No final de novembro, o Fundão acolheu as 15ª Jornadas da FENAREG – Federação Nacional de Regantes de Portugal em conjunto com a ABCB – Associação dos Beneficiários da Cova da Beira, um encontro anual que reúne as Associações de Regantes filiadas.
O evento marcou um momento de reflexão, partilha e debate sobre os desafios e oportunidades no setor da gestão da água e da agricultura. Assim, a água e a resiliência hídrica foram apresentadas como fatores estratégicos para a agricultura, para as regiões, para a coesão territorial e para adaptação às alterações climáticas e proposto um modelo de financiamento multifundos para assegurar o investimento necessário até 2030, estimado em 2 mil milhões de euros, para modernizar e desenvolver o regadio, bem como uma governança da água que garanta a representatividade da agricultura na gestão deste recurso.
O Ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, presidiu à sessão de abertura do Encontro, destacando o grande plano do Governo, em matéria de regadio e de água, a “Água que Une”, onde há uma estratégia nacional integrada e onde há o objetivo, de poupar, da eficiência, mas obviamente de armazenar e de distribuir, de melhorar os investimentos que temos. Associada a esta estratégia está a ser pensada uma arquitetura financeira, que não contribua para o défice, que tenha fundos, não só europeus, como do próprio Orçamento Nacional, incluindo a água como um objetivo estratégico e que deve ter o financiamento de vários fundos, mas também de instrumentos financeiros, a partir do BEI, assim como do Orçamento da União Europeia, como do instrumento financeiro InvestEU.
“Água que Une” será dos projetos do Governo mais estruturantes a nível nacional porque vai permitir coesão territorial, competitividade e defesa do ambiente.
José Manuel Fernandes, destacou a importância de armazenar água, para distribuir de forma eficiente, através de uma rede interligada de água, com as dimensões da agricultura, consumo humano, ambiente e também proteção civil.
Sobre o Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira, cuja construção teve início na década de 80, e que tem uma área beneficiada de 12.500 hectares, o Ministro da Agricultura comunicou que será uma das obras a reabilitar nesta região, assim como em Idanha-a-Nova, entre outras no país. “Com o grupo de trabalho “Água que Une”, estamos a desenvolver uma estratégia nacional integrada para enfrentar a questão global da água no país. Este grupo produzirá uma abordagem de alto nível, capaz de definir metas e objetivos claros, ao mesmo tempo que estabelece formas concretas de os alcançar, apoiando decisões estratégicas e a alocação eficaz de recursos. Esta visão ambiciosa inclui a modernização de regadios emblemáticos, como os do Mira, Idanha-a-Nova e Cova da Beira, o aumento da capacidade de armazenamento através do alteamento de barragens e a reutilização de águas residuais tratadas em áreas estratégicas, como os campos de golfe no Algarve”, argumenta o Ministro da Agricultura e Pescas.
Por sua vez, José Núncio, presidente da FENAREG, à nossa reportagem, partilha a importância deste encontro anual não apenas como celebração de mais um ano de trabalho conjunto, mas também como uma oportunidade de abordar questões de interesse comum. “A água é um problema transversal a toda a sociedade. Embora aqui discutamos sobretudo as questões agrícolas, o impacto da água vai muito além, abrangendo o consumo humano, a indústria, a paisagem e o ambiente”, afirma.
Estiveram presentes mais de 150 participantes, entre os quais entidades gestoras de aproveitamentos hidroagrícolas de todo o país, representando mais de metade da área de regadio em Portugal (350.000 hectares) e a gestão de mais de 7.000 hm3 de água, representando também mais de metade da capacidade de armazenamento de água superficial em Portugal.
Também marcaram presença as autoridades da água e do regadio, autarcas da região, representantes das mais importantes Associações Nacionais e Confederações de Agricultores, dirigentes e técnicos da DGADR, das Associações de Beneficiários e da EDIA, agricultores, técnicos e outros especialistas de empresas do setor. Segundo José Núncio, “é fundamental estarmos todos juntos para encontrar soluções para os desafios hídricos”.
As Jornadas foram estruturadas em duas partes.
A primeira foi dedicada aos problemas específicos da região da Cova da Beira, onde autarcas e outros intervenientes locais debateram as necessidades e soluções hídricas desta área. Esta abordagem local permitiu dar visibilidade às particularidades da região anfitriã, prática que tem caracterizado as edições das jornadas.
Já na segunda parte, o foco deslocou-se para a estratégia nacional, com especial destaque para o projeto “Água que Une”. Este foi apresentado pelo professor António Carmona Rodrigues, responsável pela coordenação estratégica, e por José Pedro Salema, presidente do conselho de administração da EDIA, que detalhou a vertente de regadio, uma área crucial para as associações de regantes. José Núncio elogiou a escolha do nome do projeto: “Para resolver os problemas da água, temos de estar unidos. Esta é uma questão que exige cooperação entre todos os setores da sociedade”.
A sessão de abertura das Jornadas contou também com a participação de Paulo Fernandes, presidente da Câmara Municipal do Fundão, que sublinhou a evolução significativa dos sistemas de regadio, que agora operam com maior precisão tecnológica. Além disso, enalteceu o caráter colaborativo que permeia o setor, envolvendo entidades públicas, privadas e associações representativas. “Esse é o caminho para conseguirmos ter uma agricultura cada vez mais forte e um uso cada vez mais eficiente e justo da água”, partilha.
Um dos temas centrais da intervenção de Paulo Fernandes foi a valorização do regadio da Cova da Beira, reconhecido como um dos mais importantes do país.
O município tem trabalhado para modernizar e maximizar a eficiência deste sistema, essencial para o desenvolvimento agrícola da região. Paralelamente, o autarca destacou os esforços para criar e valorizar novos regadios a sul da Gardunha, na transição entre o Norte e o Sul de Portugal. Esses projetos visam expandir as oportunidades para os agricultores locais e reforçar a resiliência do setor agrícola face às mudanças climáticas.
O encerramento das Jornadas ficou marcado por uma mesa-redonda com representantes do Ministério do Ambiente, do Ministério da Agricultura, dos agricultores e da sociedade civil. Neste espaço de diálogo, foram debatidos temas como os investimentos em infraestruturas hídricas e os desafios relacionados com a resiliência da água no contexto das alterações climáticas (…).
→ Leia este e outros artigos completos na reportagem das XV Jornadas da FENAREG na Revista Voz do Campo – edição de janeiro 2025, disponível no formato impresso e digital.
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