O setor rural em Portugal está a ganhar destaque como uma opção atrativa para investidores nacionais e internacionais. Com um aumento significativo no volume de transações, especialmente em regiões como o Alentejo e a Beira Interior, o mercado beneficia de preços competitivos e de uma forte aposta na sustentabilidade. Bruno Amaro, Rural Business Developer da Savills, explica em entrevista as principais tendências, desafios e oportunidades no setor, destacando a crescente procura por propriedades agrícolas, florestais e projetos de captura de carbono.
O que representa para a Savills Portugal o Departamento Rural?

O Departamento Rural da Savills Portugal representa um setor estratégico, dedicado a oferecer serviços especializados na intermediação, consultoria de negócio, avaliação e gestão de ativos rurais. Combinamos um profundo conhecimento do mercado com uma abordagem personalizada, apoiando clientes na otimização dos seus investimentos, tanto para fins agrícolas, florestais, como para iniciativas de sustentabilidade e desenvolvimento. Este departamento veio completar uma lacuna na nossa filosofia interna de oferecer serviços numa perspetiva de 360º aos nossos clientes. Muitos investidores de outras áreas pretendem diversificar os seus investimentos no setor primário e capital natural por isso, agora estamos preparados para prestar apoio neste processo.
Quais são as principais tendências no mercado rural em Portugal nos últimos anos?
O volume de transações no setor rural tem crescido significativamente, com destaque para regiões como o Alentejo e Beira Interior, onde há um forte investimento em culturas perenes. Este crescimento tem-se refletido na valorização sustentada dos terrenos, nomeadamente através da criação de perímetros de regadio, embora ainda exista margem de progressão, particularmente na Beira Interior. Comparativamente com outros mercados europeus, Portugal apresenta preços competitivos, o que reforça o interesse dos investidores.
Quais são os tipos de propriedades rurais com maior procura no mercado atual? (ex: quintas, propriedades agrícolas, áreas florestais)
Os terrenos agrícolas são os mais procurados, especialmente para a produção de olival, vinha, amendoal e citrinos, bem como para culturas emergentes como abacate, manga, pistacho e kiwi amarelo. Existe também um crescente interesse por terras florestais certificáveis e adequadas para projetos de captura de carbono e eucaliptais. A agrofloresta, que combina atividades agrícolas e florestais, tem registado uma procura crescente.
Como a Savills Portugal lida com a análise e avaliação de propriedades rurais? Quais são os principais critérios utilizados?
A Savills Portugal tem um departamento de avaliações rurais, dedicado ao setor, que oferece serviços avaliação de propriedades agrícolas e negócios agrícolas. Este departamento combina uma larga experiência na avaliação de propriedades rústicas com um elevado nível de know-how em gestão e investimento em propriedades e negócios agrícolas. A Savills disponibiliza avaliações assentes em dois critérios: rendimento, em que valorizamos a propriedade pelo retorno que oferece ao proprietário, no curto, médio e longo prazo; e comparáveis, onde é elaborado um estudo do mercado disponível e de transações efetuadas para valoração da propriedade. A combinação destas duas perspetivas permite uma avaliação realista da propriedade em questão.
Quais são os desafios mais comuns que os investidores enfrentam no setor rural em Portugal?
O mercado português enfrenta diversos desafios, começando pela dimensão das propriedades. Com exceção do Alentejo e de algumas áreas da Beira Interior, Portugal é caracterizado por superfícies fracionadas e de pequenas dimensões. A falta de uma superfície mínima adequada para a agroindústria representa um problema estrutural significativo.O acesso à água, essencial para o desenvolvimento de plantas e animais, é um fator determinante na hora de investir. Atualmente, não há procura por culturas de sequeiro. Em relação às propriedades disponíveis no mercado, aquelas que atendem aos requisitos mencionados são extremamente raras, o que torna sua localização um grande desafio. É nesse contexto que a Savills se destaca, oferecendo consultoria especializada e um portfólio diversificado de propriedades para atender às necessidades de seus clientes.
Como a sustentabilidade e as questões ambientais impactam as decisões de compra e venda no setor rural?
A sustentabilidade é cada vez mais um fator decisivo, com muitos investidores a procurar propriedades compatíveis com boas práticas ambientais e sistemas de certificação. Além disso, projetos de captura de carbono e gestão eficiente da água estão a ganhar relevância no setor.
Que tipo de serviços oferece o departamento Rural da Savills Portugal, além da mediação de compra e venda?
O departamento de Rural da Savills disponibiliza uma consultoria especializada para avaliação, gestão e desenvolvimento de projetos rurais, prestando um acompanhamento em todas as fases do processo de investimento, incluindo financiamento, criação de plano de negócios, seleção de culturas, análise de viabilidade e a implementação de soluções sustentáveis. A equipa presta ainda serviços de gestão de propriedades, assegurando uma abordagem integrada e eficiente.
Quais são as regiões de Portugal que têm mostrado maior valorização de propriedades rurais?
Atualmente, as áreas com maior procura e interesse por parte dos investidores são o perímetro de rega do Alqueva e o Algarve, seguidas pelo Sudoeste Alentejano, Douro e Beira Interior. Fatores como disponibilidade de água, clima favorável e extensão das propriedades são determinantes para a atratividade destas zonas.
A Savills oferece consultoria em gestão de propriedades rurais, como explorações agrícolas ou gestão florestal?
Sim, o departamento oferece um serviço abrangente de consultoria e gestão, assegurando um acompanhamento personalizado e eficiente, de acordo com as necessidades dos proprietários e investidores.
Como o mercado rural português se compara com outros mercados rurais internacionais?
Portugal beneficia de condições climáticas excecionais, com um elevado número de horas de sol e um clima mediterrânico ameno ao longo de todo o ano, fatores que lhe conferem uma vantagem competitiva face a outras regiões. A qualidade das suas produções agrícolas é amplamente reconhecida, permitindo ao país destacar-se na exportação de azeite, tomate e mirtilos. O mercado nacional apresenta uma rentabilidade atrativa, com retornos médios entre 6% e 8%, competindo diretamente com Espanha e Itália nas culturas mediterrâneas e com os países nórdicos no setor florestal. Adicionalmente, Portugal distingue-se pela adoção de técnicas agrícolas inovadoras, com especial enfoque na gestão eficiente dos recursos hídricos, reforçando a sua posição como referência na produção agrícola sustentável e de elevada qualidade.
Quais são as perspetivas para o futuro do mercado rural em Portugal, especialmente tendo em conta fatores como a transição para energias renováveis e a mudança nas práticas agrícolas?
Portugal é um destino muito apelativo para investimento rural tendo em conta fatores como a diversidade de terrenos, clima favorável, infraestruturas agrícolas existentes, políticas de apoio à agricultura e silvicultura, além da crescente valorização da sustentabilidade. Além disso, a recuperação de áreas afetadas por incêndios florestais também cria oportunidades para novos investimentos e reabilitação de ecossistemas, proporcionando oportunidades em mercados novos, como seja o dos créditos de carbono e capital natural. A potencialidade de investimento em terrenos agrícolas e florestais em Portugal é significativa e deverá continuar a crescer nos próximos anos, à medida que aumenta o foco em tópicos como sustentabilidade, segurança alimentar e gestão de recursos naturais.
Qual é o perfil típico dos compradores de propriedades rurais em Portugal?
São principalmente investidores estrangeiros ou locais? Os investidores dividem-se entre grupos industriais, que já operam no setor, e fundos de investimento, family offices e investidores institucionais que procuram ativos com boa rentabilidade. As principais nacionalidades, para além dos portugueses, incluem espanhóis, franceses, britânicos e neerlandeses, havendo também um crescente interesse de investidores dos EUA e do Golfo Pérsico.
→ Leia este e outros artigos na edição de março 2025 da Revista Voz do Campo.