Importância da presença de minhocas na fertilidade do solo

A presença de minhocas no solo atesta a qualidade dos produtos agrícolas nela produzidos, assim como a segurança alimentar dos consumidores. Um solo saudável, sem poluentes e fértil permite obter produtos agrícolas de qualidade e bons para a saúde humana.

Um solo saudável, sem poluentes e fértil permite obter produtos agrícolas de qualidade e bons para a saúde humana.

PRESENÇA DE MINHOCAS NO SOLO E FERTILIDADE BIÓTICA

O solo é um meio físico e também biológico, repleto de seres vivos. Estima-se que num solo, com 4% de matéria orgânica, possam existir, em média, 2200 kg de organismos vivos/hectare.

As transformações que ocorrem na matéria orgânica do solo são reações bioquímicas que dependem da presença de enzimas segregadas pelos organismos vivos.

As minhocas pertencem à fauna do solo e, atendendo ao seu tamanho, estão incluídas no grupo da macrofauna (Figura 1).

A presença de minhocas no solo é fundamental, desempenhando um papel crucial na trituração das matérias orgânicas, no arejamento e capacidade de drenagem e desenvolvimento radicular, através da formação de galerias (Figura 3).

As minhocas alimentam-se de matéria vegetal e animal morta e transformam-na em húmus (matéria orgânica estável). O húmus liga-se aos minerais de argila e forma o complexo argilo-húmico (Figura 2), com capacidade para reter a água e nutrientes. No caso das minhocas Endógenas e Anécicas, as mesmas ingerem, simultaneamente com a matéria orgânica, partículas de limo e de minerais de argila, que transformam em pequenos agregados de argila e húmus. Estes microagregados, importantes para a estrutura do solo, são muito ricos em nutrientes facilmente assimiláveis e em microorganismos úteis.1 – Partícula de areia (tamanho entre 2 e 0,05 mm)

2 – Húmus (partícula de matéria orgânica do solo)

3 – Poro do solo

4 – Complexo argilo-húmico

5 – Ápice radicular e pelos radiculares

6 – Ácaro 7- Colêmbolo (mesofauna do solo)

8 – Nemátodes

Figura 2 – Agregado (torrão de solo) – imagem muito ampliada

O papel do húmus no solo é fundamental para a sua fertilidade física (agregação e porosidade), química (capacidade de troca catiónica, que afeta a capacidade de armazenamento de água e nutrientes no solo) e biótica (o arejamento e a água no solo interferem na vida microbiana).

A digestão da matéria orgânica vegetal e animal fresca, conjuntamente com partículas minerais, contribui significativamente para a disponibilização de nutrientes para as plantas.

Em resumo, as minhocas no solo contribuem para uma melhor drenagem e retenção de água, melhoram a disponibilização de nutrientes e promovem o arejamento do solo, o desenvolvimento radicular e a resistência das plantas às pragas e doenças.

TIPOS DE MINHOCAS

De acordo com o nicho ecológico em que habitam, assim as minhocas se classificam em Epígeas, Endógenas e Anécicas.

As Epígeas, têm um tamanho reduzido, entre 1 e 5 cm, têm uma cor vermelho escuro e vivem no horizonte superficial do solo (no estrume, no composto, na folhada, etc). Não formam galerias no solo, mas actuam na degradação dos resíduos orgânicos. O seu ciclo de vida tem a duração de 3 meses.

As Endógenas têm um comprimento médio, de 1 a 20 cm e cor rosa, verde ou cinzento claro. Estas minhocas não se deslocam à superfície. Têm um tempo de vida de 5 a 8 anos. As Anécicas, são as de maior tamanho, variável de 10 a 110 cm. Têm uma cor entre o vermelho acastanhado e o cinzento escuro. Estas minhocas tanto vivem na superfície do solo, como nos horizontes inferiores, sendo responsáveis pela formação de galerias verticais a sub-verticais, abertas na superfície, pelo que contribuem significativamente para o arejamento do solo e para a drenagem da água de rega e pluvial. Vivem entre 5 e 8 anos.

CONDIÇÕES AMBIENTAIS E ATIVIDADE DAS MINHOCAS

Condições de solo húmido e temperaturas medias de 10º a 12 C são condições favoráveis à actividade das minhocas, o que as torna particularmente ativas no Outono e no final de Inverno, início de Primavera.

As minhocas têm preferência por solos com textura média a fina, e ligeiramente ácidos a neutros, com pH superior a 5,3.

Sob condições ambientais desfavoráveis (falta de humidade e frio), as minhocas têm um comportamento diferente consoante são Epígeas, Endógenas ou Anécicas. As Epígeas morrem e a sua sobrevivência é assegurada por pequenos casulos, contedo em média, 3 ovos cada um. As Anécicas e as Endógenas entram em diapausa, enrolando-se numa bola de muco e desacelerando o metabolismo.

AÇÃO NA SANIDADE VEGETAL

Ao acelerarem a degradação da matéria orgânica, quer direta, por via da ingestão, quer indiretamente, por estímulo dos microorganismos decompositores, as minhocas vão intervir na eliminação dos fungos patogénicos que hibernam nos resíduos das culturas. Por outro lado, algumas minhocas têm no seu tubo digestivo bactérias que atuam na resistência das raízes aos nemátodes fitoparasitas.

Bioindicadores da qualidade do solo

A presença de minhocas permite avaliar a qualidade do solo, no que se refere à sua não contaminação por pesticidas, à sua fertilidade física (não estar compactado pela mobilização excessiva, apresentar uma boa agregação, boa drenagem e bom arejamento).

Práticas Agrícolas que favorecem as minhocas

→ Redução da mobilização do solo que contribui para a sua compactação.

→ Optar por fertilizações orgânicas em substituição parcial ou total da incorporação de adubos de síntese.

→ Manter o solo revestido com plantas espontâneas ou coberto com palha traçada.

→ Não aplicar inseticidas, fungicidas e herbicidas.

→ Evitar ou limitar a aplicação de produtos à base de cobre, que é particularmente tóxico para as minhocas.

→ Conservar as árvores e os arbustos nas bordaduras e nas áreas envolventes das parcelas em cultura.

Benefícios da presença das minhocas no solo para a nutrição das plantas

√ Melhoria da porosidade e arejamento do solo.

√ Melhoria da drenagem da água pluvial.

√ Incremento da actividade dos organismos úteis. auxiliares

√ Aumento da produção vegetal.

√ Proteção do solo da erosão.

√ Maior aproveitamento das reservas nutritivas e hídricas do solo.


Bibliografia
Appelhof, Mary, 1972. Worms Eat my Gargage.Flower Press, Michigan, USA
Dupuy Victor. Vers de terre & Santé des Agrosystemes.Bulletin de Santé du vegetal, Ecophito
Gatineau, Christophe,2018. Éloge du Ver de Terre. Notre futur depend de son avenir. Flammarion.
Mustin, Michel, 1987. Le Compost. Gestion de la matiére organique. Editions François Doubus, Paris.
Vigot Marion, 2014. Les Vers de Terre- Guide pratique auxiliares de culture. Agricultures & Territoires- Chambre D’Agriculture Poitou-Charentes, 2014.


Textos de divulgação técnica da Estação de Avisos de Entre Douro e Minho nº 01_2025 (II Série) (março 2025)

CCDRN/ Divisão Agroalimentar e Pescas. Estação de Avisos de Entre Douro e Minho. Estrada Exterior da
Circunvalação, 11846 4460–281 SENHORA DA HORA / 22 957 40 10/ 22 957 40 68

Texto e imagens: Engª Manuela Costa. Arranjo gráfico: C. Coutinho

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