Em Santarém, a Asfertglobal desenvolve soluções sustentáveis para uma agricultura em transformação. A empresa abriu-nos as portas e mostrou como, entre laboratórios, estufas de ensaio e uma linha de produção automatizada, a investigação científica se transforma em ferramentas concretas para os agricultores em mais de 30 países.

À entrada do edifício, somos recebidos por Joana Lisboa, diretora de marketing. É ela quem dá as primeiras explicações: A Asfertglobal dedica-se ao desenvolvimento de biofertilizantes, bioestimulantes e soluções de biocontrolo, resultado de um forte investimento em I&D. A equipa multidisciplinar integra biólogos, microbiólogos, agrónomos e químicos, trabalhando em estreita colaboração com instituições científicas de renome, como a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

“O nosso modelo de negócio assenta em criar valor para os agricultores, desenvolvendo soluções sustentáveis e tecnológicas que não só aumentam a eficácia e o rendimento das culturas agrícolas, como também reduzem o custo de produção e minimizam o impacto ambiental”, refere Joana Lisboa. Sediada em Santarém, a empresa está presente em 36 países e conta com filiais no México, África do Sul e Espanha. Ao nível de parcerias científicas, mantém atualmente cerca de 12 protocolos de colaboração com universidades e centros de investigação como o INIAV, ITQB, Universidade do Minho e o Politécnico de Santarém.

Paulo Iria Antunes, diretor comercial

A aposta na internacionalização é evidente.

Paulo Iria Antunes, diretor comercial, destaca o foco da Asfertglobal na expansão internacional, com um crescimento consolidado em mercados como os Estados Unidos, México, Chile, Turquia, África do Sul e agora também na região Ásia-Pacífico.

“Estamos a entrar em mercados complexos como as Filipinas, Malásia, Tailândia, Indonésia e Coreia do Sul. Na Europa, estamos a consolidar a nossa presença em Espanha, Itália, França, Bulgária e Polónia”, afirma o diretor comercial, sublinhando que o foco está em compreender as necessidades específicas dos agricultores locais e oferecer soluções adaptadas.

“O nosso diferencial é o conhecimento profundo do microbioma do solo e a preocupação constante com a sustentabilidade, a redução de resíduos e a criação de soluções personalizadas para situações de stress biótico e abiótico”, acrescenta.

Investigação com propósito e inovação contínua

Joana Lisboa, diretora de marketing e Joaquim Sousa Machado, diretor de I+D

Por sua vez, Joaquim Sousa Machado, diretor de I+D, reforça a importância da investigação na resposta aos novos desafios da agricultura, como as alterações climáticas e a necessidade de produção com menor pegada ambiental.

“O objetivo da nossa investigação é trazer ferramentas que ajudem os agricultores a terem culturas mais resilientes. Hoje, produzir com qualidade já significa produzir sem resíduos”, destaca.

“A Asfertglobal é quase um sinónimo de inovação, desde as universidades até à produção industrial, e isso é possível graças a um investimento contínuo, como por exemplo a criação da estação experimental Kiplant Lighthouse”, argumenta Joaquim Sousa Machado.

“Aqui fazemos todo o percurso, desde o laboratório até à produção industrial dos microrganismos”.

Na BIOSCALE, unidade spin-off do Grupo da Asfertglobal encontramos Luís Carvalho e Ana Soares, investigadores. Ali desenvolve-se e produz-se toda a gama de biofertilizantes e bioestimulantes microbianos da empresa. “Aqui fazemos todo o percurso, desde o laboratório até à produção industrial dos microrganismos”, partilha o investigador Luís Carvalho. Os projetos de investigação decorrem em estreita colaboração com universidades de referência: “Neste momento estamos a trabalhar com a Universidade de Lisboa num produto biológico para aumentar a resistência das plantas à falta de água (…). Já com a Universidade do Minho, o foco é encontrar uma solução biológica para o fogo bacteriano da pera rocha”, exemplifica. No laboratório, Ana Soares descreve o processo: “Isolamos estirpes de bactérias a partir de amostras de solo ou plantas, e depois caracterizamo-las quanto à sua capacidade de promover o crescimento ou proteger contra agentes patogénicos”. Uma das estratégias passa por simular condições de stress hídrico em meios de cultura para selecionar as estirpes mais resistentes.

Depois de selecionadas, as estirpes são conservadas a -80 °C e servem de base para a produção. A multiplicação segue várias etapas, desde incubadores orbitais até bioreatores industriais. “No final, conseguimos atingir concentrações superiores a 10 mil milhões de bactérias por mililitro”, refere Luís Carvalho. Esse produto final será depois incorporado nos biofertilizantes destinados ao mercado agrícola.

Estufa de investigação Kiplant LightHouse

Patrícia Correia (esquerda) e Cristiana Carvalho (direita) integram a equipa do Kiplant Lighthouse. Ao centro, Joana Lisboa

Na estação experimental da Asfertglobal, Patrícia Correia e Cristiana Carvalho integram a equipa do Kiplant Light thouse, dedicada à realização de ensaios de eficácia dos produtos desenvolvidos pela empresa. “Fazemos os ensaios em vaso correspondente, às diferentes etapas de desenvolvimento de produto”, explica Patrícia Correia, investigadora sénior.

Para garantir a precisão dos resultados, utilizam um equipamento de fenotipagem digital. “O equipamento tem duas câmaras: uma multiespectral e outra que cria imagens 3D. As imagens 3D são calculadas por algoritmos que analisam a parte verde da planta, permitindo determinar parâmetros morfológicos. Já a câmara multiespectral calcula parâmetros fisiológicos, como o NDVI ou outros relacionados com a clorofila”, detalha a investigadora.

Os dados recolhidos são associados a cada planta e reunidos num ficheiro de metadados, que serve de base para a avaliação da eficácia dos produtos. Esta tecnologia permite acompanhar em detalhe o efeito dos diferentes tratamentos — sejam eles ao nível do crescimento, com foco nos bioestimulantes, ou da saúde da planta. “Se fizéssemos isto manualmente, como antigamente, só conseguíamos realizar um ensaio de cada vez, e durava imenso tempo”, comenta ainda Patrícia Correia.

Este processo estruturado permite acelerar o desenvolvimento. “Conseguimos monitorizar vários ensaios corretamente e recolher uma panóplia de parâmetros que respondem a objetivos distintos. Isso ajuda-nos a lançar produtos mais depressa”, afirma. Ainda assim, lembra que “a meta da empresa é lançar um produto por ano, o que é muito difícil, tendo em conta que o desenvolvimento de um produto, especialmente microbiano, nunca demora menos de cinco anos”.

Sobre o processo científico, Patrícia Correia sublinha: “Na ciência, temos um propósito, mas muitas vezes, esse caminho leva-nos a descobertas inesperadas. Procuramos um bioestimulante e acabamos por encontrar efeitos noutros parâmetros”.

A investigação é feita tanto internamente como em colaboração com universidades e inclui culturas como tomate, milho e morango. “Tentamos sempre responder aos desafios específicos de cada cultura”, conclui.

Por conseguinte, a investigadora júnior Cristiana Carvalho reforça a importância da tecnologia para a fiabilidade dos ensaios: “Permite-nos obter dados com maior precisão e conclusões muito mais assertivas sobre a eficácia dos nossos tratamentos”.

Cristiana Carvalho também destaca que a escolha das culturas é estratégica. “O equipamento tem exigências específicas, como o tipo de folha. O milho, por exemplo, permite uma leitura mais correta ao longo do tempo, o que evita erros experimentais”, diz.

A investigadora salienta a importância da recolha detalhada de dados complementares: “Além do equipamento de monitorização, fazemos análises finais sobre o desenvolvimento das plantas – medindo biomassa, crescimento vegetativo, tanto da parte aérea como da raiz”.

Unidade de produção com elevada capacidade

A visita terminou na unidade de produção da Asfertglobal, onde se concretiza o processo industrial dos produtos. A empresa tem atualmente capacidade instalada para produzir 26 mil litros de produtos líquidos e 16 toneladas de produtos sólidos por dia.

→ Leia este e outros artigos completos, na Revista Voz do Campo  edição de agosto/setembro 2025, disponível no formato impresso e digital.

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