• Opinião de António Saraiva – CEO do InnovPlantProtect

Desde que assumi a liderança do InnovPlantProtect (InPP), dediquei-me a conhecer a sua equipa e o seu dia-a-dia. Tenho vivido a sua missão e testemunhado o seu contributo para a agricultura. Sou capaz de antecipar a importância crescente para as culturas mediterrânicas, que facilitadas pelos padrões do clima, alargam as suas fronteiras.

António Saraiva – CEO do InnovPlantProtect

O meu conhecimento sobre o papel dos laboratórios colaborativos (CoLabs) e, mais concretamente, do InPP, era moderado, fruto de interações anteriores no âmbito da minha atividade profissional. No entanto, na visita que realizei em 2024 ao InPP, por ocasião da celebração do seu quinto aniversário, fiquei impressionado com a difícil tarefa que foi a sua implantação, tanto a nível conceptual como físico, na cidade de Elvas, e com a capacidade que o projeto teve de atrair e fixar jovens investigadores altamente qualificados. Nunca é de mais reconhecer e louvar o trabalho do meu antecessor, Pedro Fevereiro, e de todos os associados fundadores, — com destaque para o município de Elvas —, que acreditaram na ideia e que dela continuam a querer fazer parte.

Naquela celebração, ficou evidente o empenho e os resultados da equipa, que tem servido a agricultura com dedicação. Muitos dos seus membros talvez não tivessem inicialmente a agricultura nos seus horizontes profissionais, mas foram seduzidos pelos desafios que ela apresenta. O foco desta equipa na resposta aos problemas das culturas, agravados pelas alterações climáticas, é um ativo de inquestionável valor.

O compromisso com a aquisição de conhecimento para impulsionar a inovação e a sustentabilidade tem sido o eixo central do InPP.

Procuramos identificar e desenvolver soluções eficazes para proteger as culturas contra pragas e doenças. E não nos limitamos a encontrar novas respostas – como bioprotetores, bioestimulantes ou serviços digitais -, mas também em saber a melhor forma de aplicá-las. Para isso, dedicamo-nos a desenvolver formulações que garantam eficácia em condições reais de campo e a criar serviços digitais intuitivos, assegurando que as soluções cheguem de forma acessível e eficiente aos utilizadores.O InPP está a consolidar-se como um centro de referência em investigação aplicada, combinando biotecnologia e digitalização, para oferecer um leque de soluções para a proteção das culturas, centrado na prevenção, monitorização e mitigação de ameaças fitossanitárias, mas também na entrega de soluções bioinspiradas que possam ser peças centrais ou complementares para a otimização da produtividade agrícola.

Nos primeiros meses como CEO, um dos meus principais objetivos tem sido o de melhorar a capacidade de resposta do InPP e a sua orientação para o mercado, uma vez que nos aproximamos da fase de negociação dos produtos desenvolvidos e a serem patenteados.

No entanto, não me consigo alhear do facto de que a continuidade do InPP está ainda muito dependente da definição do quadro de financiamento público pós-PRR. Esta é uma preocupação comum à maioria dos CoLabs, criados com base no quadro financeiro vigente. Entendo a complexidade duma decisão sobre o futuro da extensão e duração dos apoios públicos, mas ela urge. A autonomia financeira de unidades de investigação deste tipo não se alcança em apenas seis anos. Estamos a explorar todas as vias para aumentar as nossas receitas próprias, mas, por si só, ainda são insuficientes.

Agora que conheço de perto o InPP, reafirmo que a nossa agricultura e a sua evolução não o podem dispensar com ligeireza. Deitar por terra todo o investimento realizado ao longo destes seis anos, cumpridos a 24 de janeiro, seria um luxo insensato para um país, onde, repetidamente, o setor se queixa da falta de investigação dedicada e centrada nos seus reais problemas.

A incerteza sobre o futuro próximo é o problema para o qual, sozinhos, ainda não encontrámos uma solução. Mas isso não nos fará parar. Este é o meu compromisso.

→ Leia este e outros artigos na edição de março 2025 da Revista Voz do Campo.

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