Atualmente a Sugal Group, fundada em 1957 na Azambuja, tem cinco fábricas a operar em três países: duas fábricas em Portugal, duas fábricas no Chile e uma em Espanha.

É também nesses países que detém campos próprios de produção, na ordem dos 3.500ha no total. Uma produção que representa 20 a 30% nas necessidades de toda a indústria do Grupo daí que desenvolva também fortes relações de parceria com outros produtores, de forma a manter a competitividade da fileira.

João Ortigão Costa

Em Entrevista, João Ortigão Costa da Sugal Group explica-nos ainda que o Grupo processa mais de 1,8 milhões de toneladas de tomate fresco por ano, sendo o único a nível mundial a ter produção relevante nos dois hemisférios.

O que é atualmente a Sugal?

A Sugal foi fundada em 1957 na Azambuja, onde foi construída a sua primeira unidade de produção. Atualmente o Grupo tem cinco fábricas a operar em três países: duas fábricas em Portugal, duas fábricas no Chile e uma em Espanha.

Processa mais de 1,8 milhões de toneladas de tomate fresco por ano, sendo o único a nível mundial a ter produção relevante nos dois hemisférios. Cerca de 20- 30% do tomate provém de campos próprios, tornando a Sugal num dos poucos players mundiais presentes em toda a cadeia de valor.

O Grupo exporta quase 95% dos seus produtos para mais de 70 países, destacando-se: a pasta de tomate, puré de frutas, tomates em pedaços e pelados e ainda molhos à base de tomate.

A escolha das variedades deve obedecer a um racional de otimização de toda a cadeia – cliente final, indústria e agricultor.

Enquanto produtores, em que regiões o fazem e que áreas?

O Grupo tem campos próprios nas três regiões e este ano estimamos atingir cerca de 3.500ha no total, o que representa um crescimento de mais de 30%.

Quais as variedades de eleição e porquê?

A escolha das variedades deve obedecer a um racional de otimização de toda a cadeia – cliente final, indústria e agricultor. Só assim é possível estabelecer verdadeiras parcerias, fomentar o aumento das produtividades no campo, na fábrica e no rendimento fabril dos nossos clientes, bem como ir ao encontro das especificações dos produtos. Pretender selecionar as variedades apenas na ótica de um dos elementos da cadeia não é sustentável. Cada variedade cumpre objetivos específicos (por exemplo: período de plantação, programas especiais de produção ou cor) e é a gestão adequada desse portefólio que nos guia.

Há novas variedades em investigação? No campo, que inovação tecnológica tem vindo a ser introduzida?

Há muitos anos que reiteradamente temos vindo a realizar testes com parceiros visando precisamente a criação de valor em toda a cadeia. No final de 2019 foi dado um passo muito importante, com a criação do Centro de Excelência – AG-INNOV – que visa, de forma estruturada, com método científico e com base nas melhores técnicas internacionais, otimizar a sustentabilidade e o desenvolvimento do setor do tomate através de inovação, demonstração e disseminação de conhecimento. Neste âmbito, estão a ser realizados diversos trabalhos, designadamente: teste de fertilizantes e redução do seu uso; testes de variedades; culturas de cobertura e ensaios de colheita tardia.

  • Capacidade transformadora das fábricas

• Portugal: 12.000 ton/dia

• Espanha: 4.400 ton/dia

• Chile: 12.000 ton/dia

Que análise pode ser feita da última campanha e como se perspetiva a próxima?

A campanha de tomate de 2020 em Portugal apresentou uma quebra na ordem dos 15%, face à campanha de 2019, em consequência da diminuição da área instalada, bem como da produtividade média, para valores próximos das 91 toneladas por hectare (97,5 toneladas por hectare em 2019, a campanha com maior rendimento unitário desde que existem registos sistemáticos), segundo dados do INE. Em resumo, foi um ano duro, em particular para os agricultores. Em resposta às circunstâncias do ano passado, este ano deverá ocorrer uma melhoria das condições de contratação. Com a melhoria das condições e se houver um planeamento e execução adequados da cultura, as perspetivas de 2021 deveriam ser positivas e levar a um incremento de área e produtividades.

A produção é suficiente para as vossas necessidades?

Não. Em particular em Portugal, acreditamos que há muito espaço para melhorar e crescer na produção agrícola, nomeadamente através do aumento da produtividade por hectare. A nossa estratégia passa pelo crescimento constante e sustentável das nossas operações e como acreditamos que Portugal tem esse potencial, queremos continuar a investir para o crescimento da cultura.

Que papel tem a Sugal junto dos produtores?

A Sugal quer contribuir cada vez mais para a sustentabilidade e competitividade da fileira, em particular dos produtores agrícolas através de relações de parceria mais fortes. Só com relações win-win entre produtores e indústria em matéria de inovação e conhecimento técnico será possível manter a competitividade da fileira.

Quais os produtos que têm mais peso?

Não obstante o crescimento que temos registado no segmento B2C, o segmento B2B (essencialmente concentrado de tomate) é onde se concentra a maioria da atividade comercial do Grupo.

Quais as tendências de consumo?

Os produtos à base de tomate mantêm uma tendência de consumo positiva, muito devido às propriedades nutricionais da matéria-prima, a sua componente saudável e o elemento de frescura do produto (apenas sujeito a processo térmico para concentração e conservação). A tendência de consumo será ter produtos com sabor mais próximos do tomate fresco e por isso colocam o desafio à industria de trabalhar variedades e processo produtivos que preservem as características organoléticas do tomate.

Existem três desafios adicionais importantes para o setor: alterações climáticas e gestão de recursos hídricos; equidade em matéria de incentivos, quer ao nível de países produtores, quer entre culturas e ainda coordenação e alinhamento estratégico de toda a cadeia sobre os drivers de crescimento sustentável, cujo foco deve ser a qualidade e a eficiência, através de mais e melhor I&D.

A pandemia está a trazer mudanças de consumo?

Sim, claro. Por um lado, vê-se uma redução acentuada do consumo fora de casa e, no que nos diz respeito, o segmento de foodservice tem sido impactado. Por outro lado, em sentido inverso, verificam-se crescimentos muito acentuados nos segmentos de produto para consumo em casa (polpas, molhos, passatas, cubos/ pedaços), que mitiga a redução do consumo fora de casa. No entanto, se há algumas tendências que deverão manter-se, a perspetiva é que gradualmente se regresse aos padrões de consumo conhecidos à medida que as economias forem reabrindo.

Há novos produtos previstos para breve?

Todos os anos temos vindo a inovar e lançar novos produtos, seja com a ‘Guloso’, seja com produtos para os nossos clientes. Na Guloso começámos o ano com o lançamento de quatro novas polpas sabores e estão previstos novos lançamentos para o 1º e 2º semestre do ano.

Que grandes projetos têm em mãos?

O nosso principal foco é a sustentabilidade em toda a cadeia de produção. Enquanto empresa que opera e transforma uma matéria-prima natural, a sustentabilidade económica, social e ambiental é um aspeto chave para o sucesso da empresa e do setor como um todo. Nesse sentido, o investimento é cada vez mais direcionado para potenciar o AG-INNOV em parcerias que contribuam para uma maior preservação do meio ambiente e dos solos, para uma melhor e mais eficiente utilização de recursos (água e energia), e um foco cada vez maior na frescura e na componente saudável dos nossos produtos.

Quais são as principais dificuldades da fileira?

O mercado do tomate de indústria é global e altamente competitivo, estando atualmente sobredimensionado para a procura existente, ou seja, existe capacidade excedentária de transformação, gerando enorme pressão sobre os custos.

A fileira do tomate de indústria em Portugal tem demonstrado resiliência e capacidade de adaptação. Para além do desafio que é operar num mercado com excesso de capacidade existem três desafios adicionais importantes para o setor: alterações climáticas e gestão de recursos hídricos; equidade em matéria de incentivos, quer ao nível de países produtores, quer entre culturas e ainda coordenação e alinhamento estratégico de toda a cadeia sobre os drivers de crescimento sustentável, cujo foco deve ser a qualidade e a eficiência, através de mais e melhor I&D.

→ Leia a entrevista completa na edição de fevereiro de 2021

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