A doença dos edemas consiste numa enterotoxémia causada por Escherichia coli (E. coli) que coloniza o intestino delgado e produz a verotoxina 2e (VT2e, também conhecida como Stx2e) (1). Esta toxina é absorvida pelo intestino para a corrente sanguínea onde danifica as células do endotélio dos tecidos alvo (2,3). O dano nas células endoteliais induz um incremento da permeabilidade do endotélio vascular que resulta em edema.

A doença dos edemas é observada principalmente em leitões recentemente desmamados, mas também pode ser observada durante as fases de transição ou de engorda. A colibacilose que pode provocar a doença dos edemas é endémica em muitas explorações e a sua prevalência oscila ao longo do tempo. Uma forma mais severa da infeção entérica por E. coli pode ser observada 2-3 semanas após o desmame e manifesta-se por morte súbita, que pode chegar até 90% de mortalidade. Os porcos que morrem por doença dos edemas estão muitas vezes em boa condição e podem não apresentar edemas. A colibacilose pode também ser responsável por diarreia pós desmame, que pode ocorrer independentemente, mas é também bastante comum ocorrer em conjunto com a doença dos edemas num surto ou até no mesmo animal.

As manifestações clínicas da doença dos edemas incluem edema palpebral, sinais neurológicos como ataxia, convulsões, parálise e rigidez, e morte (4,6). As lesões macroscópicas da doença dos edemas incluem edema subcutâneo, mais frequente nas pálpebras e na face (figura 1), edema na submucosa do estômago, particularmente na região glandular do cárdia, e também é comum que o mesocólon de animais afetados se encontre edemaciado.

Para além dos sintomas clínicos, estes animais geralmente demonstram um decréscimo no ganho médio diário, o que provoca perdas financeiras importantes nas explorações comerciais, também acentuadas pela morbilidade, mortalidade e custos de tratamentos, vacinas e suplementos alimentares (1,6,7). Nem todos os animais infetados desenvolvem a doença; o grau de colonização intestinal é determinante para a manifestação da doença resultante da infeção. A doença dos edemas pode apresentar-se na forma subclínica, que ocorre quando os porcos estão clinicamente normais, mas desenvolvem lesões vasculares e apresentam ganhos médios diários mais baixos.

Diagnóstico da doença edemas

O diagnóstico é feito muitas vezes de forma presuntiva, com base no aparecimento repentino de sinais neurológicos em leitões nas primeiras semanas após o desmame. A ataxia parcial ou um andar cambaleante são os sinais mais consistentes, e os edemas subcutâneos palpebrais e sobre os ossos frontais são também indicativos.

O diagnóstico definitivo da doença dos edemas é baseado na presença das lesões típicas e cultura da E. coli com confirmação dos fatores de virulência (adesinas F18 e AIDA, toxinas VT2e, EAST1 e α-hemolisina). A cultura de amostras de intestino delgado e cólon geralmente origina culturas quase puras de E. coli hemolíticas ou não hemolíticas. No entanto, em casos de doença dos edemas a quantidade de bactérias pode diminuir em alguns casos e deste modo, um resultado bacteriológico negativo não exclui o diagnóstico de doença dos edemas. Como todas as E. coli produtoras de F18 são hemolíticas, a presença de colónias hemolíticas é utilizada com frequência como um meio rápido para a confirmação de um diagnóstico presuntivo da doença dos edemas. Em casos de doença subclínica ou doença dos edemas crónica ou em adultos, a cultura tem pouco valor porque a E. coli causadora da doença dos ede- mas tipicamente já não é uma estirpe dominante nos intestinos. Assim, a doença é diagnosticada pelas lesões, especialmente pela demonstração de arteriopatias subagudas ou crónicas e possíveis lesões focais de encefalomalacia.

A HIPRA desenvolveu um método mais rápido e fácil para permitir o diagnóstico da doença dos edemas, o Verocheck®.

O Verocheck® consiste num conjunto de cordas para recolha de fluídos orais, o que nos permite ter uma amostra abrangente de material a analisar, que será fixada em cartões FTA contidos no kit. Ao fixarmos a amostra nos cartões FTA, prevenimos a inativação patogénica, promovemos a proteção de ácidos nucleicos e não necessitamos de refrigeração da amostra. A partir dos cartões FTA é realizada uma análise PCR quantitativa para identificar e quantificar a presença de VT2e.

Prevalência da Doença dos Edemas em Portugal

Entre 2020 e 2023 a HIPRA realizou a análise Verocheck® em 58 explorações suinícolas em Portugal, e em 90% destas existiam sintomas compatíveis com a doença dos edemas e 79% sofreram incrementos de mortalidade. Como podemos verificar no gráfico 1, 51,7% das explorações apresentaram o resultado positivo, pelo menos a uma das amostras analisadas.

Notamos que em 2022 a prevalência da doença dos edemas aumentou substancialmente para 65% quando comparado com o ano anterior (23%). Um aspeto importante que pode influenciar este resultado é a diminuição do uso de antibióticos de uma forma geral a partir do início desse ano. Em junho de 2022 foi imposta a não utilização do óxido de zinco nos alimentos medicamentosos de suínos. No entanto, quando comparamos o primeiro semestre de 2022 com o segundo semestre de 2022, não se verificaram diferenças em termos de resultados analíticos para o diagnóstico de doença dos edemas utilizando o Verocheck®. Foram analisadas amostras de 20 explorações antes de junho e 20 depois de junho e em ambos os períodos, 65% das explorações apresentaram resultados positivos (…).

→ Leia este e outros artigos completos na Revista Voz do Campo – edição de janeiro 2025, disponível no formato impresso e digital.

Autoria: Vasco Martins, Technical Services Swine Business Unit HIPRA Portugal

 

SUBSCREVA E RECEBA TODOS OS MESES A REVISTA VOZ DO CAMPO

→ SEJA NOSSO ASSINANTE (clique aqui)