A meados de outubro, teve lugar a cerimónia de entrega de prémios do projeto “Devolver à Terra” nas instalações da Silvex, em Benavente, a três escolas reconhecendo as suas boas práticas de compostagem. A iniciativa, fruto da parceria entre a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável e a Silvex – Indústria de Plásticos e Papéis, visa apoiar escolas de todo o país na implementação de projetos de compostagem, sensibilizando as comunidades escolares para a importância da economia circular e da sustentabilidade ambiental através da promoção de boas práticas de gestão de biorresíduos.

Vista área das instalações da Silvex

O objetivo inicial do projeto era envolver cerca de 100 escolas em todo o país na compostagem dos biorresíduos gerados nas cantinas e hortas escolares. Apesar da adesão ter superado as expetativas, com mais de 200 escolas interessadas, apenas 96 foram selecionadas. Sara Correia, em representação da Associação ZERO, explica que o projeto surgiu da vontade da Silvex de contribuir ativamente para a educação ambiental nas escolas.

Sara Correia, em representação da Associação ZERO, explica que o projeto surgiu da vontade da Silvex de contribuir ativamente para a educação ambiental nas escolas

“A Silvex já trabalha com materiais compostáveis e percebeu a importância da compostagem, não apenas como uma forma de tratar resíduos, mas também como uma ferramenta de sensibilização ambiental”, afirma Sara Correia. De acordo com a responsável, a parceria resultou em algo muito maior do que a simples introdução da compostagem nas escolas. “O projeto foi desenhado para colocar em prática não só a compostagem dos biorresíduos, mas também a separação seletiva e a introdução de boas práticas ambientais no quotidiano das escolas”, sustenta.

Quando questionada sobre os principais desafios enfrentados ao longo do projeto, Sara Correia destacou o impacto da pandemia de COVID-19.

“O projeto estava a decorrer bem, com um número crescente de escolas interessadas em integrar a compostagem nas suas rotinas. No entanto, a pandemia acabou por adiar muitas atividades e prolongar o tempo de implementação”. Originalmente previsto para durar três anos, o projeto teve que ser estendido por mais um ano devido a constrangimentos logísticos e à necessidade de ajustar a abordagem para garantir que todas as escolas pudessem concluir as fases do projeto com sucesso.

Para Sara Correia, o Projeto não se limitou a ensinar as escolas a compostar resíduos orgânicos, mas teve um efeito educativo muito mais amplo. “A compostagem foi apenas o ponto de partida. A ideia era integrar, de forma prática, conceitos como a separação de resíduos, o uso eficiente de recursos e a promoção de uma cultura ambiental nas escolas”, considera, acrescentando ao mesmo tempo que, “as escolas que participaram começaram a adotar outras boas práticas ambientais, como a reciclagem, o uso de materiais reutilizáveis nas cantinas e até o plantio de árvores nos espaços exteriores”, conta.

Para além disso, de acordo com a responsável, a compostagem também serve como uma forma de sensibilizar os mais jovens para a importância do ciclo dos resíduos e da valorização dos biorresíduos, mostrando-lhes que esses materiais podem ser transformados em compostos úteis, como fertilizantes naturais.

“Esse processo permite às crianças perceberem de forma prática como o que antes era considerado lixo pode ser transformado em algo positivo para o meio ambiente (…). A compostagem é uma prática simples, mas de grande impacto ambiental. Quando ensinamos as crianças a separar corretamente os biorresíduos, estamos a dar-lhes as ferramentas para contribuir diretamente para a redução da quantidade de resíduos que vai para os aterros e para a preservação do meio ambiente”, realça.

O futuro do projeto e a replicação da iniciativa a outros países

Apesar do projeto “Devolver à Terra” ter atingido a marca de 96 escolas, Sara Correia expressou otimismo quanto à possibilidade de expansão da iniciativa. “A ideia é continuar a trabalhar com as escolas que se revelaram mais empenhadas na implementação do projeto e com essas escolas começar a desenvolver o conceito das escolas “ZERO Resíduos”, de forma que as escolas envolvidas possam dar início à adoção de uma filosofia ZERO Resíduos, um percurso no qual a compostagem será um primeiro passo fundamental (…). Estamos também disponíveis para ajudar a replicar o projeto noutros países”, afirma.

Hernani Magalhães, CEO da Silvex, no uso da palavra durante a cerimónia de entrega de prémios do projeto “Devolver à Terra

A Silvex, uma empresa com uma forte ligação ao setor ambiental e aos materiais compostáveis, viu na compostagem uma oportunidade de contribuir para a redução dos resíduos orgânicos e, ao mesmo tempo, promover a educação ambiental.

Hernani Magalhães, CEO da Silvex, assume que a ideia para o Projeto “Devolver à Terra” nasceu na própria Silvex, com uma experiência interna de compostagem. “Começámos a fazer compostagem nas nossas instalações, mais especificamente com os biorresíduos da nossa cantina. Ao ver os resultados, achámos que seria um projeto relevante não só para as nossas operações, mas também para replicar em outros locais, como hospitais, escolas e cantinas de fábricas”, explica.

“No nosso primeiro ano de compostagem, transformámos cerca de três toneladas de resíduos orgânicos. Pensámos que, se multiplicássemos esse volume pelas escolas de todo o país, o impacto seria enorme, tanto em termos ambientais como económicos. Além disso, seria uma excelente oportunidade para ensinar às crianças o valor dos resíduos e a responsabilidade que temos em relação ao meio ambiente”, diz Hernani Magalhães.

A motivação da Silvex foi clara: promover práticas ambientais sustentáveis de forma prática e acessível, incentivando a mudança de mentalidade, especialmente entre as crianças. “O projeto envolve as crianças, ensina-lhes biologia, o ciclo dos resíduos, e promove uma vida mais saudável”, afirma. Ao lançar o projeto, a Silvex fez um desafio à ZERO: criar um programa de compostagem que fosse replicável em escolas de todo o país. Hernani Magalhães também foca a entrada do novo parceiro internacional no projeto: a Novamont. “O conhecimento da Novamont sobre compostagem e materiais compostáveis é um enorme trunfo. Eles têm experiência nos mercados internacionais e podem ajudar a replicar este modelo noutros países, o que será um grande passo para a disseminação dessas boas práticas ambientais”, destaca Hernani Magalhães.

Paulo Lucas, coordenador da área das Florestas da ZERO

Paulo Lucas, coordenador da área das Florestas da ZERO, partilha que a parceria entre a Silvex e a ZERO foi, para ele, uma grande surpresa positiva, especialmente considerando a ligação da Silvex ao setor dos plásticos.

“Ficamos agradavelmente surpreendidos com o convite, e isso motivou-nos a criar um projeto que fosse realmente significativo e impactante para as escolas”, conta. Para Paulo Lucas, o grande objetivo do projeto “Devolver à Terra” vai além da compostagem nas escolas: “Queremos que as escolas sirvam como exemplo para a comunidade, mostrando que é possível transformar resíduos orgânicos em compostos de qualidade e devolver esses nutrientes à terra”.

A compostagem, como prática educativa e ambiental, tem o potencial de mudar comportamentos, não apenas nas escolas, mas também nas comunidades e nas zonas rurais, criando um ciclo de sustentabilidade e respeito pelo meio ambiente.

Além disso, Paulo Lucas enfatizou a importância da compostagem comunitária, especialmente nas áreas rurais, onde os resíduos agrícolas e florestais muitas vezes são queimados, contribuindo para a poluição atmosférica e aumentando o risco de incêndios. “A compostagem deve ser a primeira opção para resolver esse problema. Precisamos mudar a mentalidade das pessoas, para que não queimem os resíduos, mas sim os compostem, contribuindo assim para a saúde do solo e para a redução da poluição”, afirma.

Participantes na cerimónia de entrega de prémios do projeto “Devolver à Terra”

Por fim, Paulo Lucas conclui que a transformação de resíduos em compostagem é um passo essencial para o futuro de Portugal. “A compostagem não deve ser vista como uma opção, mas como uma prioridade na gestão dos biorresíduos, tanto nas zonas urbanas como rurais”, finaliza, reiterando a necessidade de mais colaboração entre escolas, municípios e a comunidade para que o projeto continue a crescer e a impactar positivamente a sociedade.

O projeto “Devolver à Terra” está alinhado com os pilares fundamentais da Novamont

A Novamont, fundada em 1990 em Itália, é uma empresa europeia especializada em soluções baseadas em bioquímica, com um modelo de negócios que integra a agricultura e a regeneração territorial para criar um impacto positivo no meio ambiente e na sociedade.

David Inacio, Country Manager da Novamont Iberia

Para David Inacio, Country Manager da Novamont Iberia, a filial do grupo para Espanha e Portugal, o projeto “Devolver à Terra” está alinhado com os pilares fundamentais da empresa. “Quando aprofundamos a essência deste projeto, entendemos que ele está diretamente ligado ao fomento da sustentabilidade, algo que é um fator chave para o nosso modelo de negócio”, afirma. David Inacio destaca a relevância da colaboração entre diferentes setores — industrial, académico — para sensibilizar as futuras gerações sobre a importância de valorizar os resíduos e de construir um futuro mais sustentável. “O que hoje pode ser considerado um resíduo, pode ser transformado em algo que contribui para o amanhã. Este projeto é fundamental para formar as gerações futuras e para consciencializá-las da importância do meio ambiente”, sublinha.

Para a Novamont, iniciativas como o “Devolver à Terra” são um exemplo claro de como é possível transformar resíduos em recursos valiosos, contribuindo para a regeneração ambiental e para a criação de um modelo de negócio sustentável. “Projetos como este demonstram que, com uma compostagem de qualidade, podemos devolver fertilidade ao solo e ajudar a regenerar terrenos que de outra forma, não seriam produtivos”, conclui o diretor-geral.

Rosa Puig Moré, Marketing Manager da Novamont Ibéria

Por sua vez Rosa Puig Moré, Marketing Manager da Novamont Ibéria, refere que o Projeto “Devolver à Terra” representa uma oportunidade de aplicar os princípios da bioeconomia circular e da sustentabilidade no ciclo de gestão de resíduos orgânicos. “Este Projeto é uma forma de devolver à terra o que ela nos dá, focando na saúde do solo, que é a base de tudo”, afirma. A empresa acredita firmemente que o composto, resultante da compostagem de resíduos orgânicos, é um meio essencial para fixar o carbono no solo e melhorar sua fertilidade, permitindo o ciclo natural de regeneração.

A Novamont tem uma vasta experiência no desenvolvimento de soluções que integram bioquímica e agricultura.

“A Novamont trabalha com o setor agrícola há mais de 20 anos, desenvolvendo, por exemplo, filmes de cobertura biodegradáveis, que se decompõem no solo sem deixar resíduos tóxicos ou microplásticos. Esse é apenas um exemplo de como as nossas soluções ajudam a melhorar a gestão dos resíduos e a regenerar o solo”, afiança.

A parceria com a Silvex e a ZERO no projeto “Devolver à Terra” é um exemplo claro de como a Novamont aplica esses conhecimentos na prática, trabalhando com escolas em Portugal para educar as novas gerações sobre a importância da compostagem e da valorização dos resíduos orgânicos. “Acreditamos que, investindo na educação, estamos a lançar as bases para um futuro mais sustentável. Este projeto não só beneficia o meio ambiente, mas também ajuda a consciencializar as gerações mais jovens sobre a importância de cuidar do planeta”, ressalta.

Rosa Puig Moré realça ainda que a Novamont está a investir fortemente na rastreabilidade e na avaliação do impacto ambiental dos seus produtos, em conformidade com as novas diretrizes europeias sobre a pegada de carbono. “Trabalhamos há anos para reduzir a nossa pegada de carbono e oferecer aos nossos parceiros soluções transparentes e sustentáveis, ajudando-os a cumprir os novos requisitos ambientais”, remata.


O TESTEMUNHO DAS ESCOLAS PREMIDAS:

Escola São Brás de Alportel

A professora Mónica Luís partilha a sua experiência com o projeto:

“O processo teve início com a entrega dos compostores e a montagem das tábuas, tarefa realizada pelos próprios alunos, em colaboração com as funcionárias da escola. A cozinha forneceu os restos alimentares, as funcionárias ajudaram com os resíduos vegetais (os “castanhos”), como folhas e restos de varrição. O composto produzido foi utilizado na horta escolar, onde os alunos semearam diversos produtos que se adaptam bem ao clima algarvio, como ervilhas, favas, alfaces e milho. A interação das crianças com o processo foi notável, e no final do ciclo, puderam ver o crescimento dos alimentos e prová-los. Além disso, algumas mães pediram para levar o composto para os vasos das suas casas.

Para a professora, a importância do projeto vai além da compostagem em si: “Primeiro, é importante que as crianças se sensibilizem para a reciclagem e reutilização dos resíduos orgânicos (…) Depois, elas aprendem que aquilo que iria para o lixo pode ser transformado, devolvido à terra e até ajuda as plantas a crescerem mais fortes”.


Escola Secundária José Gomes Ferreira

Rosa Fernandes, professora de biologia da Escola Secundária José Gomes Ferreira, explica que desde o início, “os alunos do 12º ano foram os protagonistas na montagem dos compostores. Temos utilizado o composto dos anos anteriores principalmente para realizar testes científicos, como o teste de compostos que oferecem os melhores nutrientes para as plantas. Além disso, o composto também tem sido utilizado na nossa zona de cultivo, que chamamos de bosque comestível. Trabalhamos com os materiais que os alunos trazem de casa todas as semanas e com os ‘castanhos’ das árvores da Escola”.


Escola Básica de Milheirós de Poiares (Santa Maria da Feira)

A professora de Físico-Química, Goreti Rocha, refere que “o projeto começou com um desafio para alunos de 7º ano em tempo de pandemia. Começámos por construir três compostores com a ajuda dos alunos e de um assistente operacional. Os compostores foram instalados perto da horta escolar (…) houve formação inicial para os alunos e para os assistentes operacionais, distribuímos recipientes para a recolha de resíduos orgânicos nos vários espaços da escola e, ao final da tarde, uma funcionária realiza a recolha dos restos da cantina e dos materiais colocados pelos alunos nos compostores.

No entanto, nos compostores estavam a faltar “verdes. Foi então que a Escola estabeleceu uma parceria com o município de Santa Maria da Feira, que possuí uma praia fluvial próxima, e as ervas da relva que crescem foram utilizadas como ‘verdes’. Além disso, os alunos trouxeram materiais orgânicos de casa. O composto produzido tem sido utilizado para enriquecer a horta da escola, que inicialmente tinha um solo muito pobre. Os produtos cultivados são depois utilizados para formar cabazes, que são distribuídos entre os alunos mais carenciados”.