Durante o Congresso Nacional de Zootecnia, a Voz do Campo foi ao encontro de Nuno Serra, secretário-geral da CONFAGRI.

À nossa reportagem deu ênfase às implicações do novo PEPAC (Plano Estratégico da Política Agrícola Comum) na produção animal e na agricultura em Portugal. Nuno Serra descreveu o atual cenário como “agridoce”, ressaltando tanto os avanços como os desafios que a reprogramação apresenta. Por um lado, Nuno Serra elogia o reconhecimento dado à produção animal no PEPAC, particularmente no âmbito dos eco-regimes, do bem-estar animal e dos apoios ligados, à produção de milho de silagem – “um fator importante para a produção animal”. Esses elementos, segundo o secretário-geral, são fundamentais para garantir a continuidade e o desenvolvimento sustentável da produção animal em Portugal.

Por outro lado, Nuno Serra criticou duramente a recente reprogramação do PEPAC, que, segundo ele, priorizou subsídios diretos “cegos” em detrimento do incentivo ao investimento. Essa abordagem, afirma, “pode levar à estagnação do setor agrícola (…). Dar o mesmo apoio a todos, independentemente da produção, desmotiva os que mais investem e produzem”, observa, enfatizando que a agricultura precisa de investimento em modernização, digitalização e eficiência para crescer.

A produção animal enfrenta uma pressão crescente devido às políticas ambientais europeias, como o Green Deal. Nuno Serra aponta que a produção animal, já sujeita a rigorosas normas de bem-estar animal e segurança alimentar, precisa lidar com novos regulamentos que, muitas vezes, ignoram as particularidades de países como Portugal.

Além disso, Nuno Serra destaca a necessidade de uma “literacia carbónica” no país, para que os consumidores entendam os reais impactos ambientais dos produtos que consomem. “É mais fácil trazer tofu do Brasil do que criar uma vaca Cachena em Arcos de Valdevez (…) mas o custo ambiental disso muitas vezes é ignorado”, comenta.

Défice estrutural na organização da produção em Portugal

Por sua vez, Nuno Serra aborda também o défice estrutural na organização da produção em Portugal. De acordo com o secretário-geral da Confagri, enquanto 50% da produção rural em Espanha passa por cooperativas, Portugal ainda enfrenta grandes dificuldades nesse modelo de organização, reforçando que o PEPAC reduziu drasticamente os incentivos para a organização da produção, o que vai contra as necessidades do setor. “Defendo acima de tudo a organização da produção, seja por OPS, associações, cooperativas (…) temos de nos organizar mais. Não é possível lutarmos no mundo sozinhos. É preciso fazer muito mais. É preciso todos os dias cativar e a melhor forma de cativar também é mostrar ao governo que tem de criar mecanismos incentivadores”, finaliza Nuno Serra.

De referir que, Nuno Serra participou na mesa-redonda “PEPAC e a Produção Animal”, que decorreu no segundo dia do ZOOTEC’2024.

→ Leia este e outros artigos completos na reportagem especial do ZOOTEC’24: XXIV Congresso Nacional de Zootecnia na Revista Voz do Campo – edição de dezembro 2024, disponível no formato impresso e digital.

SUBSCREVA E RECEBA TODOS OS MESES A REVISTA VOZ DO CAMPO

→ SEJA NOSSO ASSINANTE (clique aqui)