“A água é essencial para todos nós, mas reutilizamos apenas 1% dela”, afirmou Jessika Roswall.

A Comissão Europeia apresentou no dia 4 de junho de 2025 a sua Estratégia de Resiliência Hídrica para melhorar a eficiência e a gestão coletiva da água, com propostas não vinculativas para reduzir vazamentos e melhorar a qualidade de um recurso essencial. A proposta da Comissão Europeia é elevar a eficiência do uso da água na UE dos atuais 1% para no mínimo 10% até 2030, num ‘esforço coletivo’.

As alterações climáticas, que afetam a Europa duas vezes mais rápido que o resto do planeta, e os eventos extremos que elas causam estão forçando todos a mudar de paradigma em relação a um recurso que cada vez mais países, não apenas os tradicionais do sul, entendem ser finito: a água. Ciente do desafio, a Comissão Europeia apresentou nesta quarta-feira uma Estratégia de Resiliência Hídrica que busca “restaurar e proteger o ciclo da água, garantir água limpa e acessível para todos e criar uma economia hídrica sustentável, resiliente, inteligente e competitiva na Europa”.

A vice-presidente da Comissão Europeia, Teresa Ribera, com a comissária europeia do Meio Ambiente, Jessika Roswall, na apresentação da nova estratégia

A água não é um recurso infinito e “precisamos agir agora” para garantir que as gerações futuras possam desfrutar de um abastecimento de água “limpo, acessível e sustentável” para todos, um requisito fundamental para a competitividade da indústria , referiu a Comissária Europeia do Meio Ambiente, Jessika Roswall em uma entrevista a vários meios de comunicação em Bruxelas antes da apresentação da nova estratégia.

Para enfrentar os desafios da escassez hídrica está previsto um financiamento robusto. As principais fontes de financiamento incluem: 15 mil milhões de euros do Banco Europeu de Investimento, entre 2025 e 2027; 100% de cofinanciamento e 30% de pré-financiamento através revisão intercalar da Política de Coesão. Esta estratégia europeia está alinhada com as prioridades da estratégia nacional “Água que Une”, que aposta na eficiência, reutilização, combate a perdas e sustentabilidade no uso da água.

A proposta dá aos Estados-membros a possibilidade de organizar os seus sistemas de abastecimento de água como entenderem, identificando cinco áreas de ação: governação e execução; financiamento, investimentos e infraestruturas; digitalização; investigação e inovação, indústria e competências; e segurança e preparação.

O reforço da capacidade de retenção de água nos solos, a aposta em práticas agrícolas e a gestão de águas residuais são áreas em que a Comissão prevê progressos, estabelecendo um calendário indicativo de medidas a aplicar.

A prevenção da poluição é outra das apostas de Bruxelas, que destaca, em comunicado, que em 2021 apenas 39,5% das águas superficiais da UE tinham um bom estado ecológico e apenas 26,8% um bom estado químico.

Segundo dados da Comissão, ao ritmo atual, a procura mundial de água ultrapassará em 40% o que está disponível em 2030.

Em todo o mundo, as catástrofes relacionadas com a água deslocaram 40 milhões de pessoas e infligiram mais de 480 mil milhões de euros de prejuízos em 2024.

Em Portugal, onde a seca é um problema grave, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou recentemente que a estratégia “Água que Une” para a gestão da água terá um investimento estimado de cinco mil milhões de euros até 2030.

Isso não inclui uma nova legislação — “há muita legislação sobre água, o que precisamos fazer é focar na sua implementação”, responde Roswall às críticas sobre a falta de ambição regulatória do novo plano —, mas sim uma espécie de roteiro para ajudar estados, agricultores, indústria e até mesmo os próprios cidadãos a melhorar a gestão desse recurso. Porque se trata de uma ação coletiva, enfatiza Bruxelas, que exige esforços de toda a sociedade.

A Estratégia estabelece três pilares principais: primeiro, a restauração do ciclo hidrológico. Busca também transformar a economia da água — numa Bruxelas obcecada pela competitividade, a Comissão destaca que a UE é líder mundial em tecnologia hídrica e que o setor gera cerca de € 111,7 bilhões e emprega 1,6 milhão de pessoas, novamente com base em argumentos económicos — e, por fim, garantir o acesso equitativo a esse bem comum.

Em 2027, Bruxelas deverá fazer uma avaliação da aplicação da estratégia pelos Estados-membros.


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