Num contexto em que o setor olivícola português consolida a sua importância económica e afirma a excelência do azeite nacional nos mercados internacionais, a 8ª edição do Congresso Nacional do Azeite assume-se como um palco privilegiado para o debate, a partilha de conhecimento e a definição de caminhos para o futuro. À frente do CEPAAL – Centro de Estudos e Promoção do Azeite, Gonçalo Morais Tristão tem sido uma das vozes mais atentas e interventivas na valorização deste produto identitário da agricultura portuguesa.
À margem da 8ª edição do Congresso Nacional do Azeite, que se realizará nos dias 22 e 23 de maio de 2025 e reunirá produtores, técnicos e investigadores e outros agentes do setor, conversámos com o Presidente do CEPAAL – Gonçalo Morais Tristão, sobre os grandes temas em discussão, os desafios que se impõem ao setor, da regulamentação ESG à afirmação da marca “azeite português” e o papel que a inovação, a união e o olivoturismo podem ter na construção de um futuro sustentável e competitivo para a olivicultura nacional.
Quais são os principais objetivos estratégicos do Congresso nesta edição, tendo em conta o contexto atual do setor olivícola?
O Congresso Nacional do Azeite tem por objetivo, à semelhança de edições anteriores, dinamizar o setor olivícola e oleícola nacional enquanto fórum de debate, ponto de encontro para os profissionais do setor e de partilha de informação, privilegiando sobretudo a divulgação de informação técnica. Nesta edição, o que se pretende, essencialmente, é contribuir para uma cada vez maior capacitação do setor para enfrentar os desafios que tem pela frente. Por outro lado, este Congresso serve também o propósito de reafirmar a dinâmica de um setor que tem contribuído muito, em especial, nos últimos anos, para o saldo da balança comercial portuguesa. Um contributo vastamente alicerçado no aumento do valor das exportações.
Quais os temas centrais que estarão em destaque ao longo dos dois dias do Congresso?
Como não podia deixar de ser, começaremos por levar a debate precisamente os novos desafios do setor. Julgo que o painel de intervenientes, com produtores, consultores e responsáveis de associações do setor, vai trazer diferentes pontos de vista sobre esses desafios e sobre a forma de os enfrentarmos. Da parte da tarde do 1º dia, será abordado o tema dos objetivos ESG e respetiva regulamentação, com a intervenção de advogados especialistas nesta área, de Assunção Cristas e Pedro Raposo, além de outros convidados ilustres que, certamente, contribuirão para uma melhor compreensão destas matérias. No 2º dia, teremos, de manhã, um debate sobre a identidade do nosso azeite, marca e origem, e à tarde, uma conversa sobre os caminhos do azeite na alta cozinha. Também para este dia, convidámos os especialistas da produção para percebermos que percurso deve fazer o azeite nacional e que estratégia devemos seguir. No painel da alta cozinha, não faltarão os nossos amigos chefs Vitor Sobral, José Júlio Vintém e Bertílio Gomes que, conjuntamente com os representantes das escolas de hotelaria e turismo, falarão do papel do azeite na cozinha portuguesa e na necessidade de conhecer melhor os nossos azeites para os promovermos e divulgarmos.
Que tipo de público o evento pretende mobilizar (produtores, técnicos, investigadores, consumidores, etc.)?
Este tipo de eventos é normalmente dirigido aos produtores e aos técnicos do setor e das empresas que trabalham para a olivicultura nacional, mas está aberto a todos os que se interessam pelo azeite, nomeadamente por que são consumidores. Aliás, foi precisamente por essa razão que, na organização do Congresso, pensámos trazer a debate um tema que saísse fora das matérias técnicas que habitualmente são discutidas neste tipo de eventos. É o caso do último painel, onde vai ser comentado o produto azeite na alta cozinha portuguesa e a função das escolas de turismo na disseminação desta riqueza nacional que é o azeite e a sua envolvência paisagística, patrimonial e social. Este é um Congresso aberto a todos.
Quais são as novidades e destaques que os participantes podem esperar do Congresso?
No final do primeiro dia dos trabalhos, o CEPAAL, como entidade que tem procurado promover o azeite e, com esse mesmo objetivo, ajudado na estruturação, com outras entidades, de um novo produto turístico – o olivoturismo, terá uma surpresa para apresentar que, por ser isso mesmo, não se desvenda aqui. Infelizmente, dado o período eleitoral que estamos a viver, não contaremos com a presença do senhor Ministro da Agricultura, como gostaríamos. Não obstante, não deixaremos de reivindicar que o Estado e a Administração Pública tenham um papel de facilitador, que não criem obstáculos aos produtores e ao setor em geral, e que, dentro das suas atribuições, possam colaborar com o setor no seu todo para desenhar uma estratégia de valorização e promoção do nosso azeite, de modo a enfrentarmos com sucesso os desafios que se avizinham. Nesse sentido, apresentaremos ao novo Governo e aos responsáveis pelas pastas da agricultura e da economia, as conclusões deste Congresso.
Como é que o Congresso pretende contribuir para o desenvolvimento e inovação do setor olivícola em Portugal?
Os temas trazidos a debate neste Congresso e a qualidade dos intervenientes nos vários painéis dão-nos a certeza de podermos contribuir para uma maior capacitação do setor. O tema do ESG, ainda algo estranho e distante para alguns, implicará certamente, no futuro, muita inovação, nomeadamente a nível da gestão das nossas empresas. E o setor olivícola também deve estar atento a este tipo de regulamentação. Também ao nível da promoção, temos uma forte necessidade de inovar e esperamos que nos debates deste Congresso surjam algumas ideias nesse sentido, em especial dos nossos produtores.
Num momento de forte crescimento do setor, com Portugal já como o sexto maior produtor mundial de azeite e o terceiro maior exportador europeu. Que potencial de expansão ainda existe para o país? Até onde pode chegar a olivicultura portuguesa nos próximos anos?
Creio que o potencial de crescimento em área ainda é grande. A olivicultura é uma cultura bem conhecida pelos agricultores portugueses, pelo que não é difícil prever um aumento de plantações, sobretudo em áreas de regadio. Este potencial está ligado a um potencial de crescimento do consumo em todo o mundo porque, sendo a gordura mais saudável, ainda tem uma fraca penetração em determinadas franjas de consumidores. Tendo em conta este enquadramento, alguma expansão das áreas de regadio, a modernização dos sistemas de plantio, o avanço tecnológico dos nossos lagares e o nosso saber-fazer, diria que Portugal pode atingir, nos próximos anos, o top 3 dos países produtores europeus. Por outro lado, com a inovação ao nível da promoção e do marketing, o azeite português pode vir a ser cada vez mais valorizado nos mercados externos.
Que expetativa tem para esta edição?
As expetativas são as de sempre: que seja um profícuo encontro do sector, que se aprenda com pontos de vista diferentes e que a competência do setor olivícola e a excelência do azeite português sejam cada vez mais reconhecidas pelos portugueses e por alguma opinião publicada que, sem dados científicos ou empíricos para tal, muitas vezes critica o setor.
Gostaria de deixar uma mensagem aos olivicultores?
Sendo eu próprio olivicultor, gostaria que o setor andasse unido à volta das suas associações, para que seja possível construir uma estratégia comum de desenvolvimento e promoção do nosso azeite que nos beneficie a todos e o país.
Programa da 8ª edição do Congresso Nacional do Azeite:
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