O 11º Encontro Nacional de Técnicos da CONFAGRI – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal – reuniu mais de 600 participantes durante dois dias em Mortágua, no final do passado mês de fevereiro.
A reprogramação do PEPAC e as alterações ao Pedido Único de Ajudas; a formação profissional; o papel das organizações na promoção da inovação e digitalização na agricultura; o investimento na agricultura e modelos de financiamento, foram temas que tiveram em destaque.
Nuno Serra, secretário-geral da CONFAGRI, começou por explicar à nossa reportagem o propósito inicial do evento: “Este Encontro nasceu com a ideia de ser um espaço para esclarecer as questões técnicas relacionadas com o Pedido Único (PU). Começou como um momento de partilha sobre as novidades e especificidades das candidaturas, para que os técnicos ficassem mais preparados para dar as melhores respostas aos agricultores”. No entanto, ao longo dos anos, o encontro foi ganhando novas dimensões, refletindo o crescimento da CONFAGRI.
“Atualmente, o Encontro abrange muito mais do que as candidaturas. Estamos a falar de temas como a inovação, a digitalização, e até os seguros. A CONFAGRI tem sido pioneira nesta área, porque precisamos de estar à frente da evolução do mundo, e a digitalização tem de ser uma aposta forte, não podemos ficar para trás”, afirma.
Nuno Serra destacou ainda a importância de os agricultores estarem bem protegidos. “Nós sabemos que para os agricultores crescerem, têm de estar protegidos. E é aqui que os seguros entram. Precisamos de seguros fortes, que cubram as necessidades dos agricultores e que ajudem a cautelar os rendimentos. Não podemos deixar que eles fiquem desprotegidos”.
A adesão ao evento superou as expetativas, com técnicos e dirigentes vindos de todo o país, o que, para Nuno Serra, é sempre um motivo de satisfação.
“Temos técnicos de todo o lado, do Algarve, Bragança, Ponte Lima, Viana do Castelo, Lisboa, de todo o país. E isso é uma demonstração clara de que o trabalho da CONFAGRI tem sido cada vez mais reconhecido”, diz com entusiasmo. Para o secretário-geral, esse aumento da adesão ao evento é reflexo da importância que a CONFAGRI tem no cenário agrícola nacional. “A CONFAGRI não é apenas uma confederação qualquer. Representamos 44% dos Pedidos Únicos em Portugal. Estamos a falar de um universo enorme de técnicos, de cooperativas, de agricultores. Temos nas nossas mãos uma grande responsabilidade, e é uma responsabilidade que levamos muito a sério”, vinca.
No que diz respeito ao futuro da agricultura em Portugal, Nuno Serra não escondeu as suas preocupações.
“Estou muito preocupado com a falta de investimento. Este é um ponto fundamental para o futuro do setor. Se não tivermos investimento, a agricultura não vai para a frente. E a falta de investimento tem sido uma realidade que nos tem preocupado bastante”, lamenta, reforçando que as políticas públicas têm que ser mais eficazes e direcionadas ao crescimento do setor. Apesar disso, Nuno Serra mostrou-se otimista quanto ao potencial do setor agrícola.
“Temos excelentes agricultores, temos boas associações, temos muito por onde crescer. O que falta, realmente, é um empurrão das políticas públicas. Precisamos de mais apoio para a organização da produção e para garantir que o setor se organiza de forma mais eficaz. O agricultor tem uma enorme vontade de crescer, de melhorar, de fazer mais e de exportar mais. E se as políticas públicas acompanharem esta vontade, o setor vai crescer, sem dúvida nenhuma”, considera o secretário-geral da CONFAGRI.
Nuno Serra reforça que a CONFAGRI tem um papel essencial na economia rural e na coesão territorial: “A CONFAGRI não é apenas uma confederação de agricultores, é uma força económica e territorial que atravessa o país de norte a sul. Representamos 44% dos Pedidos Únicos e temos 650 mil associados. A nossa missão é garantir que as necessidades dos agricultores sejam atendidas, e isso exige trabalho, compromisso e muita responsabilidade”.
À nossa reportagem o presidente da CONFAGRI, Idalino Leão, destacou o papel fundamental dos técnicos agrícolas no processo agroalimentar, salientando como eles são a interface entre o agricultor e diversos processos técnicos e administrativos.
Idalino Leão sublinha que os técnicos agrícolas desempenham um papel decisivo no apoio aos agricultores. Não apenas auxiliando diretamente no campo, com consultoria técnica e atividades agrícolas, mas também no apoio administrativo, na formalização de projetos e na submissão de candidaturas. “O técnico é uma peça fundamental e chave em todo o processo agroalimentar nacional”, afirma o presidente da CONFAGRI.
Idalino Leão considera que as cooperativas, como a CONFAGRI, têm-se substituído ao Estado na famosa extensão rural, que, em tempos, era uma função desempenhada pelas entidades governamentais. Nesse sentido, o mesmo argumenta que as cooperativas estão a caminhar para um modelo mais integrado, que não só apoia os agricultores, mas também contribui para o desenvolvimento de novas tecnologias e conhecimentos no setor agroalimentar.
Desafios enfrentados pelos Técnicos no dia a dia
O Presidente da CONFAGRI reconheceu que os técnicos agrícolas enfrentam uma série de desafios no seu trabalho diário, especialmente no que diz respeito à burocracia e à complexidade das plataformas digitais utilizadas para a submissão de candidaturas. Idalino Leão fez referência às dificuldades enfrentadas nos últimos dois anos, com sucessivas prorrogações nas submissões do Pedido Único (PU) e as alterações nas regras a meio do processo. “É essencial que o sistema seja simplificado e tenha uma plataforma ágil e intuitiva, que facilite a tarefa dos técnicos e, por consequência, a dos agricultores”, comenta.
O papel da CONFAGRI na inovação e investigação
O Encontro também incluiu painéis sobre inovação e investigação no setor agroalimentar, com a CONFAGRI a destacar a sua colaboração em consórcios europeus e a importância de passar os resultados de pesquisas de ponta para as cooperativas e agricultores. “Temos várias cooperativas em estágios diferentes de desenvolvimento, e é nossa missão ajudar as que ainda necessitam de mais impulso”, explica Idalino Leão, argumentando que além de promover a capacitação institucional das cooperativas, a CONFAGRI visa apoiar a investigação e o desenvolvimento para melhorar a competitividade do setor.
A estratégia da CONFAGRI: Rumo à competitividade internacional
Idalino Leão também abordou a estratégia da CONFAGRI para aumentar a competitividade das cooperativas portuguesas no cenário global, especialmente em relação aos seus congêneres espanhóis. A CONFAGRI tem defendido que as cooperativas devem ser capacitadas, não só em termos de infraestruturas e recursos humanos, mas também em termos financeiros, para se tornarem mais eficientes e competitivas. Idalino Leão fez referência à necessidade de medidas específicas para o setor e criticou as disparidades de custos fixos entre Portugal e Espanha, como no caso da energia e do gasóleo. “Se o nosso mercado vai até os Pirinéus, precisamos ter, no mínimo, as mesmas condições que os nossos vizinhos espanhóis”, argumenta.
Um dos pontos altos do Encontro, foi a mesa-redonda que reuniu uma conversa com os representantes das CCDR- Agricultura, nomeadamente, Paulo Ramalho, vice-presidente da CCDR-Norte, Vasco Estrela, vice-presidente da CCDR-Centro, José Bernardo Nunes, vice-presidente da CCDR-Lisboa e Vale do Tejo, Roberto Grilo, vice-presidente da CCDR-Alentejo e Pedro Valadas Monteiro, vice-presidente da CCDR-Algarve. Houve também lugar a cerimónia de entrega de prémios de Reconhecimento do Mérito 2024, com a presença do Ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes.
“A força da agricultura faz-se com rendimento, investimento, inovação, respeito e valorização de quem produz”
“Este Encontro de Técnicos é momento de reconhecimento do papel essencial dos técnicos na modernização e no desenvolvimento da nossa agricultura.
Para garantir um setor forte e competitivo, exige-se rendimento, investimento, previsibilidade e simplificação. Queremos manter os dois pilares da Política Agrícola Comum, com apoios estáveis e sem cortes. A simplificação dos processos é essencial para que os fundos cheguem rapidamente e sem burocracias desnecessárias.
A inovação e a renovação geracional são prioridades (…). Vamos avançar com um programa de 3 milhões de euros para startups agrícolas, com 30 mil euros por projeto, incentivando a investigação e o desenvolvimento de novas soluções para o setor”.
Durante os dois dias de Encontro Nacional de Técnicos, a Voz do Campo esteve em direto e falou com algumas personalidades e representantes associados da CONFAGRI.
→ Leia a reportagem completa do 11º Encontro Nacional de Técnicos da CONFAGRI e outros artigos na Revista Voz do Campo – edição de abril 2025, disponível no formato impresso e digital.
Assista à vídeo-reportagem do Encontro: