visibilidade. A Associação Agrícola de São Miguel tem assumido essa responsabilidade, mas precisamos de um esforço conjunto”, conclui Jorge Rita.

→ Leia este e outros artigos na Revista Voz do Campo edição de outubro 2024, disponível no formato digital e impresso.