O clima está a mudar: a temperatura média global aumenta, as ondas de calor tornam-se mais frequentes e atingem-se máximos históricos de temperatura; aumenta também a frequência das tempestades e o seu poder destrutivo. Cada vez chove menos em Portugal Continental, e cada vez é mais incerta a distribuição da precipitação ao longo do ano. A esta incerteza associa-se ainda a forte intensidade de episódios chuvosos, que causam inundações e cheias, resultando em danos nas infraestruturas e prejuízos nas atividades económicas, como a agricultura.
No setor da Agricultura, Floresta e Outros Usos do Solo (AFOLU), o sobrepastoreio é um dos contribuidores para a degradação do solo e perda de biodiversidade: a compactação pelo pisoteio intensifica a erosão hídrica e contribui para a perda da fertilidade do solo, que limita o crescimento do coberto vegetal, aumentando a suscetibilidade à desertificação. Solos degradados não sequestram carbono, não conservam a biodiversidade, não contribuem para a regulação climática e limitam os valores culturais e de paisagem, ou seja, não suportam ecossistemas com elevado valor.
Neste contexto, as pastagens geridas com vista à manutenção da saúde dos solos e da biodiversidade podem desempenhar um papel relevante para a mitigação e adaptação à mudança climática. Contribuem para o sequestro de carbono e para o aumento da capacidade de retenção de água através do aumento da matéria orgânica, contribuindo assim também para o combate à desertificação.
As pastagens podem ser uma peça fundamental para mitigar a desertificação e a mudança climática através da regeneração do solo.
Deste modo, as pastagens podem ser uma peça fundamental na mitigação destes dois fenómenos (mudança climática e desertificação), essencialmente, mas não só, pela sua função regeneradora do solo. Neste sentido, David Crespo, mencionava há cerca de 50 anos “…desde que se proceda a uma adequada fertilização e correção do terreno é possível estabelecer em condições de sequeiro pardos temporários (de vários anos de duração) ou permanentes com elevada capacidade produtiva e excelente valor nutritivo, os quais dão ao mesmo tempo notável contributo para a melhoria das condições de fertilidade e conservação do solo…” (1974, p.8). O seu trabalho sobre pastagens semeadas biodiversas tem sido uma referência a nível nacional e internacional (…).
Referência bibliográfica da citação:
CRESPO, David (1974) “Perspectivas para a Intensificação da Produção Ovina em Pastoreio”, Série Divulgação nº 39, DGSA, Lisboa, 17p.
Maria José Roxo, Henrique Cerqueira
NOVA FCSH
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