A aguardente de medronho, produto típico da região centro de Portugal, está a ganhar destaque graças ao trabalho de investigação e desenvolvimento liderado por profissionais como a professora Goreti Botelho, da Escola Superior Agrária de Coimbra.
Durante uma recente apresentação no Seminário Internacional sobre Aguardentes, Territórios e Sustentabilidade que decorreu dia 15 de novembro do ano passado, enquadrado no evento denominado “Aguardente DOC fest Lourinhã” a professora e investigadora Goreti Botelho, destacou três perspetivas fundamentais sobre o futuro desta cultura: a planta e os frutos, a tecnologia de produção, e o interesse crescente pela fileira do medronho.
O medronheiro tem encontrado novas aplicações em áreas como a doçaria, bebidas diversas e até produtos de saúde e cosmética
O medronheiro é uma planta que demonstra uma capacidade de resiliência notável, capaz de regenerar após incêndios devastadores. Esta característica torna-a uma espécie valiosa não apenas do ponto de vista ecológico, mas também económico. O fruto do medronheiro, utilizado tradicionalmente para a produção de aguardente, tem encontrado novas aplicações em áreas como a doçaria, bebidas diversas e até produtos de saúde e cosmética. O consumo de medronho em fresco também está a ser explorado, ampliando as possibilidades de mercado.
30 clones em estudo, prometem avanços significativos na produção de medronho
O trabalho de seleção clonal realizado pela Escola Superior Agrária de Coimbra tem demonstrado que as plantas clonadas apresentam maiores níveis de produção em comparação com as originadas de sementes. Atualmente, existem 30 clones em estudo, prometendo avanços significativos na produção de medronho. Estudos recentes avaliaram também o impacto do estado de maturação dos frutos na qualidade da aguardente. Verificou-se que a colheita de medronhos na sua fase vermelha contribui para uma maior complexidade do destilado. Outro aspeto estudado foi a adição de água antes da fermentação, uma prática tradicional que, em anos de seca, ajuda a melhorar a cinética da fermentação e a qualidade do produto final.
As palavras mais associadas à aguardente de medronho foram “sabor”, “qualidade”, “suave” e “aromática”
Para compreender melhor as opiniões sobre a fileira do medronho, foi aplicado um questionário a 24 participantes das regiões de Abrantes e Sertã. As palavras mais associadas à aguardente de medronho foram “sabor”, “qualidade”, “suave” e “aromática”. Entre as estratégias sugeridas para promover o produto destacam-se a participação em feiras, o desenvolvimento de novas aplicações gastronómicas, a criação de zonas de mercado e o reforço de ações de marketing.
A cadeia de valor do medronho está bem definida, envolvendo desde produtores até ao consumidor final. Esta cultura, ainda recente em comparação com outras fruteiras, tem potencial para crescer significativamente com investimentos em investigação, desenvolvimento e promoção. Como conclui a professora Goreti Botelho, é fundamental continuar a investir nesta área para maximizar as oportunidades de mercado para o medronho e os seus derivados.
O medronheiro, com a sua resiliência e versatilidade, promete ser uma peça-chave no desenvolvimento sustentável e na adaptação às mudanças climáticas
Em entrevista à reportagem Voz do Campo, a professora Goreti Botelho faz-nos uma análise aprofundada sobre a produção de aguardente de medronho na região centro de Portugal, destacando as transformações e inovações na cultura e processamento do medronheiro. A conversa explorou três perspetivas principais: a produção, a tecnologia e o interesse crescente de novos produtores.Tradicionalmente colhido em espaços naturais, o medronho tem visto uma mudança significativa com o surgimento de pomares de medronheiro, graças ao empenho de produtores que investem em hectares de cultivo. A professora Botelho destacou o papel crucial da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) na seleção clonal, uma técnica que tem potencializado a qualidade e a uniformidade das plantas. “Vários clones estão a ser plantados a nível nacional, fruto do trabalho contínuo da ESAC,” ressaltou.
A melhoria tecnológica está na base de uma aguardente de maior qualidade
A produção de aguardente de medronho tem evoluído tecnologicamente, procurando não apenas aumentar a quantidade, mas, sobretudo, a qualidade do produto final. Este avanço é fundamental para a competitividade no mercado interno e externo. Segundo a professora, “a melhoria tecnológica tem sido essencial para alcançar uma aguardente de maior qualidade, permitindo que a produção se adapte aos padrões exigidos para exportação.”
Há um crescente interesse por parte de novos produtores, atraídos pelo potencial económico do medronho, seja para a aguardente, para consumo fresco, ou outras aplicações. A professora enfatizou que o medronheiro, devido à sua resiliência, é particularmente atrativo num contexto de mudanças climáticas. “O medronheiro tem uma capacidade impressionante de regeneração após incêndios, tornando-se uma cultura promissora para áreas afetadas por incêndios.”
Formação de associações de produtores surge como estratégia para consolidar o setor
No entanto, Goreti Botelho também apontou desafios, como a necessidade de aumentar a escala de produção para viabilizar a exportação. A formação de associações de produtores surge como uma estratégia para consolidar o setor. A professora salientou ainda o potencial do medronheiro em contribuir para o ordenamento florestal, pois a sua resistência ao fogo pode ser um trunfo na prevenção da propagação de incêndios.
A professora Goreti Botelho na sua entrevista revelou um cenário de oportunidades e desafios para a produção de aguardente de medronho em Portugal. Com investimentos em tecnologia, expansão da cultura e organização dos produtores, o setor tem tudo para crescer nos próximos anos, contribuindo significativamente para a economia local e nacional.
→ Leia este e outros artigos publicados na edição de fevereiro 2025 da Revista Voz do Campo.