José Oliveira Presidente da AlgarOrange

A AlgarOrange – Associação de Operadores de Citrinos do Algarve – é uma associação empresarial sem fins lucrativos, criada em 2018 quando a produção sentiu necessidade de procurar novos mercados no exterior. Hoje conta com mais de uma dezena de operadores associados que no seu conjunto atingem um volume de negócios na ordem dos 100 000 000 de euros.

Do total desse valor há uma percentagem de 25% obtida no mercado externo e para o qual a IGP – Citrinos do Algarve já é quase uma condição obrigatória. E o presidente da AlgarOrange, José Oliveira, acredita que num futuro próximo a certificação IGP será mesmo condição base para se comercializar.

José Oliveira, Presidente da AlgarOrange

Fale-nos um pouco sobre a necessidade da criação da AlgarOrange e como é que se caracteriza nos dias de hoje?

A AlgarOrange foi criada pela necessidade sentida pela produção na procura de novos mercados no exterior que pudessem ser uma mais-valia. Naturalmente que o objetivo era criar condições para fazer a promoção dos Citrinos do Algarve nos mercados exteriores.

Quem são os seus associados?

A Cacial; Cordeiro & Filhos; Frusoal; Frutalgoz; Frutarade; Frutas Lurdes; Frutas Tereso; Inácio Machado; Lisboa Correia; Martifruta; Matinhos Hortofruticultura e Mediterrâneo Dourado.

Qual é o volume de negócios anual estimado desses associados?

É de 100 000 000 de euros.

Que percentagem desse valor se destina à exportação? E quais os principais mercados?

Será 25%. Que segue para França, Alemanha, Suíça e Canadá.

Falamos só de fruta fresca, ou também transformação?

Só de fruta fresca.

Em que ponto está o projeto de internacionalização da AlgarOrange?

Infelizmente a AlgarOrange viu-se forçada a deixar cair o projeto de internacionalização pois devido à pandemia do covid19 as ações previstas tornaram-se praticamente impossíveis de realizar. Falamos de visitas a feiras internacionais, presença em mercados de outros países, ações de promoção junto de turistas nos aeroportos e sessões de “show cooking” com especialistas internacionais. Com o retomar da atividade normal é vontade da AlgarOrange promover um novo projeto a aprovação.

Que condições reúne o Algarve que tornam a região tão apta à produção de citrinos?

As condições passam naturalmente pelo clima, pelos solos e também pelo facto de na região se fazerem sentir os ventos atlânticos.

Dentro dos vários citrinos, qual é a espécie mais representativa?

A laranja é sem dúvida alguma a espécie mais representativa.

A Indicação Geográfica Protegida ‘Citrinos do Algarve’ tem sido uma mais-valia para produtores e operadores?

A IGP – Citrinos do Algarve, é antes de tudo uma garantia de qualidade junto dos consumidores. O selo IGP dá a garantia da origem, dos métodos de produção integrada que validam o respeito pelo ambiente, pela eficiência da rega e pela utilização dos melhores fatores de produção.

Esta garantia que os consumidores querem é a grande mais-valia que a IGP traz à produção, e para exportar é praticamente obrigatória. Pensamos que num futuro próximo a certificação IGP será condição base para se comercializar.

Embora a AlgarOrange represente os Operadores de Citrinos do Algarve, não está desligada da produção, qual tem sido a evolução desta?

Na AlgarOrange “Operadores de Citrinos” são produtores, embaladores, comercializadores e transformadores. As empresas embaladoras/comercializadoras têm obrigatoriamente de ter produção própria.

A produção de citrinos no Algarve tem tido uma evolução muito grande na aquisição de “conhecimento” através da chegada de jovens empresários e sobretudo com a integração de jovens técnicos formados principalmente na Universidade do Algarve.

Hoje a produção dos principais intervenientes é acompanhada e orientada por esses técnicos, o que tem vindo a traduzir-se num aumento significativo da produtividade e naturalmente da qualidade.

O Algarve tem hoje cerca de 16 000 hectares de plantações de citrinos que representam 75% da área de citrinos do país. A sua produção atinge as 370 000 toneladas que representam 87% da produção de citrinos em Portugal. A produtividade no Algarve está nas 23 ton/ha enquanto no resto do país se situa nas 10 ton/ha.

Que balanço pode ser feito da atual campanha?

A campanha 2021/2022 pode caracterizar-se por uma produção acima da de um ano normal, com grandes dificuldades na comercialização quer em termos de preços quer em termos de escoamento.

Com várias preocupações do ponto de vista fitossanitário, quais são as mais prementes e que impacto está a ter na cultura a retirada de substâncias ativas do mercado?

As maiores preocupações que o setor sente atualmente são a praga da mosca da fruta (ceratitis capitata) e a grande ameaça que representa o aparecimento da Trioza erytreae na região.

Enquanto não for possível pôr em prática um plano integrado de combate à mosca da fruta o setor continuará a sentir grandes perdas económicas com a queda dos frutos depois de serem picados pela mosca. Este plano terá que englobar a utilização de meios químicos, meios biológicos com a utilização de machos estéreis através de soltas massivas na região e a monitorização da incidência da praga de forma a promover as ações de luta no início. Para que isto seja possível será necessário a realização do cadastro dos citrinos na região, isto é, conhecer áreas de implantação, variedades, idades e porta-enxertos e também de outras espécies hospedeiras da mosca.

A Trioza erytreae é o vetor de propagação da doença do greening, também conhecido como huanglongbing e HLB, ataca todos os tipos de citrinos e não há cura para as plantas doentes. Se a doença chegar ao Algarve estaremos certamente a falar da morte da citricultura da região.

É impossível não falar do tema ‘água’ e seca. Estamos praticamente a meados de março, qual é a situação no Algarve, em particular para os citrinos? Que cenários futuros podem ser esperados?

Apesar da chuva dos últimos dias a questão da água permanece como uma grande ameaça para todo o regadio da região. Esta chuva teve naturalmente impacto nas culturas, mas não tem significado do ponto de vista da acumulação nas barragens. Enquanto não forem implementadas as medidas já previstas no PRR a situação mantém-se sempre na esperança que chova.

Do nosso ponto de vista, continua a ser necessária a construção de uma nova barragem na ribeira da Foupana e outros açudes mais pequenos na serra algarvia.

O problema da água tem que ser encarado estrategicamente de forma a aumentar a capacidade de acumulação e não apenas de melhorar a eficiência na utilização do que já existe (…).

→ Leia a entrevista completa na edição de abril 2022 da Revista Voz do Campo.