O “Escaravelho” é uma inovação que surge como solução para a escassez de mão de obra qualificada e a necessidade de reduzir o uso de produtos químicos na viticultura. Trata-se de uma máquina autónoma destinada ao tratamento de vinhas, cujo conceito foi desenvolvido por Tomás Silva e João Martins, estudantes do Mestrado em Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro (UAveiro), sob a orientação do professor António Manuel Ramos. Este projeto foi recentemente premiado com o Prémio Geração Digital 2024, atribuído pela Siemens.A falta de mão de obra qualificada, o uso de fitofármacos e as operações repetitivas associadas à viticultura ditaram a necessidade de recorrer a novos métodos mecanizados neste setor. Para responder a estes problemas, a equipa da Universidade de Aveiro concebeu uma máquina autónoma que pretende transformar o futuro da cultura da vinha. O Escaravelho, nome da máquina, foi concebido “para permitir aos viticultores modernizar este setor fundamental para a economia portuguesa” e otimizar as tarefas associadas ao tratamento e fertilização da vinha, explica António Manuel Ramos.
Os benefícios da máquina para os viticultores e para a indústria são significativos: “este equipamento permite reduzir o consumo de recursos, minimizar o impacto ambiental e aumentar a eficiência das operações. Com uma carga de bateria, pode operar entre 8 e 10 hectares, realizando múltiplas atividades ao mesmo tempo”, continua António Manuel Ramos.
O Escaravelho destaca-se dos restantes produtos do mercado pela sua versatilidade, uma vez que pode “executar várias tarefas em simultâneo, como desengace, cura, descasque ou re-descasque”, tarefas associadas ao tratamento da vinha. “Terá ainda um sistema de GPS e um sistema de visão, que lhe permitem ser uma máquina autónoma, ou seja, não necessita de elementos externos, como um trator ou um operador”, acrescenta. Acrescenta que a máquina “é uma solução híbrida, funcionando a eletricidade e recorrendo a um gerador de combustão quando necessário”.
António Manuel Ramos diz ainda que esta máquina permite reduzir o uso de produtos fitofarmacêuticos “ao controlar a pulverização e ao não utilizar produtos químicos na monda”, processo de eliminação de ervas daninhas.
Próximos passos
O projeto recebeu recentemente o prémio Geração Digital 2024 e, além do prémio principal, a equipa também venceu a categoria Inovação e Sustentabilidade, destacando-se pelo impacto transformador da sua tecnologia. A conquista foi recebida com entusiasmo pela equipa, que destacou outros projetos concorrentes. “Houve alguns projetos muito interessantes na área de inteligência artificial e digitalização da indústria, mas o nosso foco na sustentabilidade e nos desafios propostos pelas Nações Unidas fizeram a diferença.”
Atualmente, os alunos e o professor pretendem patentear a máquina e estão à procura de parceiros para construir um protótipo em escala real. “O conceito e o design mecânico estão finalizados”, mas precisamos avançar para a próxima etapa: “virtualizar as operações criando um gémeo virtual”, conclui António Manuel Ramos.