José Muñoz-Rojas – jmrojas@uevora.pt
• Professor Auxiliar e Investigador. Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Ordenamento – Universidade de Évora.
• Gestor do Projeto SUSTAINOLIVE em Portugal.
As paisagens rurais do Alentejo (Portugal) intensificaram-se rapidamente nos últimos 15 anos. Este processo foi impulsionado principalmente pelo aumento da disponibilidade de água para rega e facilitada por um processo de mudança bastante abrupta no sentido da financeirização e globalização da agricultura. Esta rápida mudança nos modelos de produção e comércio, passando dos sistemas extensivos tradicionais para os intensivos, tem sido acompanhada por mudanças na posse da terra, na homogeneização da paisagem, e dos modelos de negócio e estrutura social agrícola. Além disso, esta mudança só está a ser possível após um forte apoio por parte dos setores público, financeiro e agroindustrial, dos produtores, e até mesmo do público em geral. Os olivais refletem fielmente estas mudanças.
Na esfera pública, tais mudanças são com frequência publicitadas alternativamente como uma ameaça ambiental e social, ou como uma oportunidade inigualável para o desenvolvimento territorial sustentável
Num clima tal de polarização e consciencialização social, falta uma reflexão mais pausada e equilibrada sobre como estes processos podem afetar de forma objetiva a necessária transição para a sustentabilidade das paisagens olivícolas na região. Para atingir estes objetivos, desde a academia tendemos a adotar conceitos e quadros de investigação com uma forte carrega conceitual ou teórica. Na combinação destas ideias teóricas, junto da experiência adquirida ao longo de múltiplos projetos de investigação, implementando tarefas de monitorização campo para examinar águas, solos, culturas e biodiversidade, tornou-se evidente que a sustentabilidade dos sistemas agrícolas precisa de ser considerada como um processo complexo, não linear e, portanto, também amplamente incerto, e que depende de condições locais muito específicas.
Para testar estas ideias, no contexto de um projeto Europeu, SUSTAINOLIVE (sustainolive.eu) identificamos, conjuntamente com mais de 600 olivicultores e atores sociais, de tudo o Mediterrâneo, uma série de práticas denominadas genericamente Soluções Tecnológicas Sustentáveis (STS) que foram testadas e monitorizadas durante 4 anos em 6 dos principais países oleicultores do mundo, nomeadamente; Espanha, Itália, Grécia, Portugal, Tunísia e Marrocos.
No caso de Portugal, examinamos em detalhe os efeitos destas práticas em 25 parcelas de olival localizadas em 15 explorações do Alentejo, representando uma combinação de olival extensivo, intensivo e superintensivo, em regimes de gestão convencional, integrada, orgânica e biodinâmica. Para cada uma destas parcelas identificamos a presença/ ausência de uma série de Soluções Tecnológicas Sustentáveis (STS), incluindo culturas de cobertura vegetal (cc), a conservação de estruturas paisagísticas (gl), pastoreio com gado (gl), fertilização orgânica (de), tratamentos químicos alternativos (ct), diversidade de idades das árvores (ar) e presença de figuras legais de proteção da natureza e da paisagem (pf).
Com base nestes STS, 10 destas parcelas foram consideradas como tendo práticas de gestão STS e 15 como não STS. Para facilitar a determinação de uma base comparativa confiável para obter um retrato dos padrões atuais de sustentabilidade, calculamos o chamado Padrão de Sustentabilidade (ISU). Para tal, atribuímos um peso relativo a cada um destes fatores (I), e aplicámos a seguinte fórmula para calcular cada parcela de olival:
ISU= Icc + If + Igl + A*Iof + B*Ict + C* Iar + Ipf
Sendo A, B e C os fatores de ponderação, a ser determinados individualmente para cada contexto geográfico através de discussão com especialistas e profissionais locais e regionais no contexto desta avaliação (…).
→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo – edição de novembro 2024, disponível no formato impresso e digital.