Vivemos uma época marcada pela crescente escassez hídrica, associada à irregularidade das estações e fenómenos climáticos extremos, como chuvas torrenciais que comprometem a infiltração da água no solo, colocando a gestão da água no centro das preocupações agrícolas tornando-se num tema central, atraindo o interesse de técnicos e da sociedade em geral.
O cultivo de Abacate, particularmente no Algarve e Alentejo, tem gerado debate sobre a sua sustentabilidade hídrica, levantando questões sobre o elevado consumo de água, algo especialmente relevante em regiões secas de Portugal, onde a pressão sobre os recursos hídricos é evidente.
A pressão hídrica no contexto atual
O conceito de sustentabilidade hídrica, utilização racional da água preservando-a para o futuro, é crucial num cenário onde as mudanças climáticas estão a aumentar a pressão sobre os recursos naturais. A agricultura precisa adotar técnicas que minimizem o desperdício e garantam a viabilidade económica.
O consumo de água para a produção de Abacate varia entre 5.500 a 7.500 m3 por hectare, com uma média de 600 litros de água por quilograma de fruto, dependendo de fatores como o solo e o clima. Comparativamente, os citrinos apresentam necessidades hídricas semelhantes, com um consumo anual de 6.000 a 7.500 m3/ha, de acordo com o Plano de Gestão de Região Hidrográfica do Algarve (2016- 2021) da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Em contraste, a produção de amêndoas procura volumes significativamente maiores, que podem chegar de 10 mil a 15 mil litros de água por quilograma, valores bastante elevados e pouco conhecidos pelo público.
Num país com recursos hídricos cada vez mais limitados, onde a precipitação é escassa, a desinformação sobre o consumo da cultura do Abacate levanta preocupações e tem vindo a ser criticado por representar uma ameaça ao equilíbrio ecológico, sobretudo em regiões com precipitação limitada. Tal facto exige medidas eficientes e eficazes de gestão da água tais como a rega gota-a-gota, Rega Deficitária Controlada ou até mesmo a reutilização de águas residuais tratadas.
Soluções tecnológicas para a gestão da água
A rega gota-a-gota, que fornece água diretamente às raízes das plantas, tem-se destacado como uma solução eficaz para a cultura do abacate. Aliada ao uso de sondas de humidade do solo e tensiómetros, esta técnica reduz perdas por evaporação e percolação, permitindo uma rega mais precisa e ajustada às necessidades reais da planta. Estudos recentes no Algarve, integrados no Plano Regional de Eficiência Hídrica, demonstram que a adoção destas tecnologias pode reduzir o consumo de água em até 30%, mantendo ou melhorando a qualidade da produção sem a comprometer.
O avanço tecnológico na agricultura de precisão, com o uso de sensores de humidade e estações meteorológicas, tem permitido um acompanhamento rigoroso das necessidades hídricas das plantas em tempo real. Estas tecnologias são essenciais para responder à escassez de água, proporcionando uma gestão mais eficiente dos recursos disponíveis.
A Rega Deficitária Controlada como alternativa sustentável
A Rega Deficitária Controlada (RDC) é uma prática agrícola promissora, que visa otimizar o uso de água, aplicando-a de forma seletiva e em quantidades reduzidas em fases menos sensíveis do ciclo da planta, sem comprometer o rendimento e a qualidade das culturas. No contexto português, onde a escassez de recursos hídricos é uma preocupação crescente, a RDC tem-se revelado uma ferramenta essencial surgindo como uma alternativa sustentável, permitindo aos produtores reduzir o consumo de água. No cultivo do abacate, esta técnica é aplicada durante períodos menos sensíveis da planta, como a maturação do fruto, fase em que a planta é menos sensível à falta de água. A rega é diminuída, induzindo um ligeiro stress hídrico na planta, o que, além de poupar água melhora a qualidade dos frutos, aumentando a concentração de sólidos solúveis, que se reflete em melhores características de sabor e conservação nos frutos (…).
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Artigo de opinião de Joana Filipa Coelho Lourenço – Agrónoma
*Frequenta o Mestrado em Engenharia do Ambiente
*Trabalha atualmente na LogoFruits