Crise na citricultura algarvia: Pragas, importação e luta pela água

A citricultura do Algarve enfrenta desafios crescentes, desde pragas que ameaçam as plantações até à escassez de água, passando por políticas de importação desfavoráveis.

José Oliveira – Presidente da ALGARORANGE

Na conferência Agroinovar, realizada recentemente em Loulé, José Oliveira, presidente da Associação de Operadores de Citrinos do Algarve (ALGARORANGE), alertou para os principais problemas que afetam o setor e enfatizou a necessidade de medidas concretas para garantir a sustentabilidade da produção agrícola na região.

Pragas e falta de uniformização europeia

Um dos pontos centrais da preocupação do setor é o combate às pragas, dificultado pela falta de uniformização nas normas da União Europeia (UE) sobre substâncias fitossanitárias. José Oliveira destacou que “a UE tem vindo a retirar substâncias ativas essenciais no combate às pragas sem apresentar alternativas viáveis”, aumentando os custos de produção e reduzindo a rentabilidade dos produtores algarvios. Essa política coloca a citricultura da região em desvantagem face a outros mercados.

CONFERÊNCIA AGROINOVAR

Concorrência desleal nas importações

Outro problema apontado pelo líder da ALGARORANGE é a permissão de importação de frutas de países terceiros que utilizam produtos químicos proibidos na UE por serem prejudiciais à saúde. “Não faz sentido que aquilo que não pode ser usado aqui seja aceite em produtos importados”, criticou Oliveira. Além disso, a mão de obra mais barata e os custos de produção reduzidos nesses países tornam os produtos estrangeiros mais competitivos no mercado europeu, colocando os produtores algarvios em situação de desvantagem.

A importância da concentração empresarial

Oliveira defendeu que os produtores algarvios precisam de se concentrar em organizações mais fortes para conseguirem competir no mercado externo. “A concentração é um dos grandes desafios da agricultura no Algarve. Só assim conseguiremos colocar os nossos produtos lá fora”, afirmou, destacando a necessidade de maior colaboração entre empresas do setor.

A questão crítica da água

A falta de água é uma das maiores preocupações dos agricultores algarvios. Oliveira expressou frustração com a lentidão nas decisões sobre soluções para a crise hídrica. Apesar das propostas apresentadas para resolver o problema, criticou a falta de autonomia da região na tomada de decisões. “A decisão sobre a água no Algarve não passa pela região. Não temos poder para decidir nada”, lamentou.

José Oliveira elogiou entretanto o trabalho da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), que tem dado mais visibilidade ao setor agrícola, mas criticou a Associação de Municípios do Algarve (AMAL) por não ter dado resposta às solicitações do setor agrícola sobre a questão da água. Questionou ainda a falta de ação em relação à construção de algumas barragens, consideradas essenciais para a sustentabilidade da agricultura na região.

O futuro da agricultura no algarve

A solução para a crise hídrica parece cada vez mais distante, com José Oliveira a alertar para a possibilidade de uma crise climática prolongada. “Nada nos garante que nos próximos anos não estejamos numa crise hídrica grave. E se isso acontecer, a agricultura estará em maus lençóis.”

A rega na região central do Algarve é feita exclusivamente com água subterrânea, e se não houver reposição dessa água, a produção frutícola pode entrar em colapso. “Hoje já dizemos que os níveis freáticos estão críticos. O que vai acontecer se não houver soluções?”, questionou o presidente da ALGARORANGE.

A solução passa por um planeamento estratégico e pela concretização de projetos hídricos, mas o dirigente teme que os avanços não ocorram com a velocidade necessária para evitar um colapso do setor. “Temos que ter resiliência e força para aguentar. Mas até quando?”, concluiu.

Mais desenvolvimento:

Sala cheia para debater os desafios do setor agrícola algarvio

 

SUBSCREVA E RECEBA TODOS OS MESES A REVISTA VOZ DO CAMPO

→ SEJA NOSSO ASSINANTE (clique aqui)