Colóquio Nacional do Milho discute o futuro da produção e sustentabilidade do setor agrícola.

No 12º Colóquio Nacional do Milho, a cidade da Figueira da Foz foi a escolhida pela sua tradição na cultura deste cereal. Tiago Silva Pinto, secretário-Geral da ANPROMIS – Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo – partilha em entrevista as principais conclusões do evento que reuniu cerca de 500 produtores, incluindo a necessidade de políticas públicas que garantam a competitividade da produção nacional e como a inovação pode ajudar a superar os desafios climáticos e económicos.

A Figueira da Foz recebeu o 12º Colóquio Nacional do Milho. Qual a razão do local escolhido?

A escolha da Figueira da Foz deveu-se à importância da região no contexto da produção de milho em Portugal. Esta é uma zona com uma longa tradição no cultivo deste cereal, reunindo um elevado número de produtores e uma forte dinâmica empresarial ligada ao setor agroindustrial. Quisemos também assim homenagear todos os agricultores da região que nos últimos anos, com muita resiliência, têm mantido a sua atividade após sofrerem enormes prejuízos devido a fenómenos raros da natureza.

Que temas estiveram em debate? E porquê?

Foram abordados temas fundamentais para o setor, nomeadamente a soberania alimentar, a gestão eficiente da água, a
sustentabilidade técnica e económica da cultura, os desafios dos mercados e as políticas públicas. Estes assuntos refletem
as preocupações atuais dos produtores de milho e do setor agrícola em geral, perante um contexto de incerteza climática e política, um aumento dos custos de produção e a necessidade de garantir uma atividade competitiva e sustentável.

Quais foram os grandes destaques desta edição?

O evento contou com a presença do Ministro da Agricultura e da Presidente da Comissão de Agricultura e Pescas, traduzindo assim a importância da cultura do milho para a economia nacional. Destacaram-se também as intervenções sobre o impacto das alterações climáticas na produção agrícola e a necessidade de políticas públicas que garantam a viabilidade económica da cultura. A assinatura do protocolo entre a ANPROMIS e a APEPA foi outro momento relevante, visando a colaboração para a melhoria da fileira do milho em Portugal e a necessária renovação geracional que urge implementar.

Qual o perfil do agricultor que participou no Colóquio?

O colóquio reuniu agricultores de diversas dimensões, desde pequenos produtores a explorações empresariais de grande escala. Além disso, participaram técnicos agrícolas, investigadores, representantes da indústria agroalimentar e dirigentes da Administração, demonstrando a diversidade e abrangência da fileira do milho, num conceito de fileira que defendemos desde há muitos anos. Não podemos deixar de realçar também a presença de cerca de 80 alunos das escolas profissionais agrárias e do ensino superior agrícola, que estiveram connosco ao longo de todo o colóquio.

A participação de agricultores e técnicos no Colóquio foi significativa? Quais foram as principais preocupações ou sugestões levantadas pelos participantes?

Sim, a adesão foi muito significativa. Reunimos cerca de 500 participantes de todo o país que manifestaram a sua preocupação com o aumento dos custos de produção, a instabilidade dos mercados e as restrições ao uso da água para regadio. Houve também um apelo à necessidade de medidas governamentais que protejam a produção nacional e incentivem a inovação tecnológica no setor.

Como já referiu, o Ministro da Agricultura marcou presença no Colóquio. Quais foram os principais recados ou recomendações transmitidos ao Governo durante o evento?

Durante o evento, foi transmitida ao Governo a necessidade de reforçar o apoio ao setor do milho para grão e para silagem, garantindo políticas que promovam a competitividade da produção nacional. Destacou-se também a importância da implementação de medidas que atenuem os impactos da volatilidade dos preços e do aumento dos custos de produção, bem como o incentivo à modernização e inovação no setor agrícola.

Urge que a Estratégia “+Cereais” seja publicada em resolução do Conselho de Ministros de forma a dar um claro sinal de apoio a esta nossa fileira.

Um outro assunto prende-se com a importância da aprovação da estratégia “Água que Une” cuja implementação se revela determinante para o futuro da agricultura nacional.

Durante o Colóquio foi assinado um protocolo com a APEPA. O que significa o protocolo assinado?

Este protocolo visa reforçar a colaboração que tem vindo a ser construída nos últimos entre a ANPROMIS e as quinze Escolas Profissionais Agrícolas que existem no nosso país. Esta iniciativa vai assim permitir a realização de estágios, em ambiente de trabalho, dos alunos que frequentam estes estabelecimentos não só nas explorações agrícolas dos nossos associados, mas também nas Organizações de Produtores que constituem a ANPROMIS. Este protocolo revela-se assim extremamente importante, pois estes alunos serão, certamente, os nossos futuros agricultores.

Quais as principais ideias/conclusões a reter desta edição?

O colóquio reforçou a necessidade de políticas agrícolas que garantam a competitividade da cultura do milho, a importância de uma gestão eficiente da água e a necessidade de adaptação às exigências ambientais. A necessidade de maior valorização do milho nacional foi outro ponto central das discussões. Por outro lado, este evento reforçou uma vez mais a capacidade mobilizadora da ANPROMIS, dando mostra de que o espírito colaborativo deste setor se mantém forte e de que com um maior associativismo se conseguirá uma melhor defesa dos interesses desta fileira.

Como a Anpromis avalia a situação atual da cultura do milho em Portugal?

A cultura do milho enfrenta desafios significativos, mas continua a ser uma cultura estratégica para o país, tanto do ponto de vista económico como ambiental.

A ANPROMIS considera essencial garantir condições que permitam a sua sustentabilidade e competitividade num mercado global. Revela-se desta forma fundamental o nosso país garantir um maior autoaprovisionamento em milho que nos permita garantir a nossa soberania alimentar num mundo em que as incertezas geopolíticas são crescentes, como aliás foi reconhecido por alguns dos oradores convidados.

Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos produtores de milho no contexto atual, como as condições climáticas, preços e custos de produção?

As alterações climáticas, o aumento dos custos dos fatores de produção e a volatilidade dos preços são desafios significativos. Além disso, a pressão regulatória e as crescentes restrições ao uso de fitofármacos impõem dificuldades acrescidas aos produtores europeus. A conjuntura atual exige uma adaptação constante mas também nos abre portas para um maior desenvolvimento de produtos com mais qualidade e para novos mercados, destacando-se neste particular, o milho para a alimentação humana (gritz).

Nesse sentido, qual tem sido o papel da Anpromis junto dos produtores?

A ANPROMIS tem trabalhado na defesa dos interesses dos produtores nacionais, promovendo a formação, a divulgação de boas práticas e o diálogo com as entidades públicas para garantir políticas favoráveis ao setor. A reconhecida capacidade mobilizadora da ANPROMIS e a constante dinamização de iniciativas que facilitem a transferência do conhecimento entre o mundo académico e os produtores nacionais é também uma nossa prioridade.

Falando de sustentabilidade e preservação ambiental, como é que a cultura do milho se está a adaptar às novas exigências?

Os produtores têm adotado práticas mais sustentáveis, como a agricultura de precisão, a instalação de culturas de cobertura e o uso eficiente da água e dos fertilizantes, minimizando assim os impactos ambientais desta cultura.

O que pode ser feito para melhorar a rentabilidade da cultura do milho, dado o aumento dos custos de produção e a volatilidade dos preços?

A aposta na inovação, uma maior valorização do produto nacional e o reforço do apoio político são essenciais para garantir uma rentabilidade sustentável.

A Anpromis tem alguma previsão sobre as áreas cultivadas de milho para a próxima campanha?

Ainda é cedo para projeções definitivas, mas a tendência aponta para uma manutenção das áreas.

Para este ano, quais são os grandes projetos da Anpromis?

A ANPROMIS continuará a apostar na formação, no apoio técnico aos produtores e no desenvolvimento de iniciativas que promovam a sustentabilidade e a competitividade de uma fileira que se revela fundamental não só para a coesão do nosso território, como também para e desenvolvimento socioeconómico das nossas zonas rurais.

Na primeira pessoa:

“O milho é, sem dúvida, a cultura temporária mais relevante em Portugal, não só pela sua extensão, mas pela sua contribuição estratégica para a soberania alimentar do país. Como associação, queremos, acima de tudo, chamar a atenção para dois pontos fundamentais: a importância do milho para a agricultura portuguesa e a necessidade de defender os interesses dos produtores de milho, essenciais para garantir a nossa independência das importações, mas também chamar a atenção dos decisores políticos da importância da agricultura e da manutenção da agricultura no território nacional.  Todos nós sabemos o que é que acontece quando deixa de haver agricultura (…).

Jorge Neves – presidente da ANPROMIS

Durante o Colóquio, tivemos uma apresentação excelente organizada pela AGROGES relativamente àquilo que é o potenciador do crescimento económico nos concelhos onde existe regadios, nos concelhos onde existe agricultura, portanto os números estão aí, a correlação existente entre desenvolvimento e a agricultura é quase total (…). Isto é uma boa base de partida para quem ainda não está convencido da importância da agricultura, poder finalmente perceber o que é que está a acontecer no país e o que pode vir a acontecer no futuro”.

Jorge Nevespresidente da ANPROMIS


“O protocolo assinado com a ANPROMIS permite que os nossos alunos – das escolas profissionais agrícolas- possam fazer o seu estágio em formação em contexto de trabalho nas empresas associadas da ANPROMIS.

Fernando Fevereiro – presidente da APEPA (Associação Portuguesa de Escolas Profissionais Agrícolas)

É um protocolo importante na formação dos alunos. Falamos num total de 2000 alunos a nível nacional – e esta relação entre os alunos, as escolas e as explorações agrícolas da produção de milho, é extremamente importante e crucial para a formação dos alunos”.

Fernando Fevereiropresidente da APEPA (Associação Portuguesa de Escolas Profissionais Agrícolas)


A Cooperativa Agrícola de Coimbra, que reúne cerca de 300 produtores de milho, teve a honra de ser anfitriã do 12º Colóquio Nacional do Milho.

A Cooperativa conta com uma unidade de secagem e armazenagem de milho, que recebe o cereal produzido pelos agricultores locais e realiza o tratamento adequado, como a secagem, antes de o comercializar para as indústrias de transformação de alimentação animal. Como destaca Pedro Pimenta, presidente da Cooperativa, à margem do Colóquio, “a produção de milho na região está concentrada maioritariamente a montante do que jusante, ou seja, desde a zona de Tentúgal até Coimbra, sendo o coração da Cooperativa situado em áreas predominantemente de milho”.

Pedro Pimenta, presidente da Cooperativa Agrícola de Coimbra

A região do Mondego caracteriza-se por um sistema de minifúndio, onde as explorações familiares têm uma média de 6 hectares por exploração, o que torna o papel das cooperativas ainda mais relevante.

Segundo Pedro Pimenta, as organizações de produtores e as cooperativas são essenciais para fornecer apoio técnico e logístico aos pequenos agricultores e organizar a comercialização do cereal produzido. “Acredito que este espírito associativo noutras zonas do país, de maior dimensão, em que existe menos explorações, seja um bocadinho mais difícil”, afirma.

Pedro Pimenta também frisou que as terras do Mondego estão aproveitadas a 100%, um reflexo da otimização da área de produção. A exploração média pequena, com cerca de 6000 hectares de milho, contribui para uma produção eficiente e adaptada à realidade local.

A Voz do Campo acompanhou o 12º Colóquio Nacional do Milho. Veja mais detalhes: 

Leia mais:

→ Conclusões da ANPROMIS

 

SUBSCREVA E RECEBA TODOS OS MESES A REVISTA VOZ DO CAMPO

SEJA NOSSO ASSINANTE (clique aqui)