A conferência Agroinovar, realizada recentemente no Algarve, mais precisamente em Loulé, destacou-se como um ponto de encontro fundamental para o setor agrícola da região.

A recente conferência Agroinovar, realizada em Loulé, reuniu importantes intervenientes do setor agrícola algarvio, como Miguel Vieira Lopes (AGROGES), Joel Guerreiro (ASCAL), José Oliveira (AlgarOrange), Afonso Nascimento (FEDAGRI), Nuno Serra (CONFAGRI CCRL) e Luís Ribeiro (novobanco).

Miguel Vieira Lopes, AGROGES

O Algarve apresenta-se como uma região de contrastes, tanto a nível económico como agrícola. Miguel Vieira Lopes, da Sociedade de Estudos e Projetos (AGROGES), destacou durante a sua participação na conferência Agroinovar em Loulé, a complexidade desta realidade, sublinhando que o Algarve é “uma caricatura de Portugal inteiro” devido à sua diversidade territorial e económica.

Segundo Vieira Lopes, o Algarve abriga, simultaneamente, oito dos dez concelhos mais pobres do país e algumas das zonas com o imobiliário mais caro de Portugal. Esta disparidade também se reflete na agricultura, que oscila entre sistemas altamente produtivos e outros mais vulneráveis. A falta de equilíbrio nos recursos e investimentos traduz-se em dificuldades para muitos agricultores, mas também em oportunidades para aqueles que souberem adaptar-se.

O Papel da água e a complexidade da gestão hídrica

Um dos principais desafios para o desenvolvimento agrário da região é a gestão da água. A recente decisão judicial que anulou o Instituto de Pagamento da Barragem do Pisão foi citada por Vieira Lopes como um exemplo das dificuldades enfrentadas por projetos hídricos essenciais. A escassez de água é um problema crítico, particularmente no Algarve, onde os solos necessitam de irrigação para garantir produções sustentáveis.

Vieira Lopes criticou ainda a falta de compreensão, a nível europeu, da realidade do sul da Europa. “Para quem vive no norte de França ou na Alemanha, as obras hidráulicas podem ser vistas como formas de retirar água do solo, mas aqui precisamos de infraestrutura para armazenar água e garantir a sobrevivência da produção agrícola”, afirmou.

Pequena propriedade e a necessidade de organização

Outro obstáculo estrutural identificado é o tamanho reduzido das explorações agrícolas. De acordo com o Recenseamento Agrícola de 2019, mais de 90% das explorações na região têm menos de 20 hectares, sendo que 64% possuem até cinco hectares. Essa fragmentação limita a capacidade de investimento e modernização dos agricultores.

A solução, segundo Vieira Lopes, passa pela organização da produção. “Os agricultores precisam de se coordenar melhor para aproveitar o facto de estarmos dentro do maior mercado agroalimentar do mundo, a União Europeia. Se estamos já dentro, devemos tirar vantagem disso”, enfatizou.

Manutenção das populações e sustentabilidade

A desertificação humana do interior é outra preocupação. A agricultura, mesmo em regiões menos produtivas, é essencial para fixar populações e evitar o avanço do abandono rural, prevenindo incêndios e outras degradações ambientais.

O setor agrário no Algarve enfrenta, assim, desafios complexos, mas também grandes oportunidades. A modernização e a cooperação entre produtores surgem como caminhos fundamentais para a sustentabilidade económica e ambiental da região. Como concluiu Vieira Lopes, “é necessário um pensamento macro para que se encontrem soluções duradouras e eficazes”.

 

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