A agricultura é um dos pilares que sustenta o aumento incessante ano após ano da população mundial, pois para além de servir como fonte de alimento para pessoas e animais, e origem de matérias-primas que posteriormente são transformadas no setor secundário em produtos que ajudam a satisfazer às suas próprias necessidades.

Na agricultura, a produção de vinho é uma das práticas mais importantes da península, pois é a cultura mais importante de Espanha e uma das mais populares em Portugal (Pordata, 2024; Statista, 2024). Além disso, em termos económicos, a exportação de vinho representa respetivamente 0,23% e 0,42% do PIB de Espanha e Portugal, respetivamente, o que evidencia a sua importância (Fynsa, 2022). No entanto, para que este setor tenha um crescimento sustentável e esteja alinhado com políticas europeias cada vez mais rigorosas, é muito importante estar atento à área ambiental. A produção de vinho é responsável por aproximadamente 0,3% das emissões globais de gases com efeito de estufa (Rugani et al., 2013), quantificando que são gerados por garrafa de 0,75 L de vinho cerca de 2,2 ± 1,34 kg CO2 e considerando todas as atividades envolvidas no processo produtivo, desde as atividades agrícolas centradas na produção de uva, passando pela fase de adega e engarrafamento até à gestão final dos resíduos gerados e fim de vida, bem como a variabilidade das condições tecnológicas, geográficas e vitícolas e a incerteza que tal implica (Rugani et al., 2013), mas nem todas as fases contribuem igualmente para a emissão de gases com efeito de estufa. As operações de campo são responsáveis por cerca de 27% da pegada de carbono (Pinto da Silva e Esteves da Silva, 2022), embora esta faixa seja muito variável dependendo da intensidade das práticas realizadas e do uso de agroquímicos. Consequentemente, deve ser dada especial atenção à etapa agrícola na procura de estratégias que contribuam para a redução da pegada de carbono de um produto tão representativo.

Neste sentido, a nova regulamentação agrícola europeia propõe estratégias focadas na redução do uso de pesticidas químicos em 50% no ano 2030, bem como na reparação de ecossistemas danificados em 20% (EC, 2020).

Por outro lado, as operações realizadas na adega são responsáveis por aproximadamente 23% da pegada de carbono e a fase de engarrafamento por 50% (Pinto da Silva e Esteves da Silva, 2022).

Esta crescente preocupação com o impacto ambiental exige uma análise detalhada de todo o ciclo de vida do vinho, desde o cultivo até à jarra que chega à mesa do consumidor. A análise do ciclo de vida (ACV) permite identificar as etapas do campo e da produção que mais contribuem para a pegada ambiental, como a utilização de máquinas agrícolas, o consumo de combustíveis, a aplicação de agroquímicos ou o engarrafamento e acondicionamento. De referir que, para além da pegada de carbono, a produção de vinho pode gerar outros impactos ambientais como a eutrofização das águas, a degradação dos solos ou a perda de biodiversidade. A identificação de pontos críticos (“hot spots”) no ciclo de vida do vinho é essencial para implementar medidas ou estratégias de melhoria que otimizem o processo produtivo, reduzindo o seu impacto ambiental e gerando poupanças económicas. Estas medidas de melhoria podem incluir a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis, tais como a redução da utilização de pesticidas e fertilizantes, a melhoria da eficiência hídrica e a utilização de energias renováveis na adega. Podem ainda ser implementadas medidas para reduzir a quantidade de resíduos gerados e melhorar a sua gestão, como a utilização de embalagens mais leves e recicláveis.

O grupo de investigação Biogroup (Group of Environmental Biotechnology) da USC (biogroup.usc.es) está a colocar muito interesse nisso, com vários projetos que tem o setor vitivinícola como foco do estudo.

Deste ponto de vista ambiental, estão a ser analisadas estratégias como a utilização de água regenerada em vez de água doce, pois contribuiria para a redução do uso de fertilizantes devido ao seu rico conteúdo em nutrientes essenciais ao solo (…).

→ Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo edição de novembro 2024, disponível no formato digital e impresso.

Autoria: Adrián Agraso, Pablo Anteno, Sara Lago-Olveira & Sara González-García*
CRETUS, Department of Chemical Engineering, Universidade de Santiago de Compostela, 15705 Santiago de Compostela, Spain.
*sara.gonzalez@usc.es