No passado dia 26 de fevereiro, tive a oportunidade de participar na Audição do Grupo de Trabalho do Setor Vitivinícola, onde pude partilhar algumas das preocupações e ideias que considero fundamentais para o desenvolvimento do enoturismo em Portugal. Durante a nossa intervenção, expliquei, como vice-presidente da Associação Portuguesa de Enoturismo (APENO), vários pontos essenciais para o futuro do setor, focando-me em desafios, soluções e oportunidades.

Luis Souto. Vice-presidente na APENO – Associação Portuguesa de Enoturismo

Comecei o meu discurso abordando uma pergunta frequente: “O que é o enoturismo?” É algo que muitas vezes nos questionam. Para mim, o enoturismo é, essencialmente, o turismo motivado pelo vinho. O turista, seja nacional ou internacional, tem como principal motivação o vinho. Esse turista pode visitar uma quinta ou até participar nas atividades em áreas urbanas, algo que estamos a tentar expandir. O conceito de enoturismo urbano é importante, pois podemos levar o produtor até às cidades, para promover a sua marca, desenvolver o seu produto e, claro, alavancar a venda de vinhos.

Contudo, o nosso setor enfrenta desafios. A diminuição do consumo de vinho e as questões relacionadas com a rotulagem e a mutação de hábitos de consumo são problemas reais. Mas acredito que o enoturismo pode ser uma solução. O enoturismo não se resume a consumir vinho, mas a oferecer experiências que envolvem o vinho, que conetam o consumidor ao produto de uma forma única. Essas experiências têm o potencial de aumentar mercados, tanto nacionais quanto internacionais, e, mais importante ainda, impulsionar a venda de vinho. No final, o objetivo do enoturismo é sempre a venda de vinhos.

Além disso, outro ponto que destaquei foi a necessidade de termos uma definição clara de enoturismo. Falta-nos um conceito estruturado, e sem essa definição, fica difícil para os produtores utilizarem as ferramentas certas para aumentar as vendas. A venda direta na adega, por exemplo, é uma prática cada vez mais importante, pois permite eliminar intermediários e, com isso, aumentar as margens de lucro. É uma forma de garantir que o enoturismo contribua diretamente para o aumento da rentabilidade dos nossos produtores.

Atualmente, a nossa associação conta com 140 associados, dos quais 77% são produtores de vinho. Isto representa uma base sólida, já que a APENO representa mais de 80% da faturação do setor vitivinícola. Mas, como disse, o enoturismo não se limita apenas à produção de vinhos. A animação turística tem um papel fundamental, e temos 7,5% dos nossos associados a atuar nesta área. O enoturismo é um setor que se diversifica e que envolve muitos outros profissionais além dos produtores de vinho.

Uma questão que nos preocupa muito é a curta duração das visitas às quintas, que são, em média, de apenas meio-dia. A falta de infraestrutura de alojamento nas quintas é um dos principais fatores que contribuem para essa baixa permanência. O alojamento, aliás, é a sétima causa mais procurada pelos enoturistas, mas, infelizmente, ainda é um grande desafio. Por que falta alojamento? Porque não há possibilidade de o construir. Não há licenças de construção, não há autorização para criar novas estruturas de alojamento nas quintas. E é por isso que, em grande parte, a permanência dos turistas é tão curta.

O que proponho é que possamos criar soluções para resolver essa questão. Por exemplo, há alternativas como o “glamping” (acampar com glamour), casas de madeira ou construções amovíveis, como casas de árvore, que poderiam ser facilmente implementadas nas quintas. No entanto, a falta de regulamentação e a resistência de algumas autarquias são obstáculos a superar. É fundamental que se permita a criação de infraestruturas de alojamento para que possamos prolongar a estadia dos enoturistas nas quintas, aumentar a qualidade das experiências e, por conseguinte, aumentar a rentabilidade das nossas explorações vinícolas.

Por último, destaquei o sucesso de Portugal como destino de enoturismo. Em 2024, recebemos 2,7 milhões de enoturistas, o que coloca Portugal como o segundo maior destino mundial de enoturismo, logo atrás da Itália. Este é um feito impressionante, mas não podemos descansar. Devemos continuar a criar experiências autênticas nas quintas, como provas de vinhos e visitas guiadas, para manter e aumentar esse fluxo de turistas. Especialmente os turistas dos Estados Unidos, que têm se mostrado um mercado muito relevante para o enoturismo em Portugal.

Na APENO, estamos a trabalhar em diversas soluções para resolver os problemas identificados, desde a formação profissional até a dignificação das profissões no setor, além de medidas concretas para impulsionar o enoturismo. Como disse, o objetivo final é sempre a venda de vinhos, e acredito firmemente que o enoturismo será uma das chaves para alcançar esse objetivo. Estamos empenhados em dar os passos certos para garantir um futuro próspero para o setor vitivinícola e para o enoturismo em Portugal.

Luis Souto
Vice-presidente na APENO – Associação Portuguesa de Enoturismo

Intervenção realizada durante a Audição da Associação Mundial de Enoturismo e da Associação Portuguesa de Enoturismo – Grupo de Trabalho – Setor Vitivinícola – Comissão de Agricultura e Pescas. COMISSÃO DE AGRICULTURA E PESCAS / REUNIÃO DO DIA 26 de fevereiro de 2025.

Conteúdo relacionado:

Relatório “Pensar o Enoturismo, a Realidade do Enoturismo em Portugal – A APENO e a (Des)Organização do Setor”

SUBSCREVA E RECEBA TODOS OS MESES A REVISTA VOZ DO CAMPO

→ SEJA NOSSO ASSINANTE (clique aqui)