Depois de vários anos para chegarem a um acordo que fosse benéfico para ambas as partes, as negociações da UE com Mercosul (Argentina, Bolívia, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela) terminaram em 2019, mas muito cedo começaram a surgir obstáculos. Há muitas associações da UE que acham que o documento não é aceitável, pois não protege devidamente os agricultores UE.

JOSÉ MESQUITA MILHEIRO (empresário agrícola)

As associações UE dizem querer respeitar o meio ambiente, a biodiversidade, conforme os acordos de Paris tendo em vista uma trajetória em direção a um desenvolvimento sustentado, com baixas emissões de gases com efeito de estufa, e o incremento de uma economia circular.

Emmanuel Macron também criticou o acordo, a menos que os produtores Sul Americanos cumpram as normas da UE constantes no acordo. Há países da UE que já estão em protesto, com os agricultores na rua, porque a UE continua a cumprir os objetivos da sustentabilidade no domínio agrícola, nomeadamente em matérias relativas à preservação do ambiente, enquanto que alguns países do Mercosul não cumprem os acordos estabelecidos ao longo de vários anos de negociações.

Há muitos anos que a UE proibiu a aplicação de produtos fitofármacos contendo atrazina, imidaclopid, metalachlor, assim como a utilização de sementes geneticamente modificadas, que podem combater, na cultura do milho, os ataques de lagartas, as plantas resistem ao glifosato, podendo com este produto combater eficazmente as infestantes duma forma muito mais económica, dado que é um produto muitíssimo mais barato conseguindo, deste modo, maiores produtividades e crescimento do agronegócio com possibilidades de exportação sem qualquer tarifa aduaneira, na base do acordo UE/Mercosul.

Não se consegue saber quem fiscaliza os barcos carregados de milho que chegam aos portos Portugueses provenientes do Mercosul (América do Sul), principalmente do Brasil e Argentina, onde mais de 50% das substâncias ativas utilizadas na produção de milho são proibidas na UE.

Os agricultores Brasileiros e Argentinos afirmam que semeiam legalmente, 90% de sementes de milho transgénico e aplicam fitofármacos proibidos na UE. Ainda, recentemente por incumprimento de normas de segurança alimentar, a UE proibiu a importação de carne de vaca proveniente do Brasil por conter hormonas de crescimento (estradiol 17B), proibida na UE há mais de 40 anos, devido aos seus possíveis riscos cancerígenos. Assim, temos concorrência desleal de produtos agrícolas importados de regiões com regras menos restritas.

Temos tudo o que precisamos para produzir no nosso país, mas estamos a ser obrigados a não produzir para vir do estrangeiro onde as regras são piores quando comparadas com as nossas.

José Mesquita Milheiro
mesquitamilheiro@gmail.com

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