Autoria:

Inês Carolino 1, Susana Lopes 2, Fátima santos Silva 1, Conceição Oliveira e Sousa 1, João Almeida 1 e Nuno Carolino 1,3 

1Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária

2AMIBA

3Escola Universitária Vasco da Gama

Introdução:

Em Portugal estão oficialmente reconhecidas 4 raças autóctones de galinhas: Preta Lusitânica, Amarela, Pedrês Portuguesa e Branca. Estas raças são caracterizadas pela sua diversidade genética, elevada rusticidade e invulgar beleza.

As 4 raças autóctones são criadas em todo o País, mas em número reduzido (menos de duas mil fêmeas por raça criada em linha pura), estando, por isso, consideradas em risco de extinção.A gestão do Registo Zootécnico/Livro Genealógico das referidas raças é da responsabilidade da AMIBA, bem como dos respetivos programas de conservação/melhoramento. A AMIBA, a par do apoio técnico que presta aos seus criadores, tem efetuado trabalhos de caracterização genética das raças, recolha e crio-conservação de sémen (conservação in vitro), caracterização produtiva através de controlos de performance e contrastes de postura, pesquisa de salmonela em algumas das explorações, promovendo e divulgando as raças através de exposições e concursos.

Os criadores podem candidatar-se a medidas de apoio à produção e conservação, no âmbito dos Programas de Desenvolvimento Rural do continente (PRODER/ PDR).

A Fonte Boa, é um Pólo do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I. P., (INIAV, I. P.), situado em Santarém, com responsabilidades de investigação e desenvolvimento experimental nos vários domínios da produção animal e onde está sediado o Banco Português de Germoplasma Animal (BPGA), pelo que parte das suas atividades passam pela defesa, caracterização, conservação e utilização sustentável dos recursos genéticos animais.

Neste sentido, o INIAV estabeleceu um protocolo com a AMIBA, de forma a constituir na Fonte Boa, um efetivo base das 4 raças galináceas nacionais, para o estudo e conservação, de acordo com os respetivos programas de conservação/ melhoramento genético. O efetivo das 4 raças existentes na Fonte Boa foi constituído em dezembro de 2012.

Sistema de Exploração

As raças autóctones de galinhas são exploradas em sistemas tradicionais de criação, com os animais em liberdade, em capoeiras e/ou ao ar livre. Alimentam-se de grão, erva, couves e outros produtos excedentários das explorações, com liberdade para escolher o que pretendem comer. Os animais são extremamente rústicos, e de fácil criação, com boas qualidades maternas, para a incubação natural.

Este tipo de produção avícola traz benefícios do ponto de vista da sustentabilidade social e ambiental. Exige reduzido consumo de água, e de medicamentos, e não causa problemas relacionados com a emissão de efluentes, gases e odores, pelo que tem diminuto impacto ambiental. Desta forma, os agricultores têm ao seu dispor uma carne e ovos de ótima qualidade, produzidos a baixo custo e sem impacto negativo para o meio ambiente.

Produtos

As raças são de aptidão mista, criadas essencialmente com vista à produção de carne e ovos de elevada qualidade. Os animais destas raças apresentam um desenvolvimento tardio, em que as galinhas iniciam a postura com cerca de 5/6 meses e os frangos atingem em média 1,5Kg aos 3/4 meses, consoante a raça e a alimentação.

As penas são utilizadas para o fabrico das plumas na pesca da truta. As penas são provenientes de pescoços ou rabos de galo, e pelas suas características garantem a flutuabilidade e tornam a pluma mais atrativa.
A AMIBA tem como um dos objetivos para estas 4 raças a introdução da sua carne e dos seus ovos num circuito comercial devidamente organizado e estruturado, com bases sólidas para a sua manutenção e desenvolvimento.

A Carne

O consumo de carne de frango tem aumentado nos últimos anos, devido sobretudo à substituição de outro tipo de carnes. A carne de aves é rica em proteínas, com um reduzido conteúdo de gordura e vendida a um preço relativamente mais baixo que as carnes de outras espécies.

A carne destes animais é de notável textura, cor e sabor, muito utilizada na confeção de alguns pratos característicos da gastronomia tradicional portuguesa, como os famosos cozido à portuguesa e o arroz de cabidela, e o galo capão tão apreciado na época do Natal. No circuito comercial, estes animais são do ponto de vista do consumidor atual muito atrativos, constituindo uma mais-valia económica para o produtor.

O Ovo

Ao longo dos últimos anos, o ovo foi alvo de mitos e dúvidas, que o tornaram num alimento desaconselhado, principalmente para pessoas que sofriam de colesterol alto. No entanto, estudos recentes mostram que o nível de colesterol em seres humanos depende da quantidade de gordura saturada que consumimos. O ovo produzido em sistemas tradicionais de campo, tem sobretudo gorduras insaturadas e monosaturadas (o “bom” colesterol).

O ovo é constituído por três elementos: a casca, a clara e a gema. A casca é composta principalmente de cálcio e é revestida de duas finas membranas. A clara e a gema têm uma percentagem de água elevada (cerca de 85% e 50%, respetivamente) e são muito ricas em proteínas, como a albumina. Contêm também algumas gorduras, como o colesterol, vitaminas e diversos minerais.

Os ovos são reconhecidamente uma grande fonte de proteína e de várias vitaminas, nomeadamente a vitamina A e muitas vitaminas do complexo B (ácido fólico, biotina e colina), elementos essenciais ao bom funcionamento do cérebro, sistema nervoso e sistema cardiovascular. Os seus benefícios são inúmeros, sobretudo na dieta de crianças e idosos, com exigências maiores de reposição das necessidades nutricionais. Na verdade, poucos alimentos compartilham da riqueza de composição de nutrientes que está disponível no ovo.

Investigação

A Fonte Boa- INIAV, tem por objetivo a investigação, preservação, melhoramento e divulgação destas 4 raças, pretendendo com este núcleo, contribuir para a conservação do património genético animal de Portugal. Desde a constituição deste efetivo avícola, têm sido registados o peso vivo dos animais, a postura ao longo do ano, bem como a fertilidade dos ovos.

Num futuro próximo, pretende-se desenvolver um projeto de investigação para caracterizar mais especificamente a qualidade da carne e ovos, no que respeita ao seu valor nutricional e das qualidades organoléticas.

Relativamente ao novo programa de desenvolvimento rural (PDR) o INIAV continua em estreita colaboração com a AMIBA, relativamente à execução das ações de conservação e melhoramento genético, nomeadamente na caracterização genética por análise de ADN e a caracterização demográfica das 4 raças nacionais.

Por seu lado a AMIBA, pretende dar continuidade às ações relativas à avaliação do potencial reprodutivo dos galos, aumentando a colheita, diluição e crio-conservação de sémen dos galos de raças autóctones, com a finalidade de integração de doses de sémen destas raças no Banco Nacional de Germoplasma Animal e a sua possível utilização em ações de Inseminação Artificial.

Artigo completo publicado na Revista Voz do Campo – edição n.º 176 (outubro 2014).

Bibliografia:
https://www.amiba.com.pt
Livro do Ovo – Companhia Avícola do Centro (CAC) https://www.observatorioagricola.pt/item.asp?id_item=103
DGAV – https://www.dgv.min- agricultura.pt/portal/page/portal/DGV/ genericos?generico=1324571&cboui=1324571
Livro raças autóctones Portuguesas, 2013. Edição da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária.

1Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária; Polo de Investigação da Quinta da Fonte Boa; 2005-048 Vale de Santarém: www. iniav.pt
2AMIBA, Quinta do Penedo – Apartado 54, Lugar do Souto – Lanhas 4730-260 – Vila Verde; www.amiba.com.pt
3Escola Universitária Vasco da Gama; Av. José R. Sousa Fernandes – Campus Universitário, Bloco B – Lordemão, 3020-201 Coimbra; www.euvg.pt

Subscreva a Revista Voz do Campo e mantenha-se atualizado todos os meses: