É na Serra da Padrela, localizada no concelho de Valpaços, que se encontra a maior mancha contínua de castanheiros da Península Ibérica. Aqui localiza-se o berço da Judia, a variedade de castanha que predomina nesta região, representando mais de 80% da produção total.

A Judia, é uma castanha de forma achatada, considerada por isso marron, apresentando um brilho intenso sobre uma cor castanho-tijolo. Tem elevado poder de conservação e aptidão, principalmente para consumo em fresco, devido ao seu grande calibre, fácil descasque e sabor bastante adocicado, que se vai intensificando à medida que passam os dias após a colheita. É cultivada por aproximadamente 2000 produtores, em mais de 7000 hectares de soutos, assumindo-se a castanha como principal motor da economia desta região.

No ano de 2023 a castanha sofreu perdas muito acentuadas, devido à podridão castanha da castanha, causada pelo fungo Gnomoniopsis smithogilvyi. Com efeito, o que seria uma produção normal em quantidade, foi reduzida em cerca de 50%, criando-se assim uma emergência sanitária para 2024, de modo a evitar perdas semelhantes.

Trata-se de um fungo endofítico que pode estar presente mesmo nas castanhas que não apresentam sinais visíveis de podridão castanha (Figura 1), manifestando-se apenas quando se reúnem as condições ideais ao seu desenvolvimento, nomeadamente, temperaturas superiores a 5ºC, que provoca a ativação do fungo e o apodrecimento da castanha e a sua mumificação. Desta forma o comportamento do fungo dificulta a identificação das castanhas infetadas durante o processo de rastreamento, pois é frequente o aspeto exterior da castanha manter a sua integridade, e os sinais só serem visíveis quando a castanha é cortada, existindo o risco de chegarem ao consumidor final castanhas sem qualidade para serem consumidas.

A possibilidade de quebra de confiança do consumidor final no produto “Castanha Judia” tem sido motivo de elevada preocupação na região. Sendo imperativa a necessidade de adoção de medidas de minimização do impacto desta doença, foi estabelecido um protocolo de colaboração entre a empresa

Agromontenegro e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), para a aplicação e a monitorização de um tratamento experimental, testado previamente noutros países europeus e com resultados muito satisfatórios (no âmbito da Eurocastanea).

Este tratamento consta de 3 etapas:

Etapas 1 e 2 – pulverização dos castanheiros com um bioestimulante, Fungicrops® (constituído por 1% sulfato magnésio, 0,02% molibdato de sódio e 1% de sulfato de zinco) durante a floração das flores femininas (início e fim);
Etapa 3 – colheita, após a qual os produtores deverão entregar de imediato a castanha na indústria, ou conservá-la a temperatura 1 a 5 ºC.

No âmbito deste protocolo foi criado um grupo focal de 90 produtores de castanha oriundos do concelho, os quais foram acompanhados tecnicamente na realização dos tratamentos. Neste grupo de produtores, cerca de 57% são agricultores a tempo inteiro, com média de idades de 60 anos, cultivando uma área aproximada de 800 hectares de soutos. Os primeiros resultados obtidos após a realização das pulverizações, com base na percentagem de jovens ouriços infetados, revelaram resultados muito satisfatórios. Assim, 66,7% dos soutos apresentavam percentagem de infeção inferior a 25%.

→ Leia este e outros artigos completos na Revista Voz do Campo edição de novembro 2024, disponível no formato digital e impresso.

Autoria: Sónia Andrade¹ , Ana Gomes¹,², André Pereira³, Ana Sampaio¹,² e José Gomes-Laranjo¹,²

¹ Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Quinta de Prados, Vila Real.
² CITAB – Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas
³ Agromentenegro, S.A. São João da Corveira, Valpaços
soniaandrade10@hotmail.com