No final de janeiro, o Auditório do Observatório do Sobreiro e da Cortiça em Coruche acolheu o Seminário final do projeto CORKNUT “Florestas Mistas de Sobreiro e Pinheiro-manso: Conhecimento, Desafios e Recomendações de Gestão”. Investigadores de diferentes áreas expuseram os resultados e conclusões dos seus trabalhos, baseados na monitorização ecológica de parcelas em campo, de ensaios em estufa, na modelação geoespacial e do levantamento, via entrevistas, dos desafios e oportunidades da implementação desta mistura. O evento contou com a presença de cerca de 100 inscritos dos quais 70% eram proprietários florestais e empresas ligadas ao setor produtivo. No âmbito deste projeto foram realizadas 8 teses de mestrado e estão em curso 2 teses de doutoramento.O Projeto CORKNUT foi desenvolvido durante um período de 4 anos por elementos do INIAV, ISA-UL do Centro de Estudos Florestais com o objetivo de investigar a sustentabilidade ecológica e produtiva de florestas mistas de sobreiro e pinheiro-manso em Portugal. Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (PCIF/MOS/0012/2019), o projeto teve uma importante componente de transferência do conhecimento técnico para o setor produtivo.
Os resultados apresentados consolidam um conjunto de monitorizações ecológicas e ecofisiológicas em ensaios de campo e de estufa realizadas numa rede de 55 parcelas permanentes instaladas em áreas florestais de regeneração natural e plantações num gradiente ecológico compreendido entre Ponte-de-Sor e Odemira.
Observou-se que a mistura destas duas espécies foi benéfica em diversos aspetos: no caso do sobreiro, a incidência de cobrilha e de desfolhadores foi significativamente inferior e no caso do pinheiro-manso a produção de pinha foi superior. O microbioma do solo foi mais diversificado em florestas mistas, destacando-se a importância do sobreiro como uma espécie primordial na abundância de fungos ectomicorrízicos com funções de resiliência dos solos a perturbações bióticas e abióticas. Verificou-se uma grande variabilidade no armazenamento de carbono nas diversas parcelas estudadas tendo sido tendencialmente superior nos povoamentos mistos em comparação com os puros, embora inferior ao de florestas de produção de madeira. Comprova-se que o risco de incêndio é significativamente inferior nestes sistemas agro-silvo-pastoris, que requerem uma gestão de proximidade e a integração de atividades de pastoreio.
Foi ainda desenvolvida uma carta de aptidão edafoclimática para a instalação de mistos de sobreiro e pinheiro-manso com delimitação das áreas de ocupação potencial para a presença das duas espécies. Foram apresentadas propostas de sistemas de silvicultura adaptativa para misturas de sobreiro e pinheiro-manso contendo informação sobre os arranjos e espaçamentos adequados para o desenvolvimento das duas espécies em consociação.
Impactos nas fileiras
Existem inúmeras evidencias de que florestas biodiversas são mais eficientes no uso dos recursos, demonstram maior estabilidade e resiliência devido à sua maior capacidade de ajustamento e recuperação face a perturbações externas. No entanto, este conceito ainda não foi assimilado e incorporado nas práticas dos diferentes agentes do setor produtivo. A tradicional gestão de uma única espécie em larga escala, continua a ser mais eficiente, de baixo custo, mais rentável, mas também com maior impacto ecológico.
No entanto comprovámos que a mistura destas duas espécies pode ser uma alternativa viável em certas regiões do país. Alinhada com uma silvicultura assente no conhecimento e no uso de melhores práticas de instalação, de arranjo espacial e de condução dos povoamentos, estas florestas poderão ajudar os proprietários florestais a reduzir a incerteza dos seus investimentos florestais.
Este projeto demonstrou que a mistura de sobreiro e pinheiro-manso apresenta vantagens significativas que devem ser consideradas em futuras arborizações. Porém, para que esta consociação funcione é necessária uma gestão a baixas densidades de forma a assegurar que as duas espécies não competem entre si, sobretudo do pinheiro-manso sobre o sobreiro e durante os períodos de secura estival. Garante-se assim que não são comprometidas as funções de produção e prestação de serviços de ecossistema.
Num cenário de incerteza climática e de grande flutuação nos mercados de produtos florestais, o projeto mostrou que a produção de cortiça e pinha é compatível com a melhoria da qualidade do solo, a maior resistência das árvores a agentes bióticos nocivos e o aumento da biodiversidade. Devem ser por isso contemplados nos atuais instrumentos de financiamento florestal como uma medida para alcançar os objetivos da agenda 2030.
Este projeto foi coordenado pela investigadora auxiliar do INIAV, Alexandra Correia (alexandra.correia@iniav.pt). Mais informação sobre o projeto pode ser encontrada no seguinte link: www.corknut.pt
Autoria: Alexandra Correia, investigadora auxiliar do INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.
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