A Fundação Europeia para a Inovação é uma entidade ao serviço das empresas agroalimentares para se tornarem mais sustentáveis e digitalizadas, promovendo também a renovação geracional. Com projetos como o Agro Social, apoia cooperativas e empresas para que possam fornecer alimentos mais saudáveis, com rastreabilidade e menor impacto ambiental. A Fundação trabalha com diversos projetos europeus para garantir que a tecnologia esteja ao serviço do agricultor e do consumidor.
A inteligência artificial (IA) está a deixar de ser uma tecnologia do futuro para passar a integrar cada vez mais o presente, inclusive em setores como a agricultura. Nesta conversa com Voz do Campo, Juan Francisco Delgado explica como a IA pode ser uma aliada poderosa para os produtores agrícolas, consumidores e o meio ambiente – mas também alerta para os seus riscos.
Voz do Campo (VC) – A inteligência artificial está a chegar a todos os setores, incluindo o agrícola. Que impacto está a ter?
Juan Francisco Delgado (JFD) – A IA está a impactar tudo, desde a forma como vivemos, até como comemos, cultivamos, tratamos os alimentos e os compramos. E isso é positivo. Claro que há receios, mas o importante é sempre colocar o ser humano em primeiro lugar – a inteligência natural deve liderar a inteligência artificial, nunca o contrário.
Mas existem perigos associados à inteligência artificial?
Sim, como em qualquer descoberta científica. Há riscos, como a disseminação de informações falsas ou alimentos com propriedades falsas. No entanto, também existem formas de combater esses riscos com ferramentas que detetam e corrigem essas situações.
A IA pode ajudar na segurança alimentar?
Sem dúvida. Imagine um surto de E. coli numa cerimónia. A IA pode ajudar a rastrear a origem da infeção, seja ela no início ou no fim da cadeia alimentar. E melhor: pode até prevenir, evitando que o problema ocorra. Com biotecnologia e IA, temos menos erros no tratamento e conservação dos alimentos.
A inteligência artificial entra em ação logo no campo?
Sim, desde o produtor. O “combustível” da IA são os dados. Se tivermos sensores nos campos, podemos saber a humidade do solo, prever pragas antes que destruam a colheita e atuar preventivamente. Isso permite o uso de menos produtos fitossanitários e mais precisão na ação.
Já há exemplos práticos disso?
Sim, empresas como a John Deere ou a Kubota já utilizam visão artificial e robôs agrícolas que aplicam fitossanitários apenas nas ervas daninhas, ou até com lasers, sem prejudicar o solo nem a planta. É uma revolução.
Mas os agricultores precisam de formação específica para tudo isto? A formação é essencial. Temos visto que os jovens se adaptam melhor e mais rapidamente. A tecnologia pode ser a chave para atrair uma nova geração para o campo. Embora ainda haja poucos jovens na agricultura, esta nova realidade poderá mudar isso.
Acha que esta transformação pode rejuvenescer o setor agrícola?
Absolutamente. Antigamente, quem ficava no campo era quem não estudava. Agora, com IA, biotecnologia, software de gestão hídrica, são os mais preparados que querem ficar. Operar máquinas agrícolas com IA exige conhecimento e formação. A agricultura está a tornar-se uma profissão de bata branca.
Pode a inteligência artificial humanizar a agricultura?
Se colocarmos sempre o ser humano no centro da tecnologia, sim. A IA pode ajudar-nos a cuidar melhor da terra, da saúde pública e do planeta. E esse é o nosso grande objetivo.

