A Associação Nacional das Indústrias de Carne da Espanha (ANICE) lamenta a decisão do Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação espanhol (MAPA) de autorizar a exportação de ovinos vivos para a Argélia.
Esta medida reduzirá o abastecimento nos matadouros espanhóis, num mercado já tensionado, onde as cotações do ovino atingiram recordes históricos devido à acentuada diminuição do efetivo ovino registada nos últimos anos.
A ANICE lamenta a decisão do MAPA de autorizar a exportação de ovinos vivos para a Argélia, medida que entrará em vigor na próxima segunda-feira, 21 de abril de 2025.
A forte redução do número de ovinos nos últimos anos diminuiu a oferta de animais, pressionando os preços dos animais para abate, que também atingem níveis históricos. A subida dos preços continua a ser influenciada pelo aumento das exportações de animais vivos para países terceiros, sendo Marrocos o principal destino até agora – ao qual agora se junta a Argélia, também no caso do ovino.
A Argélia tinha-se consolidado como um mercado estratégico para a exportação espanhola de carne e miudezas, tanto de bovino como de ovino. Com esta decisão, põe-se em risco uma parte fundamental da cadeia de valor pecuária e da carne, deslocando a atividade para um mercado especulativo centrado no comércio de animais vivos, o qual só se mantém enquanto perdurar a conjuntura favorável.
Para ilustrar a importância deste mercado e a sua relevância estratégica, no caso das exportações de carne e miudezas de ovino, a Argélia ocupou em 2024 o terceiro lugar a nível global em volume e o segundo em valor, liderando em ambos os casos o ranking entre os países terceiros.
No que diz respeito ao bovino, desde 2019 as exportações de carne e miudezas para a Argélia registaram um crescimento significativo: mais de 116% em valor e mais de 40% em volume. Esta evolução permitiu que, em 2024, o país se consolidasse como o quarto destino global das exportações espanholas de carne de bovino e o principal fora da União Europeia, com um volume de 26.514 toneladas. Em termos de valor, as vendas atingiram os 149,56 milhões de euros, o que coloca a Argélia como o quarto mercado mundial e, novamente, o primeiro fora da UE.
A exportação de animais vivos para a Argélia sempre foi uma barreira sanitária intransponível por parte do Governo de Espanha (devido aos riscos sanitários que podem resultar dos transportes de retorno, a partir de países com elevada incidência de doenças animais altamente contagiosas) e, embora apenas seja permitida a exportação por via marítima, é legítimo perguntar: quais são os motivos ou o que mudou agora que não existia antes para que esta restrição tenha sido levantada?
“Num momento marcado pela escassez de animais no mercado nacional, que gerou tensões e levou as cotações do ovino a máximos históricos, a autorização da exportação de animais vivos representa uma solução fácil que prejudica a cadeia da carne e todos os elos que geram valor acrescentado. Esta medida afeta diretamente a competitividade do setor e a projeção internacional da Marca Espanha”, afirmou o diretor-geral da ANICE, Giuseppe Aloisio.