O enoturismo, como segmento crescente do turismo, tem sido uma importante alavanca para promover territórios vitícolas. Durante a Mesa-Redonda – “O Enoturismo e o Marketing na Valorização dos Territórios Vitícolas”, promovida recentemente no decorrer da Aguardente DOC fest Lourinhã, entre os dias 15 e 17 de novembro 2024, juntou diversos especialistas que contaram as suas experiências e refletiram sobre o papel do enoturismo como estratégia para valorizar os produtos e os territórios.

A Daniel Pinto, diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, coube a moderação da mesa-redonda, frisando que embora o enoturismo já atraia visitantes internacionais, apenas 15-20% desses turistas têm o enoturismo como principal motivação. Para Daniel Pinto, este dado reflete a oportunidade de crescimento no setor como o esforço das empresas e operadores turísticos em desenvolver programas mais específicos.

Aguardente DOC Lourinhã: Identidade e valor Local

Nádia Santos, técnica da Aguardente DOC Lourinhã, defendeu que o enoturismo é uma ferramenta poderosa para a venda direta e para a construção de valor. Segundo Nádia Santos, “nada melhor que recebermos na nossa casa, contarmos a nossa história, identidade, o território e as pessoas por trás da nossa marca (…) fazer valer e gerar valor”.

Medronho: Diferenciação e certificação

Carlos Fonseca, professor catedrático da Universidade de Aveiro e líder de um laboratório colaborativo dedicado à floresta e ao fogo, partilhou a sua experiência enquanto fundador da empresa Medronhalva, com sede em Penacova, Coimbra. Em 2013, criou a Medronhalva, uma empresa familiar que se dedica à gestão sustentável de propriedades focadas na produção de medronho. “Todo o nosso alinhamento foi feito, desde o início, numa tentativa de ter um produto diferenciador”, recorda. Carlos Fonseca destacou a importância do medronheiro, uma espécie mediterrânica única, enfatizando que “Portugal é o maior produtor a nível mundial”. A Medronhalva foi pioneira na certificação florestal de produtos não lenhosos, como o medronho e os seus derivados, incluindo a aguardente e o fruto em fresco. Essa inovação contribui para a valorização do território, promovendo a integração com o turismo, já que dispõe também de um alojamento turístico “Medronheiro”, situado junto à Praia Fluvial do Vimieiro (Penacova). “Mais de 90% dos nossos hóspedes são estrangeiros (…) isto é muito significativo para nós, para além de valorizar o território e há turismo associado ao medronhal uma vez que há experiências com a colheita, com o produto (…)”, afirma.

Quinta do Sanguinhal: Tradição familiar e valorização patrimonial

Ana Reis, representante da Companhia Agrícola do Sanguinhal, enfatizou a importância da parceria entre produtores para dinamizar o território e promover os produtos locais. A história familiar e o património reabilitado foram elementos centrais na estratégia da quinta. “Mostramos a casa dos avós, as vinhas que foram plantadas, as salas dos lagares (…) e contamos a história na primeira pessoa”, sublinha. Ana Reis menciona a dificuldade em encontrar profissionais qualificados para atender à procura de um público internacional. “Precisamos de pessoas formadas para trabalharem nesta atividade, é muito difícil arranjar profissionais (…) é preciso saber falar de vinhos, mas também falarem outras línguas”, remata.

Gastronomia e o Turismo

A docente na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, Olga Cavaleiro, trouxe uma análise crítica sobre o turismo gastronómico, afirmando que muitas vezes se cria uma “emoção ilusória” em vez de valorizar a tradição real.

Olga Cavaleiro criticou a tendência de alguns municípios promoverem receitas isoladas como bandeiras regionais, o que, segundo ela, empobrece a diversidade e a autenticidade do património. Propôs um modelo mais amplo, que valorize o contexto histórico e cultural das tradições gastronómicas. Segundo a docente, “não podemos promover aquilo que não conhecemos” e é crucial trabalhar em rede para qualificar o turismo gastronómico e promover as regiões de forma coesa.

Quinta do Rol

Carlos Melo Ribeiro, proprietário da Quinta do Rol na Lourinhã, partilhou a sua experiência de integrar a aguardente Lourinhã a um projeto mais amplo de enoturismo ligado ao turismo equestre. Inspirado pelos modelos franceses de conhaque e armagnac, Carlos Melo Ribeiro destacou a importância de acreditar na qualidade e no potencial de produtos regionais. O produtor também sublinhou a necessidade de promover a aguardente entre os mais jovens, “especialmente através da mixologia, apresentando o produto como uma alternativa autêntica e saudável”. Para Carlos Melo Ribeiro, a chave do sucesso está em nichos de qualidade, com propostas organizadas e complementares, que valorizem a singularidade e a autenticidade do território.

O moderador no encerramento da sessão, mencionou que o Aguardente DOC fest Lourinhã, é um bom exemplo de valorização, e Daniel Pinto reforça a importância de eventos como estes que reúnam produtores, especialistas e turistas para partilhar experiências e promover territórios.

→ Leia este e outros artigos completo na reportagem especial da 1ª edição do Aguardente DOC FEST na Revista Voz do Campo  edição de janeiro 2025, disponível no formato impresso e digital.

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