Introdução

A matéria orgânica (MO) tem sido promovida como uma solução fundamental para melhorar a qualidade do solo, aumentar a produtividade das culturas e promover a sustentabilidade. No entanto, os produtores são frequentemente confrontados com uma questão preocupante: “Porque é que, após anos de investimento em MO, não vejo uma acumulação significativa ou os benefícios esperados nas minhas culturas?” Este artigo explora as possíveis razões por detrás deste paradoxo e oferece estratégias cientificamente comprovadas para maximizar os resultados deste investimento essencial.

A dinâmica da matéria orgânica no solo

A MO do solo é um componente vivo e em constante mudança. O seu comportamento depende de vários fatores:

1 – Mineralização Rápida:

• Em climas quentes e húmidos, a atividade microbiana acelera a decomposição da MO, libertando nutrientes, mas não permitindo a sua acumulação a longo prazo;
• Este processo pode ser provocado pela utilização excessiva de irrigação ou por uma mobilização intensa do solo, que aumenta a oxidação da MO.

2 – Qualidade da MO aplicada:

• A relação C:N (carbono:nitrogénio) é crucial. A MO com um C:N muito baixo decompõe-se rapidamente, enquanto a MO com um C:N elevado pode imobilizar nutrientes, reduzindo a sua disponibilidade para as plantas;
• O composto rico em lignina e taninos oferece uma maior estabilidade do solo, enquanto os resíduos de culturas frescas tendem a mineralizar-se rapidamente.

3 – Interação com as práticas de gestão:

• A preparação do solo frequente, a fertilização química desequilibrada e as monoculturas podem degradar a MO e limitar o seu impacto positivo no solo.

4 – Falta de sinergia microbiana:

• A ausência de microrganismos benéficos, como Trichoderma spp. ou Pseudomonas fluorescens, que estabilizam a MO e promovem a sua integração, limita os benefícios esperados.

5 – Tipo de solo:

• Os solos arenosos com baixa capacidade de troca catiónica (CEC) perdem a MO mais rapidamente do que os solos argilosos, que retêm melhor os nutrientes dela derivados.

A relação entre investimento e resultados

1 – Expectativas vs. realidade:

• A aplicação de MO não garante resultados imediatos ou cumulativos. A sua eficácia depende das condições específicas do solo e da gestão da exploração agrícola;
• A perceção de insucesso deve-se muitas vezes à falta de monitorização e avaliação adequadas do impacto.

2 – Avaliação económica:

• O custo da MO deve ser justificado pelo seu impacto no rendimento e na sustentabilidade a longo prazo;
• Exemplo: Em solos pobres em microrganismos, a MO aplicada pode degradar-se sem alcançar os benefícios esperados, reduzindo o seu retorno do investimento (ROI).

3 – Impacto na qualidade do solo:

• Os solos compactados ou com pH extremo (muito ácido ou alcalino) podem limitar a integração da MO, exigindo correcções adicionais para melhorar a sua eficácia.

Estratégias para maximizar os benefícios da MO

1 – Análise exaustiva do solo:

• Realizar uma pré-análise que inclua a textura, o pH, a capacidade de troca catiónica (CTC) e a atividade biológica;
• Identificar deficiências específicas para ajustar as práticas de gestão e garantir um ambiente adequado para a MO.

2 – Melhorar a qualidade da MO aplicada:

• Optar por fontes de MO com elevada resistência à decomposição, como o composto enriquecido com biochar ou resíduos lignocelulósicos;
• Utilizar aditivos como extractos de plantas ou bioactivadores de algas para melhorar a ação microbiana.

3 – Promover a sinergia microbiana:

• Inocular microrganismos benéficos como Trichoderma spp., Azospirillum brasilense ou Bacillus subtilis juntamente com a MO para aumentar a sua estabilidade e libertar nutrientes essenciais;
• Introduzir consórcios de microrganismos adaptados ao solo e ao tipo de cultura para aumentar o impacto da MO.

4 – Práticas de gestão sustentável:

• Reduzir ou eliminar a preparação do solo para evitar a oxidação da MO;
• Aplicar a rotação de culturas e culturas de cobertura para proteger o solo e melhorar a sua estrutura;
• Ajustar a irrigação para evitar a lixiviação e a degradação da MO.

5 – Monitorização e avaliação contínua:

• Estabelecer indicadores claros de sucesso, como o aumento da capacidade de retenção de água, CTC e densidade microbiana;
• Realizar avaliações periódicas para ajustar as estratégias e otimizar os resultados.

Conclusão

A acumulação e os benefícios da matéria orgânica do solo dependem de uma gestão integrada, sustentável e com base científica. Embora o investimento em MO possa não apresentar resultados imediatos, o seu verdadeiro valor reside na sua combinação com uma análise exaustiva, microrganismos benéficos e práticas adaptadas às condições específicas do terreno.

Ao compreender a MO como uma ferramenta num sistema agrícola complexo, os agricultores podem colmatar a lacuna entre o investimento e o resultado. Esta abordagem não só melhora a produtividade, como também contribui para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas, protegendo o solo para as gerações futuras.

→ Autoria: Angel Sánchez Jiménez
National Marketing & Sales Manager
Femssa Fertilizantes y Mejorados del Suelo, S.A. de C.V.

 

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