O setor agroalimentar nacional continua, cada vez mais, a conquistar mercados externos: seja através do vinho, do azeite, frutas, legumes, e tantos outros produtos agrícolas.
Se para os portugueses é incontestável a qualidade dos nossos produtos, e para os mercados internacionais também, porque razão continua o valor acrescentado dos mesmos a diminuir ou a crescer a um ritmo demasiado lento? Não sendo justo afirmar que a qualidade e a vocação exportadora de muitos empresários não têm sido suficientes para fazer aumentar os rendimentos dos agentes do setor agroalimentar, a questão colocada poderia traduzir-se, à primeira vista, nesta leitura.
Contudo, constata-se, segundo o “Anuário Estatístico de Portugal 2023” do Instituto Nacional de Estatística, que o setor agroflorestal é o segundo a apresentar o valor mais elevado de exportações, o que significa não só um impacto bastante positivo para equilibrar o saldo da balança comercial, mas também que existe um trabalho hercúleo dos nossos produtores e empresários para serem competitivos para além das fronteiras ibéricas.
Assim, se as exportações continuam a aumentar e registar níveis positivos, e se temos todas as capacidades para sermos uma referência do agroalimentar europeu, prende-se a questão: quais as mudanças necessárias para que as exportações, que são muitas vezes o garante de muitas explorações agrícolas, se traduzam claramente em mais rendimento e valor acrescentado para os agricultores?
Não é por falta de vontade própria que Portugal se encontra neste dilema, mas sim por condicionamentos que são alheios ao mundo empresarial, mas tangentes à esfera governativa, ou não estivéssemos muitas vezes, logo à partida, condicionados por condições fiscais e custos bastante desfavoráveis em relação, por exemplo, à nossa concorrência direta: Espanha.
Observações feitas e questões colocadas, existe espaço para mudança e esta, apesar de complexa, pode enumerar-se em poucas, mas muito significativas esferas de atuação.
Primeiramente, e seguindo a lógica deste nosso raciocínio, é preciso existir uma maior equidade fiscal relativamente a Espanha, sobretudo no que toca à energia e aos combustíveis. Não existindo vontade, ou esforço, de disponibilizar condições favoráveis à competitividade com este país vizinho, há que pelo menos garantir que os custos de produção atuais não se mantêm como estão.
Paralelamente, e aliada a esta necessária redução, urge endereçar mais verbas para que a tecnologia possa ajudar a instalarem-se, cada vez mais, boas práticas produtivas que são essenciais para a otimização dos recursos, rentabilidade e sustentabilidade das explorações agrícolas nacionais.
Por fim, como não pode deixar de ser, corrigir a falta de políticas públicas existentes para facilitar a entrada organizada de Portugal em novos mercados, substituindo esta lacuna com medidas que integrem uma estratégia nacional ponderada e cujo desejo é não apenas incentivar ao investimento e internacionalização do setor, mas também garantir a competitividade dos nossos alimentos e das nossas marcas nas prateleiras da Europa e do Mundo.
Dentro da produção organizada, e das associadas da CONFAGRI, vários têm sido os esforços, com sucesso, para ver concretizados todos estes objetivos e, não havendo fórmulas mágicas, têm havido resultados bastante positivos e isso, com toda a certeza, não é fruto de coincidências felizes.
Em última instância, seja devido aos elevados custos de produção, seja pela falta de políticas públicas que incentivem ao investimento e internacionalização do setor, ou ainda à frágil aliança existente entre a comunicação (interna e externa) e o setor agroalimentar, se há algo que podemos estar certos, para além do nosso enorme potencial, é de que com as políticas públicas adequadas, com o incentivo à organização da produção, com a redução do preço da energia e com menos burocracia, Portugal pode ir muito mais longe nos mercados europeus e globais e os rendimentos dos nossos agricultores podem fazer justiça à qualidade dos seus produtos.
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