O projeto TomAC teve como objetivo a aplicação dos princípios da Agricultura de Conservação: 1) Mínima perturbação do solo; 2) Cobertura permanente do solo com plantas ou resíduos; 3) Rotação e diversidade de culturas, como uma possível solução para as crescentes ameaças à sustentabilidade do sistema de produção de tomate de indústria em Portugal.
Os ensaios de campo decorreram numa parcela localizada na Lezíria de Vila Franca de Xira durante os ciclos de 2021/2022 e 2023/2024 (em 2022/2023 não foi possível a instalação da cultura de cobertura), comparando 3 sistemas de produção (tratamentos):
– Convencional: monocultura, mobilização total do solo e solo descoberto/vegetação espontânea durante o Inverno;
– TomCober: mobilização na linha para plantação do tomate (Princípio 1) e cultura de cobertura no período de Inverno (Princípio 2);
– Rotação: mobilização na linha para plantação do tomate (Princípio 1), cultura de cobertura no período de Inverno (Princípio 2) e rotação bienal de tomate com girassol e milho (Princípio 3).
A ocupação do solo com uma cultura de cobertura formada por uma mistura de gramíneas, leguminosas e brássicas (TomCober e Rotação) permitiu uma retenção de azoto total na biomassa aérea da cultura de cobertura de 91 – 127 kg/ha, valores cerca de 5 vezes e significativamente superiores aos 5 – 35 kg/ha alcançados pela vegetação espontânea no sistema Convencional (Gráfico 1). Ao ser assimilado pela cultura de cobertura, o azoto não será lixiviado e, mais tarde, será devolvido ao solo após a decomposição dos resíduos, podendo ser novamente utilizado pela cultura do tomate, permitindo, consequentemente, uma redução da fertilização azotada e dos respetivos custos de produção.
Nos sistemas TomCober e Rotação a instalação do tomate foi feita com recurso a mobilização apenas na linha de plantação através de uma multifresa adaptada (Fotografia 1), deixando a restante superfície de solo intacta e coberta com resíduos da cultura de cobertura (Fotografia 2). A mobilização apenas na linha pode originar uma mortalidade de plântulas superior face ao sistema Convencional com mobilização de toda a extensão de solo. Nos dois anos em estudo verificaram-se diferenças significativas entre os dois modos de instalação do tomate, com uma taxa de mortalidade muito elevada (21 %) no sistema TomCober em 2023/2024 (Gráfico 2). Este resultado indica que existem melhorias a implementar na instalação do tomate de modo a diminuir a mortalidade de plântulas à instalação, com foco para a adequação do trabalho das alfaias ao teor de humidade do solo, que não deve estar demasiado seco nem demasiado húmido. Relembramos que foram utilizadas alfaias convencionais, multifresa e plantador com ligeiras adaptações apenas.
Apesar da possível maior mortalidade de plântulas, foi obtida uma produtividade de tomate comercializável similar entre TomCober e Convencional em ambos os anos, enquanto o sistema Rotação obteve uma produtividade significativamente superior ao Convencional, sendo 47 % (+ 35 t/ha) superior em 2021/2022 e 68 % (+ 13 t/ha) em 2023/2024 (Gráfico 4). Este resultado demonstra a importância que a rotação de culturas pode ter na produção de tomate de indústria, sendo mesmo uma prática chave para potenciar a produtividade de tomate. De notar a menor produtividade verificada no ciclo 2023/2024 em todos os sistemas face ao ciclo 2021/2022, o que poderá estar relacionado com o facto de ter sido utilizada uma variedade diferente (Burdalo em 2021/2022 e Heinze 1311 em 2023/2024), provavelmente menos adaptada à parcela e/ou devido às condições do ano agrícola.
Os resultados obtidos demonstram que a aplicação dos princípios da Agricultura de Conservação no sistema de produção de tomate de indústria é possível e pode aumentar a produtividade de tomate, recorrendo a práticas como cultura de cobertura, mobilização na linha para instalação de tomate e principalmente a rotação de culturas. Contudo, mais estudo são necessários de modo a desenvolver o itinerário técnico mais adequado.
Em termos de conta de cultura, a aplicação dos princípios da Agricultura de Conservação implicou um aumento de custos de produção face ao sistema Convencional, devido aos gastos com a cultura de cobertura (semente, instalação e destroçamento de resíduos) e com a mobilização adicional na linha. Contudo, este aumento de custos deverá ser visto como um investimento numa melhoria do solo, sendo compensado por uma maior produtividade de tomate como se observou no sistema Rotação.
Os resultados demonstram que a aplicação dos princípios da Agricultura de Conservação pode contribuir para a melhoria da sustentabilidade do sistema de produção de tomate de indústria em Portugal, criando oportunidades ao nível da retenção de azoto pela cultura de cobertura, conservação do solo através da mobilização na linha, e aumento da produtividade de tomate pela rotação de culturas. Contudo existem desafios que merecem trabalho futuro, nomeadamente a adequação do trabalho de alfaias convencionais (multifresa e plantador) às condições de humidade do solo, e a necessidade de mobilização do solo para resolver problemas de compactação criados pela colheita mecânica do tomate com solo com excessivo teor de humidade.
O projeto TomAC surgiu de uma parceria entre Ag-Innov, Sogepoc, Syngenta, APOSOLO e MED-UÉvora, e foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e Fundo Social Europeu através da bolsa de doutoramento 2021.07037.BD e pela Syngenta Crop Protection.
→ Novidades e reportagem completa sobre o setor do tomate e outros artigos na edição de abril da Revista Voz do Campo – edição de abril 2025, disponível no formato impresso e digital.
Autoria: Ricardo Vieira Santos¹*, Ana Rato¹, Maria Rosário Martins², Gabriela Cruz³, Ana Paiva Brandrão³, Felisbela Torres de Campos4, Gottlieb Basch¹
¹ MED – Instituto Mediterrâneo para Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento & CHANGE – Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade, e Departamento de Fitotecnia, Universidade de Évora, Pólo da Mitra, Ap. 94, 7006-554 Évora, Portugal.
² Laboratório HERCULES & IN2PAST, e Departamento de Ciências Médicas e da Saúde, Universidade de Évora, 7000-809 Évora, Portugal.
³ APOSOLO – Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo.
4 Syngenta Crop Protection – Soluções para a Agricultura, Lda
Créditos fotográficos:
Fotografia 1 e Fotografia 2: Ricardo Vieira Santos, MED-UÉvora – contacto e-mail: rjvs@uevora.pt
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