No passado dia 22 de janeiro, na Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), realizou-se uma reunião para pôr em prática uma agenda dedicada ao debate sobre o uso de drones na agricultura – uma ferramenta tecnológica – tão vital para os agricultores portugueses, trazendo inovação e eficiência ao setor.

Com a participação do InovTechAgro, ANPROMIS, ANAC – Autoridade Nacional da Aviação Civil, e CropLife Portugal, deu-se início a um conjunto de ações com os seguintes objetivos: Rever o atual enquadramento legal para o uso de drones na proteção das culturas e desenvolver uma proposta para o Grupo Operacional “+Drone”, que terá como foco testar, disseminar e capacitar os agricultores para o uso responsável e eficiente desta tecnologia. Este foi o mote para conversar com Luís Alcino, coordenador do InovTechAgro.

Sobre as propostas de alteração ou atualização da legislação relacionada ao uso de drones na agricultura, quais são as principais mudanças previstas e como elas podem impactar os agricultores?

A principal mudança é agilizar a possibilidade do uso de drones na aplicação de produtos fitofarmacêuticos – uma técnica de aplicação nova, alargando os atuais regimes de exceção. É uma tarefa que passa por rever a atual legislação europeia, que requer a separação do conceito de aplicação aérea de um produto fitofarmacêutico feita por um drone face a uma aeronave convencional, que implica a identificação de cenários explícitos em culturas agrícolas que o uso deste instrumento beneficia inequivocamente desta técnica de aplicação, por exemplo quando os meios convencionais de máquinas agrícolas não podem entrar no terreno por via das condições adversas do solo ou por segurança do operador. Esta alteração a acontecer irá trazer mais equidade aos meios utilizados entre os agricultores portugueses e europeus face aos agricultores de outras regiões do mundo, da Ásia nomeadamente, onde este tipo de instrumento é muito utilizado, com baixos custos de operação e grandes áreas de intervenção.

Grupo de reunião na DGAV, que decorreu no passado dia 22 de janeiro – em que participaram o InovTechAgro – (ANPROMIS e Politécnico de Portalegre que presidem), a CropLife Portugal e a ANAC

Em que consiste este Grupo Operacional + Drone? Quais serão as fases do projeto?

O InovTechAgro face às necessidades sentidas pelo setor, pretende lançar um GO envolvendo as entidades reguladoras e as entidades do setor em quatro grandes grupos de culturas – cereais, vinha, olival e hortícolas permitindo dinamizar ações de demonstração, capacitação e regulação do uso correto deste tipo de equipamento. Para isso contamos identificar unidades piloto destas culturas para demonstração e reforçar a validação de resultados científicos que já existem sobre esta matéria, e os agentes que já se encontram a operar no mercado nacional, para em conjunto e de forma concertada promover o uso eficiente dos equipamentos, assim como desenvolver ferramentas de treino inovadoras como a simulação de voo deste tipo de drones com recurso a Realidade Virtual.

Quais são as expectativas em relação às oportunidades que os drones trarão para a agricultura em Portugal?

Julgamos que as expectativas são altas considerando que este tema tem sido claramente despoletado pelo setor, face às oportunidades que o setor já percebeu que este tipo de técnica permite e à necessidade de trabalhar de igual para igual com os demais agricultores onde o uso é generalizado com vantagem comercial para a redução dos custos de produção dessas culturas. Da mesma forma, esperamos conseguir contribuir para um maior número de operadores certificados nesta área incentivando a formação de operadores e registos de equipamentos.

Como a utilização de drones pode melhorar a sustentabilidade e a eficiência da produção agrícola em Portugal. Quais são os benefícios para os agricultores e para o meio ambiente?

Os drones são equipamentos ágeis de utilizar e manobrar em condições em que as máquinas convencionais nem sempre o permitem (por exemplo zonas de encosta de declive acentuado), são equipamentos com motorização elétrica reduzindo a pegada de carbono associada ao uso de combustíveis fósseis, não compactam o solo podendo substituir-se a equipamentos convencionais quando existe este risco, e permitem a segurança dos operadores tanto no risco mecânico de acidentes com máquina, como na exposição ao produto pela distância a que ficam dos campo de aplicação. Do ponto de vista do ambiente não entendemos que haja mais risco que numa aplicação standard se bem utilizados e cumprindo os requisitos de formação e segurança do operador e do equipamento. A boa utilização passa pelo controlo de fatores técnicos de aplicação como velocidade de voo, bicos e altura de voo (diferente da aeronave convencional) e naturalmente das condições atmosféricas no momento de aplicação (de forma idêntica com o que já acontece com um pulverizador quando engatado num trator).

O facto do drone poder voar de forma muito dirigida ao alvo, estamos crentes que poderá mesmo aumentar a eficiência de uso dos produtos fitofarmacêuticos, podendo reduzir a quantidade a aplicar dado o menor desperdício causado na operação.

Importa aqui naturalmente, também um trabalho das casas comerciais destes produtos caminharem no sentido de desenvolverem produtos mais adaptados a esta técnica.

→ Leia este e outros artigos publicados na edição de fevereiro 2025 da Revista Voz do Campo.

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