A The Summer Berry Company, empresa de origem inglesa especializada na produção de frutos vermelhos, estabeleceu-se em Portugal (Odemira) em 2016.

Daniel Portelo, diretor de operações em Portugal, recorda que quando a The Summer Berry Company começou as suas atividades em Portugal, já era uma empresa consolidada em Inglaterra, com foco na produção doméstica, sobretudo de morango e mirtilo.

No entanto, a empresa identificou Portugal como um local estratégico para complementar a produção inglesa, permitindo-lhe produzir frutos durante todo o ano. “Portugal é um dos poucos locais na Europa onde se consegue produzir durante os 12 meses do ano”, afirma Daniel Portelo, destacando a importância das condições climáticas favoráveis e de outros fatores essenciais, como a qualidade da água e a disponibilidade de mão de obra.

A entrada da empresa em Portugal foi marcada pela aquisição da Herdade dos Almeidans, onde se iniciou a produção de framboesas e mirtilos numa área de 70 hectares. Desde então, a expansão continuou com a aquisição da Herdade A-de-Mateus, que dobrou a área de produção para 140 hectares, sendo a framboesa o principal foco produtivo.

Segundo Daniel Portelo, a decisão de apostar na produção de framboesas em Portugal está intimamente ligada à alta procura do mercado e à qualidade diferenciada do produto cultivado no país. “Muitos dos nossos clientes preferem framboesa produzida em Portugal pela qualidade, e faz todo o sentido aproveitarmos essa mais-valia numa região reconhecida internacionalmente”, afirma. Além disso, a produção de framboesas em Portugal permite à empresa controlar os picos de produção ao longo do ano, garantindo uma oferta constante durante os 12 meses. Isso não só estabiliza o fornecimento ao mercado, mas também facilita a gestão dos recursos humanos. Atualmente, a empresa produz cerca de 4.000 toneladas anuais, com grande parte destinada ao mercado inglês e a outros países europeus, como a França, Alemanha, Itália e Holanda.

Um dos principais desafios na produção de framboesas, de acordo com Daniel Portelo, é o curto tempo de prateleira da fruta. A logística tem de ser extremamente eficiente, desde o momento da colheita até a entrega ao consumidor final, garantindo que o frio seja mantido durante todo o processo. “Toda a comercialização tem de ser muito dinâmica para se ajustar à produção real e às exigências do cliente, sem comprometer a qualidade”, explica.

Em termos de práticas agrícolas, o diretor de operações destaca que a empresa já opera com práticas que reduzem significativamente o uso de pesticidas, mantendo um equilíbrio natural entre pragas e os seus predadores. “Grande parte da nossa fruta acaba por ter resíduo zero ou muito próximo disso”, afiança, referindo-se ao facto de que as limitações impostas pelo mercado quanto aos resíduos de pesticidas não representam um desafio para a empresa, já que esta já se antecipou a essas exigências.

Outro ponto abordado por Daniel Portelo é a crescente importância das questões relacionadas com os recursos humanos. A empresa já implementava iniciativas e auditorias rigorosas, como a certificação de responsabilidade social, antes mesmo dessas exigências serem impostas pelos mercados. Neste âmbito, a parceria com a NATURALFA, empresa certificadora, por exemplo, tem corrido muito bem. Isto porquê? Questiona Daniel Portelo, ao mesmo tempo que responde: “Uma auditoria acaba por ser uma fotografia daquilo que a empresa faz (…). Além de fazerem um raio-x do que a empresa está a fazer, há também uma série de recomendações e pontos de melhoria, muitos deles nem estão no guião das certificações, mas que ajudam a melhorar”.

Além do controle de pragas, Silvina Morais sublinha que estas práticas ecológicas trazem outros benefícios significativos. “O facto de olharmos para o coberto vegetal não como infestante, mas como plantas de companhia, ajuda a reduzir a necessidade de herbicidas, o que diminui os custo de produção e melhora a saúde do solo”. Além disso, a diversidade de flores ao longo do ano também ajuda a manter as abelhas saudáveis, o que é crucial para a polinização. “O facto de trabalharmos com várias fontes de flores, significa que a abelha também tem várias fontes de aminoácidos e vitaminas que necessitam (…). Através das análises que fazemos, não só temos as colónias muito mais saudáveis e sem presença de pesticidas nas nossas colmeias como temos populações mais fortes. Aliás, o apicultor usa a nossa quinta para conseguir propagar novas colmeias durante o ano”.

A gestão eficiente da água, é outro ponto fundamental na The Summer Berry Company, com as alterações climáticas e a redução da chuva, a empresa passou a recuperar água da chuva e das valas de drenagem. Diz Silvina Morais, que cerca de 53% da água utilizada em 2023 veio dessas captações e a restante no âmbito do perímetro de rega da Associação de Beneficiários do Mira. Este ano, a empresa implementou um sistema de rega fechado, que permite recuperar a água não utilizada pelas plantas.

Silvina Morais, destaca ainda a importância das certificações para garantir a credibilidade da empresa no mercado. “É fundamental ter uma entidade externa que verifique o que estamos a fazer. Para além de ajudar-nos a ter credibilidade no mercado, dá-nos também estrutura”, sublinha. O âmbito social, é igualmente fator importante na The Summer Berry Company, tendo em conta que muitos dos seus colaboradores são provenientes de outros países, como o Nepal e Índia, oferecendo o acesso a cuidados de saúde, transportes diários, alojamento, cantina e formação.

Já Ana Coimbra, gestora de clientes da NATURALFA, destaca com entusiasmo a parceria que há cinco anos a empresa mantém com a The Summer Berry Company, descrevendo-a como um privilégio e de melhoria contínua.

Para a gestora de clientes da NATURALFA, esta colaboração é uma verdadeira troca de experiências, onde ambas as partes “ensinam e aprendem”.

Um dos aspetos mais vincados por Ana Coimbra à nossa reportagem, é a política de acolhimento e integração dos colaboradores, principalmente os estrangeiros, que constituem a maioria da força de trabalho da empresa de Odemira. A certificação GRASP, que avalia o bem-estar social e laboral, é um reflexo desse compromisso, assegurando que os trabalhadores sejam bem integrados e que a empresa atue em prol do seu bem-estar. “A The Summer Berry Company destaca-se também na integração com a comunidade local, promovendo uma política social que visa eliminar qualquer tipo de diferença entre os trabalhadores e a população da região”, constata Ana Coimbra.

No que diz respeito à sustentabilidade, Ana Coimbra sublinha o uso de certificações como a LEAF e a SPRING, que reforçam o compromisso da The Summer Berry Company com o uso racional da água, bem como o uso e promoção de toda a flora e fauna. Ana Coimbra, refere igualmente a excelência da The Summer Berry Company no que toca à segurança alimentar. Com o certificado BRCGS, reconhecido internacionalmente, a empresa garante elevados padrões de qualidade e segurança nos seus produtos.


Testemunho

“Cheguei a Portugal há sete anos, vindo do Nepal. No início, foi um desafio integrar-me num país novo, mas logo percebi que as pessoas aqui são muito prestáveis e abertas. Encontrei uma comunidade acolhedora, onde muitos, como eu, vieram do Nepal e da Índia (…). Comecei a trabalhar na The Summer Berry Company como um trabalhador normal, sem experiência no setor agrícola. No Nepal também há produção de framboesas, mas o contexto é completamente diferente. À medida que fui aprendendo mais sobre a produção de framboesas, graças ao apoio e à experiência dos colegas na quinta, fui ganhando mais responsabilidades. Gradualmente, fui crescendo dentro da empresa e hoje tenho a honra de liderar uma equipa de 650 pessoas, e este número ainda vai aumentar com o aumento da produção. Portugal tornou-se a minha casa, e eu sinto que pertenço aqui. Quando cheguei, já era casado, e pouco depois, a minha filha nasceu em Portugal. Ela é portuguesa e está a crescer num ambiente que me faz sentir seguro e confortável. Os portugueses sempre nos ajudaram muito, seja na burocracia, seja na escola para a minha filha. Tudo isso me faz sentir grato por estar aqui, não apenas a trabalhar, mas também a construir uma vida para a minha família”.

→ Leia a reportagem completa na Revista Voz do Campo edição de novembro 2024, disponível no formato impresso e digital.

Assista à vídeo-reportagem:

 

One thought on “Integração da natureza na produção de framboesas é sinónimo de qualidade na TSBC Portugal

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