Nos rincões da Serra do Caldeirão e nas encostas de Monchique, uma tradição centenária ganhou novos contornos graças ao trabalho incansável da Professora Ludovina Galego, da Universidade do Algarve. Apelidada carinhosamente de “mãe científica da aguardente de medronho”, Ludovina dedicou mais de três décadas ao estudo e aprimoramento desta bebida icónica, transformando-a de uma curiosidade local num produto de qualidade reconhecida.
Um dos principais desafios foi combater a desinformação disseminada sobre o teor de metanol
A incursão da Professora Ludovina no mundo da aguardente de medronho começou em 1994, durante um projeto de mestrado focado na valorização da bebida como fonte de rendimento sustentável para a serra.

“Naquela época, a qualidade da aguardente era questionável, muito devido à transição de métodos tradicionais de fermentação para recipientes plásticos, o que resultava numa acidez elevada e numa perda de qualidade sensorial”, explicou Ludovina. Um dos principais desafios foi combater a desinformação disseminada sobre o teor de metanol na aguardente de medronho. “Havia um mito de que o metanol estava em níveis perigosos, mas os nossos estudos demonstraram que, embora presente devido à alta pectina do fruto, ele nunca esteve em excesso prejudicial”, esclareceu.
“Começamos a entender os fatores que diferenciavam uma boa produção”
O trabalho desta docente e investigadora envolveu extensas análises laboratoriais e fermentações experimentais em parceria com a Direção Regional de Agricultura. “Mapeamos onde estavam as melhores aguardentes com a ajuda de guardas florestais e começamos a entender os fatores que diferenciavam uma boa produção”, comentou. A partir disso, iniciou-se um movimento de modernização entre os produtores mais recetivos, que adotaram práticas aprimoradas de fermentação e destilação.
Incêndios forçam os produtores a procurar matéria-prima noutras regiões
Apesar dos avanços, a aguardente de medronho enfrenta desafios persistentes, especialmente os incêndios florestais que assolam a região e a diminuição da produção devido às mudanças climáticas. “Nos últimos dois anos, a produção de medronho praticamente desapareceu em algumas áreas, forçando os produtores a buscar matéria-prima noutras regiões para manterem os seus negócios”, lamentou Ludovina. Hoje, graças ao esforço coletivo iniciado por Ludovina Galego, a aguardente de medronho experimenta uma revalorização. “O mercado agora reconhece a importância da qualidade. Muitos consumidores procuram ativamente por uma boa aguardente”, afirmou. No entanto, a professora ressalta a necessidade de mais esforços em marketing e uma maior coesão entre os produtores para consolidar a posição da aguardente de medronho no cenário nacional e internacional.
→ Mais desenvolvimento na edição de fevereiro 2025 da Revista Voz do Campo.
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