A implementação de planos de vacinação em vacadas de carne está cada vez mais difundida para proteger os animais contra vírus como ibr e bvd, que afetam a fertilidade e produtividade.
No entanto, embora a decisão de vacinar seja frequentemente baseada em análises sanguíneas por amostragem, a monitorização da evolução das doenças após a vacinação ainda não é uma prática comum. Este artigo destaca a importância da monitorização dos planos vacinais contra ibr e bvd e apresenta ferramentas simples para implementá-la em vacadas de carne.
A profissionalização e a necessidade de sustentabilidade no setor agropecuário levam os produtores a procurar uma melhor eficiência reprodutiva e produtiva das suas explorações. No caso das vacadas de carne, o principal objetivo é obter o maior número de vitelos desmamados por ano. Para tal, é essencial um bom maneio nutricional e animal, uma ótima gestão de recursos da exploração e um controlo das doenças infeciosas que afetam a fertilidade e a produtividade. Por outro lado, a crescente pressão por parte dos consumidores, da indústria e das entidades reguladoras para produzir carne de forma sustentável, reduzindo o impacto ambiental e a utilização de antibióticos, tem levado a um maior foco na prevenção e na adoção de vacinas para melhorar o estatuto sanitário do efetivo.
A vacinação do efetivo contra determinadas doenças tem dois objetivos: reduzir ou prevenir o aparecimento de sinais clínicos (como mortalidades embrionárias, abortos, pneumonias, entre outros) e, simultaneamente, bloquear a circulação dos vírus no rebanho, prevenindo assim a infeção de novos animais.
No caso das vacadas de carne, a vacinação contra a IBR e a BVDV visa melhorar a fertilidade, prevenir as mortalidades embrionárias e os abortos causados por estes vírus e bloquear a sua circulação dentro da vacada da forma mais eficaz possível. Ambos os vírus têm uma característica particular: são capazes de gerar animais infetados para toda a vida (portadores latentes, no caso da IBR, e animais persistentemente infetados, no caso da BVDV), que são o principal foco de infeção dentro do efetivo. Apesar desta semelhança, os mecanismos pelos quais cada um dos vírus origina estes animais portadores diferem, tornando importante abordar cada vírus separadamente. Uma característica comum a ambos os vírus é que a estratégia mais eficaz para controlar novas infeções combina um plano vacinal, medidas de maneio e biossegurança adequados à realidade da vacada com a monitorização laboratorial contínua das duas doenças ao longo do tempo.
A realização de uma avaliação pontual do efetivo para conhecer a situação epidemiológica da exploração em relação à IBR e BVDV é uma prática comum antes de iniciar um plano vacinal. No entanto, a monitorização e a avaliação das melhorias no estatuto sanitário após a vacinação são menos frequentes, apesar de fornecerem informações valiosas. De seguida, serão apresentadas as novas ferramentas disponíveis para realizar esta monitorização de forma simples e económica, ajustada ao tipo de vírus e ao objetivo do protocolo de vacinação.
IBR (RINOTRAQUEÍTE INFECIOSA BOVINA)
O vírus da IBR é um herpesvírus, o que significa que, uma vez que um animal seja infetado, permanecerá portador do vírus para toda a vida. Este pode alternar entre um estado de latência (sem manifestar sintomas da doença) e um estado de reativação, desencadeado por situações de stress ou imunossupressão (por exemplo, transporte, parto, stress térmico ou outras doenças). Durante a reativação, o animal portador pode excretar o vírus e infetar novos animais dentro da vacada.
Num rebanho, a principal fonte de novas infeções por IBR são os animais portadores latentes. Em explorações não vacinadas, um único animal portador pode infetar, ao longo da sua vida produtiva, até sete novos animais. Já em explorações vacinadas, o objetivo é reduzir o número de novas infeções por cada animal infetado para menos de um, garantindo que um portador latente não transmite a doença a outros animais. Para avaliar a eficácia da vacinação, a estratégia mais adequada é identificar anualmente o número de animais portadores latentes (positivos a IBR) na exploração e monitorizar este índice ao longo dos anos. O objetivo é reduzir progressivamente o número de animais positivos até atingir uma prevalência baixa (inferior a 5%). Quando esse patamar é alcançado, a estratégia mais lógica passa pela eliminação dos animais positivos, com vista à erradicação da doença da exploração.
É importante salientar que nem todas as vacinas permitem distinguir animais infetados de animais vacinados. Apenas as vacinas DIVA (Differentiating Infected from Vaccinated Animals), comummente chamadas de vacinas marcadas, permitem essa diferenciação no caso do vírus IBR. Por essa razão, a sua utilização tem vindo a aumentar nas explorações de bovinos de carne.
Qual é o método mais fácil para monitorizar os animais positivos para a ibr?
A monitorização da IBR nas vacadas de carne só é viável se for realizada através de análises individuais de sangue em grupos selecionados de animais, evitando assim custos excessivos com exames laboratoriais. Na prática, uma amostragem de 5 a 10% dos animais é suficiente para obter uma estimativa fiável da situação epidemiológica da exploração.
Nas explorações onde se utiliza uma vacina marcada para IBR ou onde não há vacinação, o método de diagnóstico mais prático é o teste ELISA gE. Um resultado positivo indica que o animal está infetado e é portador do vírus da IBR. Assim, ao avaliar o total de amostras analisadas, é possível determinar o número total de animais positivos e calcular a percentagem de infetados na exploração.
Interpretação dos resultados:
- % de positivos < 8% – Recomenda-se a avaliação de todo o efetivo para identificar e eliminar os animais positivos, com o objetivo de erradicar a doença da vacada.
- % de positivos > 8% – Nestes casos, a vacinação e a monitorização são essenciais para prevenir novas infeções e reduzir a prevalência da doença na vacada.
- % de positivos > 30% – A prevalência do vírus é moderada a alta. Recomenda-se a aplicação de protocolos de vacinação semestrais para bloquear a circulação viral de forma mais rápida e eficaz, com o objetivo de reduzir a prevalência o mais rapidamente possível.
As vacinas vivas contra a IBR são seguras para animais gestantes e proporcionam uma resposta imunológica mais rápida e completa do que as vacinas inativadas. Quando o objetivo do veterinário e do produtor é reduzir anualmente o número de animais positivos, em situações de elevada pressão viral, os protocolos de vacinação anuais podem não ser suficientes para controlar novas infeções. A monitorização regular através do teste ELISA gE (realizado semestral ou anualmente) permite ajustar a estratégia de prevenção e vacinação de forma mais eficaz, adaptando-a ao estatuto sanitário e à realidade de cada exploração.
BVD (DIARREIA VIRAL BOVINA)
A BVDV é uma doença que afeta rebanhos bovinos em todo o mundo. A circulação do vírus é muito comum na população bovina, tornando as novas infeções frequentes. Ao contrário do vírus da IBR, um animal infetado com o vírus não se torna portador do vírus para toda a vida. Em vez disso, desenvolve a doença e excreta o vírus por um curto período, aproximadamente 12 dias.
No entanto, se a infeção ocorrer numa fêmea gestante entre os 40 e os 150 dias de gestação, podem surgir duas consequências: morte embrionária (reabsorção precoce ou aborto) ou o nascimento de um animal persistentemente infetado (PI). Os animais PI não reconhecem o vírus como um agente infecioso externo, pelo que o seu sistema imunitário não reage contra ele. Durante toda a sua vida, estes animais excretam continuamente o vírus, tornando-se a principal fonte de novas infeções dentro do efetivo.
A implementação de medidas de prevenção é essencial para proteger os animais e reduzir a circulação do vírus na vacada. Dessa forma, evita-se a infeção de fêmeas gestantes e bloqueia-se o aparecimento de novos animais PI. As estratégias mais eficazes para o controlo da BVD incluem a identificação e eliminação dos animais PI, a vacinação do efetivo e a implementação de medidas de biossegurança.
O tipo de vacina utilizada contra a BVDV pode influenciar a possibilidade de monitorização do vírus a nível individual, como será explicado mais à frente neste artigo.
Qual é o método mais fácil para monitorizar a circulação do bvd na vacada?
Tal como acontece com a IBR, a forma mais simples e económica de identificar a circulação do vírus BVD numa vacada de carne é através da pesquisa de anticorpos contra o BVD no sangue, utilizando testes laboratoriais como o ELISA p80, disponível na maioria dos laboratórios. Uma amostragem de 5% a 10% dos animais permite obter uma avaliação fiável da situação epidemiológica do rebanho em relação à BVDV.
A deteção de anticorpos contra a proteína p80 permite determinar se ocorreram ou se estão a ocorrer novas infeções na vacada. A proteína p80 é sintetizada pelo vírus durante a sua replicação no organismo infetado, ou seja, é produzida quando o animal está a desenvolver a doença. Assim, um animal infetado pelo vírus selvagem apresentará um resultado positivo no teste ELISA p80.
Contudo, a vacinação pode interferir nos resultados do teste, dependendo do tipo de vacina utilizada. As vacinas vivas, por conterem vírus vivos modificados que se replicam no animal, podem induzir a produção de anticorpos p80, tornando os animais positivos no teste ELISA p80, independentemente de estarem infetados ou não pelo vírus selvagem. Da mesma forma, as vacinas inativadas, após administrações repetidas, podem também levar à produção de anticorpos p80 em animais vacinados e não infetados pelo vírus selvagem, comprometendo a interpretação dos resultados.
Este fator é relevante porque as vacinas vivas e inativadas não são vacinas DIVA, ou seja, não permitem distinguir entre animais infetados e vacinados com precisão. Como consequência, pode haver falsos positivos, dificultando a avaliação da eficácia do plano de vacinação e aumentando os custos associados à interpretação das análises laboratoriais.
Se os animais testados (não vacinados) apresentarem um resultado positivo no ELISA p80, significa que foram infetados pelo vírus BVD em algum momento da sua vida. Ao analisar todas as amostras de sangue recolhidas, é possível estimar a percentagem de animais infetados e determinar se o vírus BVD está a circular ativamente no rebanho. Existe uma correlação direta entre a percentagem de animais positivos ao ELISA p80, a circulação do vírus e a probabilidade de haver animais persistentemente infetados (PI) no rebanho.
- Prevalências entre 0% a 10%: muito baixa circulação vírica e 4% de risco de ter um animal PI.
- Prevalências entre 10% a 30%: baixa circulação vírica e 4% de risco de ter um animal PI. Manter a monitorização.
- Prevalências > 30%: circulação vírica média a alta e 20% de risco de ter um animal PI. Manter a monitorização e pesquisa/identificar os animais PI.
Após a avaliação inicial sobre a existência ou não de circulação do vírus BVD no efetivo, caso seja identificada uma prevalência moderada a alta, é recomendável realizar a pesquisa e identificação de animais persistentemente infetados (PI) no rebanho. Para isso, devem ser utilizados testes específicos que detetem a presença do vírus em animais suspeitos, permitindo o seu posterior refugo. É fundamental incluir também a testagem de animais recém-nascidos.
A deteção de animais PI pode ser feita através do teste ELISA antigénio (análise de sangue) ou por um teste PCR, que pesquisa o DNA do vírus em diferentes tipos de amostras recolhidas do animal, como sangue ou tecido da orelha.
Para garantir um controlo eficaz, é essencial monitorizar regularmente a situação epidemiológica da vacada em relação aos vírus IBR e BVDV. A ausência de monitorização torna qualquer protocolo de vacinação incompleto. Assim, a utilização de vacinas marcadas (DIVA), que permitem diferenciar animais vacinados de animais infetados, é uma das chaves para o sucesso do plano vacinal, pois possibilita a avaliação contínua dos resultados e a implementação de ajustes sempre que necessário.
Em 2024, a HIPRA lançou uma nova ferramenta de prevenção contra os principais vírus que afetam os bovinos, representando uma verdadeira mudança de paradigma na medicina veterinária e no setor pecuário. Esta nova gama de vacinas inclui os vírus respiratórios e reprodutivos mais relevantes para os bovinos e, pela primeira vez, combina, numa única vacina multivalente, os vírus IBR, BVDV-1 e BVDV-2 marcados. Trata-se da primeira vacina DIVA para BVDV a nível mundial.
Graças às suas características inovadoras, esta nova gama de vacinas tem como principal objetivo facilitar a implementação de protocolos de prevenção contra os principais vírus reprodutivos e respiratórios em bovinos, além de apoiar os médicos veterinários e produtores na tomada de decisões para um controlo mais eficaz da circulação viral.
Esta inovação reflete o compromisso da HIPRA em evoluir lado a lado com a comunidade veterinária e o setor pecuário, disponibilizando ferramentas que não só previnem doenças, mas também introduzem uma nova abordagem na gestão da saúde animal. O desenvolvimento desta gama de vacinas foi pensado para ir além do convencional, transformando o comum no extraordinário.
Consulte o seu médico veterinário para definir quais as medidas preventivas e protocolo de vacinação que melhor se alinham para a sua exploração.
Deolinda Silva, Diretora de Serviços Técnicos Ruminantes
HIPRA PORTUGAL
(Fotos Cedidas pela autora)
→ Leia este e outros artigos exclusivos na edição de março 2025 da Revista Voz do Campo.