“….A atividade agrícola nos territórios rurais é muito mais do que uma fonte de alimentos; ela é a guardiã de tradições, costumes e paisagens que definem a identidade de um povo…”

Neste ano que se inicia, gostava de trazer um tema amplo pela sua natureza e que espero, que consiga traduzir em palavras, tudo aquilo que me vai na “alma” e no pensamento!

António Martins Bonito, Agricultor e Professor no Instituto Politécnico de Viana do Castelo – IPVC

A atividade agrícola desempenha um papel vital nos territórios rurais, indo além da sua função primordial de produzir alimentos. Ela é um alicerce para a manutenção das tradições, dos usos e costumes que definem a identidade de um povo, enquanto contribui para a preservação das paisagens culturais e para a valorização da gastronomia local.

Os territórios rurais são repositórios de práticas culturais que são transmitidas de geração em geração.

A agricultura, muitas vezes realizada em moldes tradicionais, é parte integrante dessa herança. As técnicas de cultivo, os ciclos sazonais de plantações e colheitas, e as festividades associadas à produção agrícola criam um elo com o passado que fortalece a identidade das comunidades rurais.

Por exemplo, celebrações como as festas das colheitas ou as feiras de produtos locais são expressões culturais que conectam as populações à terra e perpetuam valores e saberes antigos.

Essas práticas também reforçam o senso de comunidade e pertença.

A gastronomia é uma das manifestações mais tangíveis da conexão entre agricultura e tradição. Produtos locais, como queijos artesanais, vinhos, azeites e pratos típicos, são frutos da agricultura local e refletem as características únicas de cada região.

Aquilo a que os franceses apelidam de terroir – a combinação entre solo, clima e saber-fazer, dá origem a sabores que não podem ser replicados em outro lugar, nem por qualquer outro sistema de produção laboratorial.

A valorização dos produtos locais tem ganho força com movimentos como o slow food, que promove a alimentação consciente e a preservação da biodiversidade alimentar. Além disso, o turismo gastronómico vem crescendo, atraindo visitantes interessados em experimentar a culinária local e conhecer a história e as estórias por detrás dos pratos.

A agricultura também é essencial para a conservação das paisagens rurais, que são um património cultural e natural. Campos cultivados, vinhedos, olivais e pastagens moldam o cenário de regiões inteiras, criando paisagens de rara beleza que atraem turistas e servem como espaços de lazer para a população local.

Além do valor estético, essas paisagens têm um papel ecológico importante, contribuindo para a biodiversidade e para a regulação do clima local. Práticas agrícolas sustentáveis, ajudam a preservar esses espaços enquanto garantem a produtividade. Apesar da sua importância, a agricultura enfrenta desafios como o êxodo rural, a modernização desenfreada e as mudanças climáticas. Esses fatores ameaçam, não só apenas a produção de alimentos, mas também a continuidade das tradições e a preservação das paisagens.

Por outro lado, iniciativas integradas de desenvolvimento rural, com políticas de apoio aos agricultores e o crescimento do interesse por experiências culturais autênticas, oferecem oportunidades para revitalizar as comunidades rurais.

Feiras, festivais e roteiros turísticos baseados na agricultura, podem impulsionar as economias locais e atrair novas gerações para o campo.

A atividade agrícola nos territórios rurais é muito mais do que uma fonte de alimentos; ela é a guardiã de tradições, costumes e paisagens que definem a identidade de um povo. A sua integração com a gastronomia local e a preservação ambiental criam um círculo virtuoso que beneficia tanto as comunidades rurais quanto a sociedade como um todo. Investir na valorização da agricultura e na sustentabilidade é essencial para garantir que esses territórios continuem a florescer, mantendo vivos os saberes e sabores que os tornam únicos.

Que possamos reconhecer a riqueza cultural e ambiental que brota do campo e trabalhar juntos para preservá-la para as gerações futuras.

Quero acreditar neste pensamento, que nós, os agricultores, somos os guardiões do tempo e ao preservar as nossas tradições, mantemos viva a essência de um povo, interligando gerações e semeando história no solo fértil do futuro!

Autoria: António Martins Bonito, Agricultor e Professor no Instituto Politécnico de Viana do Castelo – IPVC

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