Na Lourinhã a produção de aguardente vínica tem-se vindo a manter constante nos últimos anos, rondando os 20 000 litros de produção anuais. Já o enoturismo tem registado o maior crescimento, que tem na Aguardente DOC Lourinhã a razão para a curiosidade pela degustação deste produto, considerado como um ex-libris identitário do território.
Entrevista a João Serra, Vereador Da Câmara Municipal Da Lourinhã
Atualmente o que representa o setor agrícola no concelho?
Na Lourinhã e de acordo com dados do INE, de 2022, tínhamos 637 empresas do setor da Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Pesca, representando 16% do total das 3965 registadas e o 2º maior volume de negócios do concelho, com cerca de 306 milhões de euros. Em 2021 empregavam 12,5% da população, com um salário médio mensal de 1338€.
Em termos agrícolas, como caracteriza o concelho?
A Lourinhã localiza-se na Região do Oeste, a cerca de sessenta e cinco quilómetros de Lisboa, aproximadamente, ao centro da orla marítima continental portuguesa. Grande parte da sua área agrícola é dominada pelo setor hortofrutícola, com maior predominância das hortícolas, a produção de abóboras, pomares e vinhas. O nosso concelho é favorecido por um clima com temperaturas médias anuais a rondar os dezasseis graus, beneficiando, simultaneamente, de um clima oceânico e mediterrâneo. As vinhas cultivadas nesta região têm a predominância de castas brancas. Pela sua exposição e solos, permitem que as suas uvas deem uma vinificação de baixo teor alcoólico e elevada acidez, obtendo-se, a partir desse vinho destilado, uma Aguardente de grande qualidade.
A Lourinhã conhecida também pela única região do país a beneficiar de uma “Região Demarcada” de aguardente, como está hoje a produção no município?
A produção de aguardente vínica tem-se vindo a manter constante nos últimos anos, rondando os 20 000 litros de produção de aguardente anuais. O maior crescimento é, sem dúvida, no Enoturismo, que tem na Aguardente DOC Lourinhã a razão para a curiosidade pela degustação deste produto, considerado por nós como um ex-libris identitário do nosso território.
Qual a sua expressão económica?
Em Portugal, as exportações da aguardente representaram cerca de 12 milhões de euros em 2020. Na região da Lourinhã este valor ainda é residual, porque não é um produto de massas, mas premium. É entendimento deste Executivo Municipal manter e dar condições aos produtores para continuarem a produzir uvas, vinho e Aguardente com as exigências regulamentares, previstas no Decreto-Lei nº34/92. Exemplos, são o projeto de uma nova destilaria, o Centro de Interpretação da Aguardente, a aquisição das antigas instalações do Instituto da Vinha e do Vinho e a promoção da Quinzena Gastronómica, associada ao 1º DOC Fest.
Quais as vantagens da Denominação de Origem “Aguardente DOC Lourinhã”?
Efetivamente, o nosso país é caracterizado pela produção de vinhos com Denominação de Origem Protegida, mas somos a única região reconhecida para a produção de aguardentes vínicas de enorme qualidade. Nesse sentido, a Lourinhã foi reconhecida, a 7 de março de 1992, como um território adequado para a produção de elevada qualidade da Aguardente, com a publicação do Decreto-Lei nº34/92. Este decreto estabeleceu a “Região Demarcada da Aguardente Vínica de Qualidade com Denominação de Origem Controlada “Lourinhã”, constituindo-se como a primeira e única região demarcada do país, somente para produção de aguardentes. É uma das três regiões com denominação de origem no território europeu, em conjunto com as regiões francesas de Armagnac e Cognac. Integrar uma região DOC é, sem dúvida, uma mais-valia, já que qualifica o território e confere responsabilidade aos atores locais, sejam políticos ou sociedade civil. É uma bandeira que eleva o produto a um patamar de excelência e ao consequente reconhecimento nacional e internacional.
Há alguma característica diferenciadora da “Aguardente” produzida na Lourinhã?
Todo o processo produtivo, desde o solo, vinha, castas, a vinificação, destilação, envelhecimento, filtragem, enchimento e rotulagem são efetuados dentro da região demarcada. Como fator diferenciador, possivelmente o facto de ser completamente pura, sem adições, ganhando as suas cores apenas como resultado do procedimento inerente ao envelhecimento nos diferentes tipos de madeira. Também há que considerar as condições ambientais específicas em que se dá o envelhecimento, as quais também contribuem para a excelência do resultado final.
De que produção estamos a falar, em área e volume?
O concelho tem mais de 200 ha, mas, ligados à produção de Aguardente, estimamos uma área de aproximadamente 25 ha, com uma produção de uva de cerca de 170.000 Kgs, que transformada, resulta em cerca de 20 000 litros de Aguardente.
E quantos produtores?
O número de vitivinicultores com produção anual é cerca de 15, para os dois produtores locais: Adega Cooperativa da Lourinhã e Quinta do Rol.
Qual o seu perfil?
Falamos de vitivinicultores com mais de 50 anos, embora estejam a aparecer jovens na casa dos 30 anos. A maioria tem outras produções agrícolas, não se dedicando exclusivamente à produção de uva. Outros, têm profissões ligadas a diversos ramos. Ponto em comum, um apreço muito especial por este produto!
Quais são os principais desafios que estes produtores enfrentam?
De acordo com os dados de que dispomos, o setor das bebidas alcoólicas tem atravessado uma crise no consumo, o que aliada às dificuldades de exportação e aos valores praticados com os equipamentos, garrafas e pipas, fazem com que o setor invista muito para o retorno a longo prazo (…).